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Pesquisa pioneira da UFMG consegue aumentar cobertura vacinal em crianças de Minas Gerais; entenda

A pesquisa-intervenção criou grupos de trabalho junto às secretarias municipais de saúde para criar ações de imunização em crianças menores de 2 anos

Pesquisadores trabalharam junto com os municípios para mapearem a vacinação e criarem políticas públicas de saúde

Uma pesquisa pioneira da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em conjunto com a Secretaria Estadual e municipais de Saúde, conseguiu aumentar a cobertura vacinal em crianças menores de dois anos. Recentemente, profissionais da saúde vem apresentando preocupação com os baixos índices de imunização em Minas Gerais e no Brasil, em todas as faixas etárias.

A pesquisa-intervenção foi aplicada em todos os 853 municípios de Minas Gerais e foi desenvolvida em três etapas, compartilhando conhecimentos teóricos e práticos para a elaboração de políticas públicas e campanhas de vacinação. A última etapa consistia em um ensaio clínico comunitário, que, por meio de oficinas de trabalho iniciadas em março de 2022, construiu ações municipais para o aumento da cobertura vacinal.

As ações foram aplicadas depois que os pesquisadores realizaram uma avaliação da cobertura vacinal em crianças menores de dois anos e chegaram a resultados preocupantes. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, 38% das crianças de Minas Gerais estão expostas ao risco de contaminação por alguma doença grave, como poliomielite, tuberculose e sarampo.

“Nós avaliamos o período de 2015 a 2020 e ficamos muito preocupados com essa queda ao longo dos anos, e resolvemos intervir neste cenário. Inicialmente nós nos dirigimos a estes municípios que apresentavam uma tendência decrescente nas coberturas vacinais dos imunobiológicos para menores de dois anos. Nessas regionais, nós fizemos oficinas de trabalho para construção de planos de ação municipais”, explicou a coordenadora do estudo, a professora Fernanda Penido Matozinhos, do Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública.

Os planos de ação foram elaborados levando em consideração as particularidades de cada município, se baseando em eixos como: gestão de pessoas, articulação, infraestrutura, logística de vacinação, parcerias estratégicas e comunicação social. Após um trabalho inicial em áreas prioritárias, em março de 2022, o projeto se expandiu para todos os municípios mineiros.

“Nós auxiliamos os municípios na elaboração destes planos e monitoramos indicadores de processo de trabalho e de coberturas vacinais a cada três meses. Essa pesquisa é pioneira porque não há registros de outras pesquisas similares a esta aqui em Minas Gerais e, quiçá, no Brasil. A gente tem a participação dos municípios junto com a academia, nós temos uma relação entre teoria e prática muito importante para produzir analisadores, para problematizar as práticas e para melhorar as práticas também”.

Resultados positivos

A pesquisa-intervenção do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Vacinação (Nupesv) da UFMG alcançou o aumento da cobertura vacinal nos dez imunizantes trabalhados pela equipe da UFMG. Os maiores índices de crescimentos foram o da vacina varicela, com 16,81% de aumento na cobertura vacinal, seguido da vacina tríplice viral D2, com aumento de 14,57%.

“Nós tivemos de fato um aumento das coberturas para todas as vacinas, comparando o ano de 2021 e 2022, ou seja, pré e pós-intervenção. Outro resultado que nos deixou muito felizes, é porque nós tivemos uma redução do número de crianças vivendo em municípios de alto ou muito alto risco para a transmissão de doenças preveníveis por vacinas aqui em Minas Gerais”, conta a professora Fernanda Penido.

As vacinas analisadas pelo estudo foram:

  • Rotavirus - previne infecções gastrointestinais;

  • Meningococo C - previne meningites e infecções generalizadas causadas pela bactéria Meningococo;

  • Pneumocócica - previne doenças graves como pneumonias e meningites;

  • Pentavalente (DTP/Hib/HB) - previne difteria, tétano, coqueluche e infecções graves;

  • Poliomielite - previne a Paralisia Infantil;

  • Tríplice viral D1 e D2- previne sarampo, a caxumba e a rubéola;

  • Febre-amarela;

  • Hepatite A;

  • Varicela - previne a catapora;

A pesquisa, agora, vai continuar monitorando a cobertura vacinal de crianças menores de dois anos, mas deve expandir os trabalhos para analisar e ajudar na criação de políticas públicas para aumentar a cobertura vacinal de adolescentes.

“Seguimos atentos e muito preocupados com a redução das coberturas vacinais em Minas, no Brasil e no mundo. Esse cenário tem apresentado uma piora desde 2016 em intensificou-se com a pandemia. Há vários estudos tentando compreender a queda das coberturas vacinais”, revela Fernanda Penido.

Entre os principais motivos para a queda na cobertura vacinal, a professora cita:

  • Escolaridade;

  • Falta de acesso à informação baseada em evidência científicas;

  • Aumento das fake news;

  • Dificuldade de acesso aos serviços de saúde.