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Segurança armada não é suficiente para evitar ataques em escolas e prevenção é única saída, diz especialista

Pesquisadora da UFMG cita casos nos EUA para defender uma nova abordagem contra violência no ambiente escolar; especialista defende que órgãos trabalhem para antecipar e prevenir novos ataques

Especialista defende foco em tentativas de antecipar e prevenir novos ataques

A sequência de ataques e ameaças à escolas em todo o Brasil preocupa pais, responsáveis, professores e autoridades. Com mais um caso de violência registrado nesta terça-feira (11) em Goiás, muito se discute sobre alternativas para evitar novos ataques. Uma das principais sugestões é o uso de segurança armada nas escolas, mas uma especialista em segurança pública acredita que a medida pode não ser suficiente para evitar novos ataques.

Em entrevista ao programa Itatiaia Agora, a professora da Faculdade de Educação (FaE) da Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), Valéria Oliveira, afirma que colocar armas no ambiente escolar, seja na mão de profissionais de segurança ou professores, não é a solução. Ela traz como exemplo a violência recorrente nos Estados Unidos.

“Não existe nenhum país onde haja mais problemas com massacres em escolas atentados à escolas do que os Estados Unidos. Existem escolas onde essas medidas já foram colocadas em prática e, mesmo assim, os casos não se encerram. Então esse tipo de intervenção não é suficiente.”

A especialista reforça que ataques como o registrado em São Paulo no fim de março demandam um acompanhamento mais próximo das autoridades, já que o autor já havia se envolvido em problemas no ambiente escolar. Ela defende que o foco deve ser em antecipar e evitar esses ataques, e não apenas reagir a eles.

“É preciso antecipar esses eventos, porque muitos casos são anunciados antes nas redes sociais. Há um caminho de prevenção que passa por uma atuação sistêmica de várias autoridades.”

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Para Valéria, a instalação de câmeras e a proteção de muros podem ser eficientes para identificar autores de crimes contra o patrimônio, mas podem não ser muito úteis em ataques violentos.

“A racionalidade é outro aspecto que ajuda a explicar porque fatores ligados à prevenção física tendem a não ser totalmente efetivos para esse tipo de evento. O importante é entender que a violência na escola, assim como na sociedade, é adversa, e é importante trazer o debate para o campo das políticas públicas, para se planejar intervenções adequadas para cada tipo de violência.”

Atenção às redes sociais

Assim como outras especialistas ouvidas pela Itatiaia, Valéria Oliveira ressalta a importância do monitoramento das redes sociais para a prevenção a esses casos. Segundo a professora, a busca por engajamento retroalimenta certos grupos.

“Esses ambientes, como fóruns, são extremamente positivos para as pessoas se conectarem, mas também conectam pessoas com circunstâncias em comum. O desafio que não é só brasileiro mas do mundo todo é descobrir formas de regulação, de controlar essas redes, já que muitas vezes elas argumentam não ter responsabilidade sobre os conteúdos publicados.”

Valéria também conta que o número crescente de casos do tipo, que não eram comuns no país, representa um desafio para os pesquisadores, que precisam investir em estudos sobre o tema sem conhecer completamente o fenômeno. Ela também destaca o impacto da pandemia da covid-19 nos jovens.

“A pandemia no contexto escolar foi um fenômeno extremamente desafiador. O retorno às aulas e o processo de socialização foi comprometido durante este momento de restrição e esse é um fator que interfere, assim como o agravamento dos discursos de intolerância e violência nas redes sociais.”

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.