A Promotoria de Justiça de Contagem instaurou, nesta terça-feira (9), um procedimento para apurar o surto de diarreia em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em 40 dias, as unidades de saúde do município registraram 1.957 atendimentos por gastroenterites e doença diarreica aguda (DDA). Os registros, identificados entre 3 de agosto e 8 de setembro, representam um aumento dos casos, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
A pasta informou à Itatiaia que investiga o possível agente responsável pelo surto e realizou coletas em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). De acordo com a secretaria, os registros contemplam ambos os agravos de forma agrupada, por não ser possível distingui-los separadamente no momento.
À reportagem, o médico Artur Oliveira Mendes, especialista em Medicina de Família e Comunidade, cooperado da Unimed-BH, explicou que a doença diarreica aguda acontece em função de uma irritação na parede do intestino. Já no caso da gastroenterite é quando a irritação ocorre em razão de uma bactéria, que invade a parede do intestino.
“O principal risco da diarreia é a desidratação. A pessoa acaba ficando mais enfraquecida e isso pode levar as situações até as necessidades de hospitalização. Por isso é preciso ficar atento, manter uma hidratação vigorosa e nessa diarreia que não cede, o cujo desconforto é muito intenso, não deixar de procurar o serviço de saúde e não usar remédio por conta própria”, reforçou o especialista.
Além das coletas nas UPAs, a Vigilância Sanitária de Contagem encaminhou uma solicitação oficial à Copasa para disponibilização do plano de amostragem da qualidade da água. “Essas medidas reforçam o compromisso da gestão municipal com a investigação e a proteção da saúde pública”, destacou a Secretária de Saúde de Contagem em nota.
Denúncia ao Ministério Público
Com o aumento nos casos de diarreia, parlamentares pedem análises técnico-sanitárias completas da água fornecida. O vereador Léo da Academia protocolou junto à Promotoria de Justiça de Contagem um pedido em caráter de urgência sobre o aumento de casos de DDA no município.
“A denúncia está relacionada a um possível quadro de contaminação na rede de abastecimento de água. Diversos moradores relataram um forte gosto de barro e mofo na água. Embora a COPASA tenha utilizado carvão ativado no tratamento do Sistema Rio das Velhas e a ARSAE tenha declarado que a água está potável, as reclamações persistem, gerando grande insegurança e incômodo à população até a presente data”, informou o parlamentar.
Casos em BH
Na capital, no último mês, também houve reclamações. À época, a Copasa analisou as denúncias e fez testes que comprovaram as boas condições da água. Até o momento, em 2025, Belo Horizonte registrou 23 surtos de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA). A Secretaria Municipal de Saúde informou que monitora os casos de surtos de DTHA, que são causados pela ingestão de água ou alimentos contaminados.
Apenas em agosto, foram cinco surtos. Já em julho foram três. O número de surtos em agosto é o mesmo do ano passado, quando a capital mineira também registrou cinco surtos de diarreia. Em nota, administração municipal reforçou algumas orientações para evitar a contaminação.
Confira:
- Consumir alimentos dentro do prazo de validade;
- Lavar bem os alimentos antes do consumo;
- Lavar as mãos após uso de sanitários;
- Não compartilhar copos e talheres;
- Nos dias de temperatura mais elevada usar roupas leves e se hidratar.
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Sobre a relação de Doenças Diarreicas Agudas com a qualidade da água fornecida pela Copasa, a Companhia esclarece que:
A empresa tem sob seu domínio o completo processo de tratamento da água desde a captação até o consumo. De modo que a Copasa assegura, de forma contundente e irrefutável, a qualidade da água fornecida à população;
Prezando pela transparência e a qualidade mantida há mais de 60 anos de todo esse processo, a Copasa enviará todas as análises, resultados e procedimentos existentes para todos os órgãos de fiscalização e de proteção ao consumidor que demandarem informações e resultados a respeito das testagens realizadas pelos laboratórios da empresa. Incluem-se aí Arsae-MG, Ministério Público de Minas Gerais, Prefeituras, Vigilâncias Sanitárias, entre outros.
A Copasa mede 130 parâmetros de qualidade da água em seu laboratório que é referência nacional e mundial. Um laboratório terceiro também foi contratado para reforçar as análises com testes para além dos exigidos pela portaria do Ministério da Saúde pelos próximos 12 meses;
Ressalta-se ainda que qualquer Vigilância Sanitária Municipal que se interessar em fazer contraprovas independentes da água colhida e testada pela Copasa contará com todo o apoio da concessionária para fazê-lo;
A Copasa reitera a irresponsabilidade em associar a qualidade dessa água, repetidamente testada e aprovada pelo Ministério da Saúde, a quaisquer doenças sem comprovação de órgãos oficiais; O processo de tratamento contém cloro residual, que é inibidor de quaisquer vírus e bactérias que possam provocar doenças veiculadas pela água;
A Companhia reforça que, caso essa associação tivesse alguma lógica, toda a população que habita a Região Metropolitana de Belo Horizonte - mais de 5 milhões de pessoas -, e que consome a água tratada da Copasa estaria doente, causando um colapso nas redes públicas e privadas de saúde. Isso porque o sistema de distribuição de água da RMBH é integrado, ou seja, todos consomem o mesmo produto.
Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES), que são públicos e de amplo conhecimento, já foram registrados, em 2025, 488 mil casos das Doenças Diarreicas Agudas em todo o estado, sendo 156,6 mil na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em 2024, Minas já havia registrado mais de 822 mil casos da doença, sendo 95,9 mil na RMBH.
Neste mesmo período em que se registrava a alta nos casos, a água da Copasa se manteve potável, saudável e segura.
A Copasa pontua ainda que continua a força-tarefa de testar a qualidade da água em todos os imóveis reclamantes, sendo que nenhuma alteração ou contaminação foi encontrada até o momento.
(Sob supervisão de Fabrício Lima)