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Você tem compromisso com o erro?

É preciso refletir sobre as conexões humanas e sobre a responsabilidade que precisamos ter com quem nos relacionamos

Tendemos nós todos a nos conectar. E calma. Não, não estou falando de Internet. A gente, por natureza se conecta entre nós, com o mundo que nos cerca, com “algo maior do que nós”. É porque a gente se conecta que a gente é gente. Ser humano é estar ligado a algo.

Os laços que nos unem nos humanizam. Compartilhamos valores, experiências, damos a conhecer a tradições. Em momentos como esses de “comemoração” universal como copas ou Olimpíadas a gente se sente ligado a coisas “invisíveis”, mas tão importantes, tais como: senso de nação, de conquista e superação...

Nascemos crescemos e desenvolvemos quem somos, nossas ideias a partir da afinidade emocional. E veja se não é verdade, aí! Se sua vida não pode ser descrita a partir das coisas, das pessoas, dos sentimentos a que se conecta e apega. Não somos quem dizemos ser, somos sobretudo o que retemos e cultivamos.

Aí que mora o perigo! Saint Exupéry, no pequeno príncipe, disse que somos responsáveis por aquilo que a gente cativa. Isso, num sentido mais imediato tem a ver com o fato de que “pessoas” e “compromissos” não são simplesmente descartáveis. O amor pode responder por responsabilidade e resposta. Em sentido amplo e brincando com os “conceitos”, podemos dizer, que as vezes a gente “cativa” e “cultiva” o que não é bom e isso pode se tornar uma condenação.

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Aquilo que a gente “retém” também nos aprisiona. Costumamos dar lugar de honra em nós para maus sentimentos, emoções, memórias, erros em nós. Tornamo-nos, internamente, um condomínio de ressentimento. Sofremos de emoções conflitantes. Estamos presos ao passado. Criamos união estável com nossos próprios equívocos.

É celebre a frase, meio apócrifa, é claro, de Juscelino Kubistchek. Ele que era um homem a frente do seu tempo ou seria a melhor tradução dele? Sim, porque seres marcam uma profecia e a profecia não é sobre o “futuro”, mas sobre o que muda o presente, sobre o óbvio que é sempre uma armadilha para quem está distraído. Sim, Juscelino, quando indagado sobre a mudança excessiva de um de seus projetos, responde: “costumo voltar atrás, não tenho compromisso com o erro”.

Na Olímpiada da vida, nos jogos que a de existir, na grande medalha que é dar conta de si, meio atleta, meio bêbado, meio equilibrista, não se deve dar lugar de honra em nós com aquilo que está errado...

Se as falhas forem nossas, assumir é o primeiro passo para a mudança. O fracasso aconselha bem. A vezes só nos tornamos bons em algo, quando tudo o que mais idealizamos e tentamos dá erro. Se o equívoco tiver sido o dos outro, o perdão costuma fazer bem. Dar ao outro lugar de “falha” é um bom indício de resoluções interna. Se o desacerto for “do mundo”, que a vida não lhe deva nada, nada. Nietzsche o tempo todo alerta que um dos sentimentos mais corrosivos para a vida que deve se “afirmar e expandir” é o ressentimento. Tem gente que assume um mantra: “eu sofro, logo a culpa deve ser do mundo e do outro! ". Não, não, o mundo te afeta, cultivar esse afeto tem a ver com inteligência ou ausência dela, é uma questão de opinião.

O Apóstolo recorda e exorta, que a vida é mais leve quando se ausenta os pesos e as dívidas. Nada de dar um podium ao erro, ao passado, a quem nos ofendeu. Nada devamos uns aos outros a não ser o amor (Rm 13, 8).


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Pró-reitor de comunicação do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. Ordenado sacerdote em 14 de agosto de 2021, exerceu ministério no Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu, em Belo Horizonte.