O dia 15 de dezembro, dedicado à Mulher Advogada, destaca um capítulo importante da história jurídica brasileira, remetendo à trajetória de Myrthes Gomes de Campos, pioneira que, no início do século XX, rompeu barreiras ao se tornar a primeira mulher a exercer a advocacia no país, abrindo caminho para que, em um ambiente dominado por homens, futuras gerações de mulheres conquistassem espaço no Direito.
Destaca-se que, nas últimas décadas, a participação feminina na advocacia cresceu de forma expressiva, tornando-se as mulheres maioria nas salas de aula, ampliando sua presença em escritórios de diferentes portes, assumindo cargos públicos e ocupando funções estratégicas em diferentes esferas do sistema jurídico.
Referida ampliação, entretanto, convive com desafios estruturais que ainda restringem o pleno exercício da profissão, sendo que a desigualdade na ocupação de posições de liderança, a diferença de reconhecimento e as resistências culturais evidenciam que a paridade não se limita à presença numérica.
Desse modo, a rotina forense revela que as barreiras sustentadas por práticas machistas ainda persistem no ambiente jurídico, convivendo as mulheres com atitudes que impactam seu exercício profissional, como interrupções durante sustentações e audiências, comentários sobre aparência ou comportamento, dúvidas quanto à firmeza de suas posições e até a presunção de inexperiência apenas pelo fato de serem mulheres.
Soma-se a isso a expectativa social de que assumam a maior parte das responsabilidades familiares, o que torna a conciliação entre carreira e vida pessoal mais extenuante e evidencia que, apesar das conquistas, o caminho rumo à plena igualdade ainda exige enfrentamento constante.
Ao mesmo tempo, a presença crescente de mulheres em áreas antes dominadas por homens evidencia uma transformação consistente no ambiente jurídico, com profissionais que hoje ocupam posições de destaque em grandes bancas, lideram departamentos jurídicos, integram conselhos decisórios, ampliam sua atuação na esfera pública e fortalecem a produção acadêmica, contribuindo para debates contemporâneos e influenciando a evolução legislativa e jurisprudencial, movimento que reafirma não apenas a alta qualificação dessas advogadas, mas a reconfiguração gradual de um espaço que historicamente lhes foi negado
Assim, o Dia da Mulher Advogada evidencia essa trajetória de avanços e desafios, ressaltando o papel das profissionais que, diariamente, atuam na defesa de direitos, na mediação de conflitos e na construção de soluções jurídicas que impactam diretamente a sociedade. A data destaca, ainda, a importância de ações institucionais que promovam ambientes mais igualitários, com oportunidades compatíveis com a atuação crescente das mulheres no setor.
Ao reconhecer a contribuição feminina para a advocacia brasileira, o dia 15 de dezembro reforça a necessidade de visibilidade e valorização dessas profissionais, sendo que a presença das mulheres no Direito não apenas acompanha a evolução da sociedade, como também impulsiona mudanças importantes em direção a um sistema jurídico mais representativo.