A população em situação de rua de Belo Horizonte triplicou nos últimos 10 anos. Segundo censo realizado pela Faculdade de Medicina da UFMG, em parceria com a prefeitura da capital, há 5.344 pessoas vivendo desta forma. Ao todo, 84% é formado por homens, com média de idade de 42 anos; e 82,6% são pretos e pardos, e quase 60% não são naturais de Belo Horizonte.
Em média, segundo a pesquisa, essas pessoas costumam passar 11 anos em situação de rua e mais de de 90% delas disseram ter vontade de sair desta realidade. Para o coordenador da pesquisa, professor Frederico Garcia, do departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, os dados apresentam uma série de desafios a serem enfrentados:
“Uma política que é muito urgente de ser discutida e conversada é a questão saúde mental. Quando você tem metade da população que declara ter um problema de saúde mental e que o acesso aos órgãos oficiais de saúde mental é feito por uma proporção muito pequena, só 2,2% acessam cuidados de saúde mental nas unidades da prefeitura, esse é um ponto muito importante. Nos próximos 10 anos, a gente vai ter uma massa de pessoas idosas em situação de rua.”
Rafael Roberto, Participante do Movimento Nacional de Rua e do Censo, aponta a importância do Censo avaliar também os motivos que levaram as pessoas a viverem nas ruas de uma cidade como Belo Horizonte:
“A gente entender o porquê e o que levou essa pessoa a estar na rua. E o que a gente mais ouviu é realmente a vontade de sair da rua. É a moradia, é a a renda e, principalmente, a saúde. A gente vê muitas pessoas envelhecendo na rua, se adoecendo. A gente precisa realmente ter essa atenção especial para que a gente possa trazer uma política complementar e estruturante e principalmente uma política de saída das ruas.”
Segundo a pesquisa, 36,7% dos entrevistados relataram que foram para as ruas por causa de problemas familiares. Já 21,9% disseram ter tido problemas com álcool e drogas, enquanto 18% foram motivados pelo desemprego.
Os resultados são iniciais e já foram apresentados à Prefeitura, mas ainda serão analisados de forma mais detida por cada pasta do governo para realização de políticas públicas. A secretária de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania de BH, Rosilene Rocha, já avalia que os dois maiores desafios estão nas áreas da saúde e da habitação.
“Pra gente conseguir enfrentar basicamente esses dois grandes problemas. A gente vai melhorar muito essa situação e a rede, eles usam a rede da assistência social. Eles usam o Centro POP, eles usam os abrigos, eles usam os albergues, mas as pessoas querem muito mais que isso e a gente tem que garantir direito das pessoas.”