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Moradores do bairro Sion, um dos mais tradicionais de BH, relatam onda de furtos e assaltos

PM diz que faz operações diariamente e que sensação de insegurança tem relação com crescimento de moradores em situação de rua no bairro

Moradores do Sion dizem que violência amentou nos últimos dois anos

Assaltos à mão armada, furtos em supermercados e farmácias, pedestres coagidos à luz do dia e prédios invadidos rotineiramente. Este é o cenário de violência relatado por moradores do bairro Sion, um dos mais tradicionais da região Centro-Sul de Belo Horizonte.

Os depoimentos de quem vive na região são corroborados por dados de furtos e roubos levantados pela Itatiaia com base em boletins de ocorrências. São mais de 170 registros entre janeiro e a primeira quinzena de março deste ano, média superior a dois casos dia. Oficialmente, a Polícia Militar (PM) aponta queda de 10% nos números de furtos e 40% nos casos de roubos, em fevereiro e março.

A reportagem da Itatiaia ouviu moradores sobre a violência na região. Alguns não identificam redução da criminalidade e pensam até em se mudar do bairro. É o caso de uma administradora de empresas, que pediu para não ser identificada. Na percepção dela, a situação do bairro piorou desde a pandemia de Covid-19.

“Percebemos que as pessoas começaram a vir para o bairro Sion, pedindo uma ajuda aqui e outra ali. Como todo mundo estava fragilizado por causa da pandemia, começou a ajudar e a apoiar, na melhor das intenções. E, infelizmente, essas pessoas começaram a usar a boa intenção dos moradores do bairro para começar a cometer delitos”, disse a moradora.

Ainda de acordo com ela, algumas pessoas ficam na porta de supermercados e farmácias da região pedindo doações e, quando ganham, atravessam a avenida Nossa Senhora do Carmo, trocam por drogas no Morro do Papagaio e voltam para usar no Sion. “Lá é proibido usar drogas (pelo tráfico). Então o que eles fazem? Voltam para o Sion, para usar drogas no Sion, porque as pessoas não fazem nada. E hoje estamos nos tornando reféns, porque essas pessoas começaram a morar no bairro e se sentirem confortáveis para cometerem pequenos delitos”, disse a administradora, que já teve o apartamento roubado.

“Hoje, morando no bairro Sion, quem está presa sou eu, que trabalho e pago meus impostos. E isso é uma grande injustiça”, diz.

Escadaria da Nicarágua

Um corretor de seguros, que também não será identificado, tem percepção semelhante à da administradora, ao avaliar que a situação piorou nos últimos anos. “Roubo à mão armada vem aumentando muito de dois anos pra cá”, disse o morador, que completa: “Não nos sentimos seguros hoje. Tanto que nós não vamos mais à pé ao mercado ou ao supermercado no período noturno, como fazíamos. Eu utilizava muito a escadaria da Nicarágua, mas hoje é impossível. Quando ela não está suja de lixo, de resto de droga, tem gente lá usando crack. E a gente fica um pouco receoso de passar lá. Então, passamos agora a utilizar somente carro, porque a insegurança é muito grande”, disse.

O morador classifica a escadaria da Nicarágua como o ponto mais perigoso. “Por quê? Eles ficam escondidos e conseguem fugir. Ou seja, se a polícia apontar em cima, eles conseguem fugir por baixo. Se a polícia apontar por baixo, eles conseguem fugir por cima”, explicou. “Roubam coisas no Sion, correm para a escadaria e ficam escondidos ali. Não deu nada, eles saem para a avenida Nossa Senhora do Carmo e têm acesso à favela”, completou.

O corretor ainda elogia a atuação da Polícia Miliar (PM) no bairro. “Nos atendem sempre e estão sempre dispostos para tentar ajudar. Quando não estão em atendimento, são muito rápidos. Mas vejo que eles estão extremamente sobrecarregados. No dia que teve um arrombamento no meu prédio, a polícia recebeu mais de cinco chamados enquanto estava coletando a minha informação. Não estão dando conta do tanto de problema que vem ocorrendo no Sion. E, na verdade, eles não ficam só no bairro Sion, pois atendem bairros ao redor”, analisou.

Ainda conforme moradores, estudantes de um colégio tradicional são alvo frequente dos criminosos. A mãe de um aluno de 15 anos, que mora a duas quadras da instituição, contou que o jovem foi assaltado duas vezes no ano passado, sendo uma delas sob ameaça de um canivete. O aluno teve dois aparelhos celulares, dinheiro e até os tênis roubados pelos ladrões. “Ele ficou traumatizado, tem taquicardia quando sai da escola e anda olhando para trás o tempo todo. Quando não tem ninguém para subir a rua com ele, me pede para ir encontrá-lo no meio do caminho”, diz a mãe.

Faca no supermercado

Alguns registros policiais a que a Itatiaia teve acesso revelam crimes cometidos por criminosos com uso de motocicletas. No dia 15 de janeiro, por exemplo, uma mulher caminhava pela rua Mantena quando o assaltante chegou em uma moto, desceu armado, roubou a mochila com Notebook, uma bolsa de mão e o celular. Em seguida, o criminoso exigiu que ela desbloqueasse o telefone e informasse a senha do app do banco. O Boletim de Ocorrência descreve que a vítima ficou nervosa e não fez o que o ladrão pediu. Na sequência, o homem fugiu com os pertences da vítima pela rua Pium-í.

Outro caso envolvendo motociclista ocorreu no dia seguinte, no estacionamento de um supermercado. A vítima, um homem, contou aos policiais que, ao entrar no estabelecimento, sentiu alguém puxando sua mochila pelas costas. Quando virou para verificar o que estava ocorrendo, dois criminosos em uma motocicleta anunciaram o assalto e levaram seus pertences.

Outra ocorrência que chama atenção foi registrada no dia 27 de janeiro, dentro de um supermercado. Dois criminosos entraram no local, foram para o setor de bebidas e esconderam nove garrafas de whisky Jack Daniels. Um fiscal percebeu o fato e tentou inibir a atuação da dupla. No entanto, um dos criminosos tirou uma faca e ameaçou golpear o trabalhador, que correu pelo corredor para se salvar. Os ladrões levaram as garrafas de whisky e fugiram por um escadão da rua Venezuela.

O que dizem as forças de segurança

Procurado pela Itatiaia, o tenente Felipe Schettino, comandante do policiamento nos bairros Sion e Carmo, aponta redução dos casos de furtos e roubos na região. O militar diz, ainda, que a sensação de insegurança está relacionada com o crescimento da população em situação de rua no bairro.

“Realmente foi observado o número crescente de moradores de rua, o qual vem trazendo sensação de insegurança para os moradores. Diante dessa informação, estamos fazendo operações diárias. O resultado dessas operações está na redução criminal nos meses de fevereiro em março, com redução de 10% nos crimes de furto e de, aproximadamente, 40% nos crimes de roubos”, garante o militar, que participa de grupos de segurança de moradores.

Sejusp

Sobre as ocorrências de violência no Sion, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas (Sejusp) informou não que faz recorte de dados de roubo e furto em endereços específicos, como bairros ou ruas.

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Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.