Ouvindo...

É de sonho e de pó

O clima de fim de ano condensa os sentimentos mais diversos

Confira a coluna do Padre Samuel Fidelis

O clima de fim de ano condensa os sentimentos mais diversos. Há um misto de alegria por tudo que se pôde passar e, ao mesmo tempo, a sensação, meio agridoce, de que o tempo nos foge. Seria cada ano um tempo a mais ou a menos? Bom, isso depende da quantidade de vodka já ingerida ou da percepção de cada sujeito diante da vida.

Claro, ninguém, em sã consciência, na noite de Ano Novo deve ter reflexões profundas sobre o que é a vida. As festas de Fim de Ano tem a prerrogativa da futilidade... Todavia, vale a pena, de vez em quando, pergunta-se sobre qual o sentido de tudo o que se vive.

A consciência de que a vida é um sopro, num primeiro momento, nos aniquila. Ao mesmo tempo, confrontar-se com o fato de que temos um parentesco com o “nada”, de que os anos passa e nós também assim passamos, transforma-nos. É certo que a assunção do “nada” permite o surgimento dos espaços vazios e angustiantes, mas criativos...

Um pouco de despretensão e vazio faz bem. Esse é, sem dúvida, um remédio para a sociedade contemporânea, tão marca pelo senso de “urgência”, ao mesmo tempo que com pouco espaço para o que é importante.

Em temos de tanto consumo, acúmulo, exagero, vale a pena comparecer diante da simplicidade do “instante”. A verdadeira substância da vida humana, não é o passado, com seus equívocos, nem o futuro com suas ansiedades, mas o “instante”. Parafraseando o poeta: se não pode ser infinito, posto que é chama, o instante que constitui o existir humano de modo mais autêntico, seja imortal enquanto dure.

Shakespeare disse que somos feitos da mesma matéria dos sonhos. Fiquemos, contudo, com reverente heresia ao Bardo, também com Renato Teixeira (de preferência na voz de Elis Regina!): é de sonho sim, mas também de pó, o nosso destino de homens sós!

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Estamos à portas de uma estação dessa Romaria que é a vida. Peçamos, em prece, paz para os “desaventos”. Cabe-nos rezar, por dias melhores . É que não é possível ser feliz o tempo todo num mundo em que existam boletos, sogras, vizinhos chatos, áudios de cinco minutos...

Que não nos falte a fé, neste ano que chega. “A fé não costuma faiá"! Peçamos que nos seja dada “fé em Deus, fé na vida”. Crer em Deus traz ao coração a paz de saber-se amado, cuidado a cada instante, no sagrado avesso que é o existir. Crer na vida é condição de possibilidade para atrair o que há de melhor a nós.

Que os céus nos abençoem com saúde, paz, bons propósitos, lucidez... Só um insensato esperaria, na virada do ano, algo de diferente quando tudo tende a ser tão igual. Só alguém muito tolo e frustrado não confiaria que o que há de mais surpreendente ainda está por vir.


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Pró-reitor de comunicação do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. Ordenado sacerdote em 14 de agosto de 2021, exerceu ministério no Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu, em Belo Horizonte.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.