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Cadê o dinheiro? Especialistas e comerciantes apontam as vantagens do dinheiro virtual

Este é o 2º capítulo da série de reportagens da Itatiaia sobre o desaparecimento do dinheiro físico

Esta é segunda matéria especial sobre o tema

Após expor a realidade de quem mantém as relações comerciais só no dinheiro, nesta quarta-feira (3), a reportagem da Itatiaia conversa com quem faz as transações no mundo digital. E essa história começa no quase centenário Mercado Central de Belo Horizonte, onde menos de 1% dos comerciantes trabalham apenas com dinheiro em espécie. “Somos 400 lojas hoje e, no máximo, três ou quatro lojas, ainda que só aceita o dinheiro”, disse o superintendente do Mercado, Luiz Carlos Braga.

No transporte a situação é semelhante. A primeira coisa que a enfermeira Lidiane Marcelina, de 38 anos, perguntou para taxista foi o seguinte: ‘aceita PIX? Andar com o dinheiro hoje não é viável. Então, eu pergunto antes de entrar”.

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A taxista Andreza dos Santos, taxista há 17 anos, diz que quem não aceita os meios digitais no pagamento acaba perdendo clientes. “Dinheiro, PIX ou cartão. O que você prefere? Tanto faz. O importante é atender o cliente”, disse.

O Sindicato que representa os taxistas de belo Horizonte (SincaVir), afirma que 70% das viagens hoje são pagas de forma digital. Nos ônibus a situação é semelhante. Inclusive os vereadores propuseram e a prefeitura aprovou pagamento totalmente digital nos ônibus de BH, medida que ainda não foi completamente regulamentada.

O presidente do Sindicato das Empresas de transporte de passageiros, Raul Lycurgo Leite diz que as empresas aprovam a medida: “O fim do dinheiro a bordo tem que ser faseada, mas ela deve de uma certa forma ocorrer. Tem linha que tem mais de 96% de utilização do cartão e apenas 4% de utilização de dinheiro. Óbvio, a gente tem linhas de tarifa social e que, pela praticidade, são pagas com as moedinhas. Essas linhas, provavelmente, ficaram por último.

Mecanismos facilitadores de pagamento

O economista Paulo César Feitosa aponta que é um traço histórico a busca da humanidade por mecanismos facilitadores de pagamento.

“Desde a época de uso de metais como ouro, prata, havia um problema do transporte, com o peso e até mesmo com assalto. Depois disso, veio o certificado de depósito e o surgimento da cédula de papel. Esse dá origem ao problema de higiene e roubos”, contou.

Depois disso, a sociedade adotou os cheques. “Os cheques também surgiram com alguma dificuldade porque não tinham problema da higiene do dinheiro, mas você não tinha certeza se havia o fundo para aquele cheque”, acrescentou.

Seguindo a linha histórica, o presidente da Câmara de dirigentes Lojistas de Belo Horizonte, Marcelo de Souza e Silva, aponta qual a forma de pagamento preferida das próximas gerações a tendência.

“A tendência é que os pagamentos, por meio de aplicativos de celular, QR Code, cartões, fiquem cada vez mais populares, pois as novas gerações de consumidores são muito mais tecnológicos. Por isso, é fundamental que os lojistas fiquem atentos a esse comportamento, mas não deixe de lado os antigos consumidores acostumados com o dinheiro”, avalia.

Na mercearia do ReiZinho, no bairro São Lucas, leste de BH, o dinheiro quase não aparece, como nos conta a comerciante Fabíola Filizzola.

“Os clientes mais jovens optam pelo PIX ou então pelo débito-crédito pela aproximação (da maquininha). Os mais idosos sempre inserem o cartão ou anotam em caderneta. Dinheiro mesmo é muito pouco”, disse.

E quando aparece é por acaso, como nas compras da funcionária pública Marisa Profeta, de 61 anos. “A gente não tem costume de andar com dinheiro. Mas, hoje recebi e decidi pagar em dinheiro”, finalizou.

Mineiro de Urucânia, na Zona da Mata. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Ouro Preto (2024), mesma instituição onde diplomou-se jornalista (2013). Na Itatiaia desde 2016, faz reportagens diversas, com destaque para Política e Cidades. Comanda o PodTudo, programa de debate aos domingos à noite na Itatiaia.