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Avenida de BH onde estudante morreu teve quase 500 acidentes em sete meses

Número de vítimas em razão de acidentes na Avenida Nossa Senhora do Carmo, uma das principais da capital, passa de 40 neste ano

Câmera registra o momento do acidente que matou jovem

A Avenida Nossa Senhora do Carmo, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, continua sendo palco de graves acidentes — o mais recente vitimou a estudante de jornalismo Brunna Rosas e deixou feridos o namorado, de 26 anos, e um amigo, de 36, no último domingo (7). Mas o caso não é isolado: somente entre janeiro e julho deste ano, a via registrou uma média de 1,3 acidentes por dia, de acordo com dados do Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais levantados pela Itatiaia nesta terça-feira (9). São três óbitos confirmados em sete meses.

O número de acidentes com vítimas em uma das principais vias da capital cresceu nos últimos anos: foram 38 ocorrências entre janeiro e julho de 2023, 34 no mesmo período de 2024 e 44 em 2025, um aumento de 29,4% em relação ao ano passado.

O total de ocorrências também segue em alta: 422 em 2023, 465 em 2024 e 493 em 2025, considerando apenas os sete primeiros meses. No acumulado anual, os números passaram de 748 acidentes em 2023 para 832 em 2024, uma elevação de 11,2%.

De rodovia para corredor urbano

Segundo o consultor em transporte e trânsito Silvestre de Andrade, a explicação está no aumento do fluxo de veículos — algo perceptível para quem passa muito tempo parado no trânsito.

“Por ser uma via de tráfego intenso e de grande importância para a cidade, a probabilidade de acidentes é maior em comparação a outras regiões”, avaliou.

Ele lembra que a transformação da antiga via de saída de Belo Horizonte em corredor urbano, cercado por casas, escritórios, escolas e hospitais intensificou o movimento. “A expansão em direção a Nova Lima e ao Jardim Canadá, com centros de eventos e novas atividades, agravou ainda mais a situação. Sem a devida adequação viária, esse cenário favorece a ocorrência de acidentes”.

Pontos mais perigosos

Durante muito tempo, a chamada Curva do Ponteio foi considerada o ponto mais perigoso da avenida. A instalação de radares e semáforos, no entanto, ajudou a reduzir a velocidade no trecho, de acordo com o especialista.

“Apesar de a geometria da via ainda representar risco — por ser uma curva fechada em descida no sentido Belvedere–Centro —, hoje os cruzamentos e travessias ao longo da avenida concentram maior potencial de acidentes, em função do aumento da circulação de pedestres, veículos e da intensificação do uso da via”, explicou.

Dados de janeiro a julho do Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais

Foi justamente em um desses cruzamentos que ocorreu o acidente do último domingo (7), no encontro da Avenida Nossa Senhora do Carmo com a Rua Rio Verde. Conforme o Boletim de Ocorrência BO), o veículo conduzido pelo namorado de Brunna, de 26 anos, perdeu o controle e colidiu violentamente contra um poste de sinalização, provocando um princípio de incêndio.

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“O acidente de domingo 97) foi em uma dessas interseções”, disse. Além da complexidade do cruzamento, outros fatores aumentam a probabilidade de colisões, como o fato de ter ocorrido de madrugada — período em que, normalmente, há excesso de velocidade.

“Com o tráfego reduzido, a velocidade média aumenta, e os acidentes, quando acontecem, tendem a ser mais graves”, completou.

Dados do Observatório de Segurança de Minas Gerais de janeiro a dezembro

Perfil das vítimas

De janeiro a julho, três pessoas morreram na Avenida Nossa Senhora do Carmo. De acordo com dados da Sejusp, a faixa etária de 18 a 29 anos concentra a maioria das vítimas. Do total de 54 registros, 42 tiveram ferimentos leves, cinco graves e, em dois casos, não houve informação. Entre as vítimas, 38% são homens.

Mortes

O número de óbitos já supera o registrado em todo o ano passado, quando foram duas mortes. De janeiro a setembro de 2024, houve 95 vítimas no total — 72 com ferimentos leves e o restante graves.

Necessidade de novas medidas

Em 2010, após uma sequência de tragédias envolvendo caminhões pesados, foi proibida a circulação de veículos com mais de cinco toneladas de carga ou 6,50 metros de comprimento na avenida. Para especialistas, a medida ajudou a reduzir riscos.

“A proibição de caminhões na avenida é fundamental, pois diminui a chance de acidentes graves pelo peso e impacto desses veículos. Outras medidas, como reforço da sinalização, manutenção de radares e fiscalização constante, também são necessárias. Apesar dos avanços, as ações ainda não foram suficientes, e é preciso ampliar os projetos de segurança viária”, concluiu.

‘Descumprimento da norma’

Por meio de nota, a Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) esclareceu que a Avenida Nossa Senhora do Carmo conta com ampla sinalização e sete pontos com equipamentos de fiscalização eletrônica — para excesso de velocidade, avanço de semáforo, invasão de faixa exclusiva de ônibus, tráfego em local proibido para caminhões e parada irregular sobre a faixa de pedestres.

Além disso, há monitoramento diário no trevo do Belvedere, com agentes orientando condutores sobre as regras de circulação de veículos de carga na via e na área central.

“Toda a sinalização e as ações de fiscalização — eletrônica e também realizadas por agentes da BHTrans, Guarda Municipal e Polícia Militar — são essenciais para ampliar a segurança viária. No entanto, é fundamental que motoristas e pedestres sigam as orientações. Parte dos acidentes e das situações de risco ocorre justamente pelo descumprimento das normas de trânsito na região”, informou o órgão.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.