Um homem fez um Boletim de Ocorrência (B.O) por injúria racial e calúnia na unidade do Carrefour do Boulevard Shopping, em Belo Horizonte (MG), após seguranças o acusarem de tentar roubar garrafas de uísques, neste sábado (17). O cliente havia acabado de comprar uma televisão de quase R$ 5.000 na mesma loja.
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— Itatiaia (@itatiaia) February 17, 2024
A familia denunciou o caso na rede social e os dois funcionários foram afastados da rede de supermercados.
A vítima, identificada como Wesley Arthur, de 44 anos, estava fazendo compras na loja ao lado da família, que incluía sua esposa, duas crianças e dois cunhados.
Ao concluir a compra, o homem foi procurar um taxi que pudesse carregar a televisão, já que o produto não cabia em seu carro. Na saída, ele foi abordado no pátio do shopping pelos seguranças que lhe acusavam da tentativa de furto.
“Constrangimento”
A situação gerou constrangimento quando Wesley foi submetido a revista publica na frente dos consumidores que passeavam no Boulevard Shopping, conforme relatou a família em entrevista à Itatiaia.
“Eles (os seguranças) falaram que para ele abrir a bolsa, que ele estava tentando roubar Whisky”, confirmou o cunhado da vítima.
Wesley vinha do serviço e os pertences que os guardas encontraram na bolsa foram sua marmita e outros itens de trabalho.
A abordagem dos seguranças do supermercado durou cerca de 20 minutos, de acordo com a família de Wesley Arthur.
A bolsa com as garrafas whisky foi encontrada dentro da loja do Carrefour minutos antes e o responsável pela tentativa de furto não foi identificado.
Os seguranças disserem que Wesley estava usando roupas semelhantes às do suposto ladrão, para justificar a supeita. A família acredita que a cor da pele foi determinante para a abordagem.
A central de segurança do Boulevard Shopping identificou, por meio das câmeras de segurança, que o criminoso usava camisa preta, boné preto e mochila preta - assim como Wesley.
A família pediu para ver o registro, mas não tiveram o acesso permitido. Wesley entrou com um B.O com acusação de calúnia, difamação, injúria racial e danos morais.
“A gente foi até a base policial fazer a ocorrência. Nisso, o segurança voltou pedindo desculpa, assumindo que eles realmente tinham errado”, disse Maressa Beatriz, de 31 anos, esposa de Wesley.
A indignação da família foi tamanha que consideram reverter a compra da televisão, que custava quase R$5.000. Mas recuaram para não afetar a comissão da vendedora que foi receptiva, segundo eles.
A injúria racial não se configura como racismo, apesar de ambas serem práticas criminosas. A primeira está relacionada a ofensas individuais e insultos baseados em características raciais, enquanto o segundo crime aborda a discriminação sistêmica e a crença na superioridade de uma raça sobre a outra.
Resposta
Em nota, o Carrefour reconhece que o segurança da loja agiu de “forma incorreta” e expressou “indignação” com a situação a que o cliente foi submetido, visto como “inaceitável” pela rede.
A loja afirma que um dos seguranças era terceirizado e solicitou o seu afastamento da empresa. O segundo guarda que participou da abordagem era funcionário do Carrefour e foi demitido.
“Estamos buscando contato com o cliente para, além do pedido de desculpas, oferecer acolhimento e disponibilizar todo o suporte necessário. Também permanecemos à disposição das autoridades competentes para prestar todo o auxílio possível na apuração do caso”, informou o Carrefour em comunicado.
A esposa de Wesley confirmou à Itatiaia que recebeu o contato da rede, que estava preocupada com o estado de saúde e psicológico de Wesley. Mas não ofereceram nenhuma forma de rassarcimento.
Além disso, a família destaca que o gerente do Carrefour foi omisso. Embora o funcionário tenha afirmado que eles estavam no direito de buscar Justiça ao procurar a polícia, ele não ofereceu nenhum apoio concreto aos clientes.
Veja a nota do Carrefour na íntegra:
“Manifestamos nossa profunda indignação diante da conduta absolutamente inaceitável praticada contra um cliente de uma de nossas lojas em Belo Horizonte. Nossa apuração mostrou que o profissional de segurança agiu de forma totalmente incorreta e contrária aos nossos protocolos e todos os treinamentos realizados. Naquele instante, a loja passava por uma tentativa de furto, sem qualquer ligação com este cliente abordado indevidamente, a quem pedimos nossas desculpas.
Estamos buscando contato com o cliente para, além do pedido de desculpas, oferecer acolhimento e disponibilizar todo o suporte necessário. Também permanecemos à disposição das autoridades competentes para prestar todo o auxílio possível na apuração do caso.
Identificamos que, além do segurança, um funcionário nosso esteve presente na abordagem indevida. O segurança é contratado por uma empresa terceirizada e estamos exigindo desta empresa a sua imediata remoção do quadro de profissionais que atendem a rede. E desligamos o funcionário nosso. Ambos os profissionais agiram em completo desacordo com a ética, o respeito e as políticas e práticas repassadas de forma constante em nossos treinamentos.”
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