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Polícia investiga rapper de BH por agressão física e violência psicológica contra mulheres

Duas ex-companheiras procuraram a polícia; artista foi afastado da produtora cultural ‘A Quadrilha’

Juíz deferiu a medida protetiva contra o rapper

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) investiga o rapper Matheus Silva, mais conhecido como Bertiolli, de 28 anos, acusado de violência doméstica. Duas jovens, de 23 e 24, estão com medida protetiva contra o cantor. O artista integrava a produtora cultural “A Quadrilha”, projeto do rapper Djonga.

E.M - que terá o nome preservado - de 24, contou à reportagem da Itatiaia que namorou durante oito anos com o rapper, com quem teve duas filhas, de 4 e 7 anos. O casal se separou há um ano.

No dia 5 de fevereiro, E.M disse que as crianças estavam na casa do pai. Por volta das 16h, ela foi buscá-las, mas se atrasou por cinco minutos. Isso teria irritado o artista, que a atacou com xingamentos de cunho misógino, como “filh* da put*”, “sem vergonha”, “piranh*” e “você tem que aprender a ser mãe”.

Conforme o relato da vítima à polícia, em determinado momento, ele a ameaçou dizendo “que iria pagar alguém para bater na vítima” e que “na melhor hora, quando tivesse a chance, ele iria bater”. Em seguida, enfurecido, partiu para cima dela empurrando-a. O homem precisou ser contido por populares. As agressões foram presenciadas pelas filhas.

Relacionamento marcado pela violência

E.M relatou ainda que, durante o relacionamento, ele era ciumento e agressivo. “Eu passei muita muitas coisas bizarras. As primeiras agressões aconteceram quando eu descobri que estava grávida, com 15 anos. Por mais que eu tentava sair da relação, eu não conseguia pelo fato de eu estar vulnerável, era muito nova”, lembrou E.M à Itatiaia.

Ela contou que a família tentou alertá-la, mas ela acreditava que a violência seria cessada com o nascimento da primeira filha. “Continuou e piorou”, contou.

Por muito tempo, ela tentou esconder os hematomas das agressões com roupas de frio. “Eu estava sempre muito triste, chorando... Minha família me perguntava o que estava acontecendo e eu não conseguia falar”.

E.M conta que o ciclo da violência se repetia: “Ele fazia as coisas e, no outro dia, agia como se nada tivesse acontecido. Ele queria vir me beijar, me abraçar, eu ficava em choque”. No ano passado, ela conseguiu colocar o fim na relação.

Mas, com vergonha, E.M se manteve em silêncio até o episódio. Ao saber do ocorrido, outra ex-companheira entrou em contato com E.M para relatar que também foi vítima do rapper.

Foi então que elas perceberam ter vivido violências parecidas e buscaram ajuda na Delegacia Especializada de Plantão de Atendimento à Mulher, no Barro Preto, na região Centro-Sul da capital mineira.

A reportagem entrou em contato com a outra ex-companheira do jovem, mas ela preferiu não falar a respeito no momento. Mas, E.M agradece o apoio para fazer a denuncia. “Ela me deu muita força e eu agradeço muito. Eu tinha muito medo de falar. Mas nossa história é muito parecida e fomos na delegacia juntas. Ela chorou ao ouvir meu depoimento”, contou E.M.

Medida protetiva deferida

O juiz analisou que, a partir dos relatos das duas jovens, há indícios de violência psicológica e física. Portanto, foi deferido o pedido de medida protetiva. Assim, o acusado ficou proibido de se aproximar das vítimas (fixando a distância mínima de 250 metros) e de frequentar a residência e o local de trabalho delas.

Além disso, ele também está proibido de fazer qualquer tipo de contato, especialmente por meio de celular, mensagens ou de redes sociais.

“Estou muito triste, muito para baixo. Minha mente está a milhões”, relatou EM, que busca força para esquecer o episódio de violência. Agora, E.M tenta se reestruturar para seguir em frente e espera que a Justiça seja feita e que o acusado seja efetivamente punido.

Polícia investiga

A Polícia Civil instaurou inquérito policial para a completa apuração do caso e o procedimento investigativo encontra-se em andamento. Confira completa

“A Polícia Civil de Minas Gerais informa que duas mulheres, de 23 e 24 anos, compareceram, na última terça-feira (7), à Delegacia Especializada de Plantão de Atendimento à Mulher (Demid), na capital, para o devido registro da ocorrência em desfavor do homem, de 28 anos. A PCMG instaurou inquérito policial para a completa apuração do caso e o procedimento investigativo encontra-se em andamento. Demais informações serão prestadas, em momento oportuno, para não comprometer o andamento do feito.”

Enquanto isso...

Rapper em ascensão

Ele era uma das grandes apostas da produtora A Quadrilha. O clipe “Clima de Favela” já acumulava mais 252.404 visualizações. Na canção, ele fala sobre a realidade da periferia.

Após a denúncia, a produtora publicou uma nota dizendo que está ciente do ocorrido envolvendo o artista. “Ressaltamos que a Quadrilha é formada por 90% de mulheres, então, a acompanharemos às investigações das autoridades até que se apure os fatos. O artista Bertiolli encontra-se afastado do selo musical A quadrilha”, informou no início do mês.

Nesta quinta (16), produtora reiterou à reportagem que o artista “foi afastado de todas as atividades e relações que envolvam o selo A Quadrilha.”

“As vítimas estão sendo amparadas e assistidas pelo nosso jurídico interno, afim de contribuir para o esclarecimento dos fatos. Estamos aguardando e colaborando na apuração dos fatos, para que a justiça seja feita”, finalizou.

O que diz a defesa

A defesa do rapper rapper Matheus Silva, representada pelo advogado Berlinque Cantelmo, disse à Itatiaia que recebeu as denúncias com surpresa e que o músico sempre deu suporte emocional, sentimental, social e financeiro às filhas.

“As denúncias foram recebidas com surpresa porque, a priori ele nega qualquer tipo de violência física e psicológica em desfavor das supostas vítimas. Da nossa parte, especificamente do ponto de vista técnico, nós enxergamos com estranheza alguns pontos obscuros que precisam ser esclarecidos e sobretudo quanto algumas incongruências nas falas das supostas vítimas. Nesse sentido, nós já estamos providenciando a abertura de uma investigação defensiva, nos termos legais correspondentes ao exercício da advocacia, para contribuir com as investigações e ao final provar que toda essa imputação, aliás, que todas essas imputações não remontam a realidade quanto a qualquer tipo de fato envolvendo o investigado.

Com relação ao afastamento dele da “A Quadrilha”, entendo como sendo uma medida de preservação da imagem do grupo, quanto também da própria imagem do investigado. Uma vez que é um artista de sucesso e é um indivíduo que tem uma imagem que repercute internacionalmente. Nós precisamos, inclusive, levar em consideração a relação a qualquer perspectiva de responsabilização cível, indenizatória, que alguém esteja querendo que ele suporte.

Quantas filhas ele mantém o contato na medida do possível na atual circunstância obviamente em razão das medidas protetivas. Entretanto, antes desses fatos acontecerem ele sempre deu suporte, sempre serviu de arrimo emocional, sentimental, social e financeiro às crianças e em momento algum se furtou da responsabilidade de ser pai.”

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.