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Cinquenta mil foliões se rendem ao “Truck do Desejo”

Bloco foi criado como espaço de expressão e alegria de lésbicas e bissexuais; bateria afinada contagia com canções-ícones da MPB

Bloco partiu do Barro Preto em direção à Praça da Liberdade

Cerca de 50 mil pessoas devem participar do desfile do bloco ‘Truck do Desejo’, que chega com a força de uma bateria afinada e com 150 integrantes. No vocal, puxando canções de cantoras-ícone da MPB como Zélia Duncan, Gal Costa e Cássia Eller, está Fernanda Branco Polse que também é coordenadora artística da trupe.

Truck do Desejo foi criado, há dois anos, com o objetivo de dar visibilidade às lésbicas e aos bissexuais. O nome surgiu por ser sonoro e também por permitir um divertido duplo sentido. Fernanda explica que ‘Truck’ é tanto uma referência à palavra ‘truque’, no sentido da ‘mágica’ quanto uma forma de quebrar o preconceito contra a mulher caminhoneira, já que ‘truck’ é caminhão em inglês. “Existia preconceito contra elas dentro do próprio universo gay. A gente dizia: essa é muito caminhoneira, eu não vou beijar. Queremos acabar com isso”.

Fernanda, que é paranaense, conta que mudou-se para Belo Horizonte em 2008 e, naquele ano, ficou impressionada de ver como a cidade, simplesmente, “morria no carnaval”. Quatro anos depois, ela assistiu, com muita alegria, o ressurgimento da folia de rua na capital mineira. “Acompanhei tudo, o evento icônico da Praia da Estação” como ocupação democrática da rua, como espaço de formação de alianças, de fortalecimento, de encontro com nossos pares e nossas principais identidades”.

Aos poucos, ela e as amigas Isabela Figueira, Lara Souza e Mara foram percebendo que havia “bloquinho de tudo quanto era tema”, na capital mineira, menos um que expressasse a experiência e o orgulho da população lésbica, dos bissexuais e não-binários. “Carnaval é alegria, mas é também espaço para a representatividade sexual das minorias. Os bloquinhos são uma manifestação diferente dos luxuosos desfiles das escolas de samba do eixo Rio-São Paulo, do carnaval de Salvador com seus abadás e camarotes, é mais democrático, genuíno e espontâneo, coloca todo mundo no mesmo lugar, compartilhando o mesmo espaço, com respeito e alegria”.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.