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Escarlatina: BH tem 741 casos da doença, 128% a mais que no ano passado

Infectologista não vê, a princípio, relação entre aumento na capital e casos no interior; quatro cidades de MG suspenderam as aulas após infecções por streptococcus

Em 2023, o número de casos de escarlatina mais do que dobrou em relação ao ano passado, em Belo Horizonte. Segundo a Secretaria de Saúde Municipal, foram 741 casos registrados neste ano, contra 325, em 2022 - o equivalente a um aumento de 128%.

Apesar dos casos notificados na capital, o infectologista Estevão Urbano não atribui o aumento aos casos registrados no Vale do Jequitinhonha, nesta semana. A cidade de Felício dos Santos suspendeu as aulas da rede municipal após 27 pessoas serem diagnosticadas com a doença.

"É difícil falar se há uma relação [entre os casos em BH e no Vale do Jequitinhonha], mas a princípio não. Está havendo um estímulo da Secretaria de Saúde para notificação de casos de doença estreptocócica, antes mesmo desse episódio. Isso pode ser mais responsável pelo aumento do que alguma relação com os casos no Norte de Minas. Mas tudo é possível, nessa hora temos que estar atentos a todas as hipóteses”, explica o especialista.

Suspensão das aulas era necessária?

O médico esclarece que apesar de a escarlatina ser uma doença comum e que, na maioria das vezes, evolui sem complicações, a suspensão das aulas em Felício dos Santos é uma medida justificável. “Nos momentos de crise, onde não sabemos o que exatamente está causando o contágio, onde está a fonte, medidas mais agressivas, e às vezes até excessivas, são tomadas até que se esclareçam os casos. Não há certeza se essa essas medidas realmente seriam necessárias, mas, na minha visão, são compreensíveis.

Estevão Urbano ainda comenta que somente as escolas que apresentarem um grande número de casos devem adotar a medida. “A bactéria raramente alcança uma circulação regional ou nacional. Geralmente, ela fica restrita naquela fonte, naquele local onde existe a fonte infecciosa e não se espalha. O fato de ter mais notícias sobre novos casos não significa que tenha havido um aumento em várias áreas ao mesmo tempo. Muitas vezes apenas aconteceu uma maior visibilidade daqueles casos endêmicos, que já ocorriam antes e eram tratados com naturalidade”, afirma.

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Infectologista aponta aumento atípico de infecções

Tanto a escarlatina, como a amigdalite são transmitidas pela mesma bactéria: a Streptococcus pyogenes. De acordo com o Estevão Urbano, houve um aumento atípico em São João del Rei, no Campo das Vertentes (MG), a cidade registrou a morte de três crianças com sintomas de amigdalite.

“Existe um momento atípico sim naquela região da Cidade de São João Del Rei. Significa, possivelmente, que o streptococcus teve algum tipo de alteração genética que o tornou mais agressivo, mais virulento. Então, naquele cidade, o número de óbitos se tornou atípico, não esperado. Ali deve se concentrar os esforços para identificação e contenção das fontes de transmissão”, aponta o infectologista.

Formou em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.
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