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Jovem denuncia vagina necrosada após cirurgia no fêmur em hospital particular de Belo Horizonte

A jovem faz rifa para bancar os custos do tratamento; O hospital disse que fornece suporte multidisciplinar especializado para garantir a recuperação da paciente

Acidente ocorreu no dia 3 de dezembro

Imagine sofrer um grave acidente enquanto pratica um hobbie, ir para o hospital, receber atendimento e, ao sair da cirurgia de reparação, se descobrir com graves sequelas. Foi isso que aconteceu com a supervisora de telemarketing Ana Carolina Onesio, de 23 anos. Apaixonada por dança e instrutora de pole dance, ela fazia acrobacias quando fraturou o fêmur. Ao retornar ao quarto depois da cirurgia, ela notou uma ferida na vagina, que acabou necrosando. “Destruíram a minha vida e chamam de intercorrência médica”, desabafa. Ana Carolina conta, agora, com a ajuda de de amigos e seguidores para arrecadar dinheiro para o tratamento enquanto espera pela cirurgia.

Ana conta que, no dia 3 de dezembro, ela não conseguiu completar uma performance na barra de pole dance, por conta do tumor da fratura no osso, que estava frágil. As colegas chamaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que a encaminhou para o pronto-socorro do Hospital João XVIII, na Região Leste de Belo Horizonte.

Um exame de raio-X comprovou a lesão e Carol foi transferida para o Hospital Life Center, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Lá, a jovem foi diagnosticada com um tumor no fêmur. “Foi dado diagnóstico de que o fêmur tinha sido quebrado e que eu teria um tumor. Eu teria que fazer uma biópsia para, depois disso, descobrir qual cirurgia seria realizada. Isso porque se fosse maligno, o médico teria que retirar todo o osso para refazê-lo. Se fosse benigno, seria uma cirurgia mais simples e em 48 horas eu teria alta”, explica

Entre a biópsia e o resultado, foram 14 dias para Carol descobrir que tinha displasia óssea, um tumor ósseo benigno que gera a substituição da estrutura óssea normal por um tecido fibroso e, consequentemente, o osso fica enfraquecido.

A cirurgia para voltar a andar, correr e fazer pole ocorreu na véspera do Natal, em 24 de dezembro. Sendo assim, a previsão era de ir para casa no dia 26. Mas, o procedimento médico durou três horas e, ao acordar, Carol percebeu algo de errado.

“Vi que tinha um pouco de sangue e coloquei a mão na minha vagina. Ela estava extremamente grande e inchada e percebi que havia algo errado. Chamamos os enfermeiros e nem eles sabiam explicar o que tinha acontecido”, lembrou. A equipe fez uma compressa de água gelada e aplicou um anestésico local. As imagens do ferimento, compartilhadas pela paciente com a Itatiaia, são impublicáveis.

Ela conta que os médicos chamaram o ferimento de “intercorrência médica”. Isso porque a equipe protegeu a vagina com um item que chamam de coxim, mas não foi suficiente. “Foram horas de cirurgia. O osso havia sido calcificado porque estava quebrado há cerca de 23 dias… Com isso, não fizeram manutenção do coxim ou olharam se estava tudo certo com minha vagina”, lamentou.

Por isso, Ana Carolina teve que permanecer no hospital por 36 dias após a cirurgia. Aplicação de morfina e sessões de fisioterapia faziam parte da rotina da jovem. “Vocês não sabem o que é tomar banho, fazer xixi, dormir de perna fechada”, disse

Ela contou que o quadro é reversível e a melhor opção é realização de uma ninfoplastia - cirurgia realizada na genitália com objetivo de corrigir assimetrias nos lábios. De acordo com a jovem, uma psiquiatra contratada pelo hospital para acompanhar a evolução do tratamento depois da cirurgia,a diagnosticou com depressão pós-traumática. Por isso, a psiquiatra recomendou que a cirurgia de reconstrução só seja realizada em quatro meses, depois que ela se recuperar.

“Ela não autorizou a cirurgia da minha vagina e disse que eu não tenho condições médicas para isso”, relatou. Enquanto aguarda um novo laudo, ela disse que faz um tratamento a laser, pago por ela mesma

Carolina é tomada pela dor e pela indignação depois do que aconteceu. Ela sente que sua vagina foi esquecida pela equipe médica, que sua condição de mulher não foi levada em conta e completa:. “Eu nunca odiei tanto meu corpo como agora. Me sinto incompleta”, lamentou.

O que diz o hospital

A Itatiaia entrou em contato com o Hospital Lifecenter, que realizou a cirurgia. A reportagem pediu uma entrevista, mas o hospital preferiu se manifestar por meio de nota.

Ao ser questionado sobre a investigação do episódio e a assistência prestada à paciente, o Hospital Lifecenter informou que está em contato constante com Ana Carolina Onésio e que fornece suporte multidisciplinar especializado para garantir a recuperação da paciente.

Confira a nota na íntegra:

“O hospital informa que a paciente necessitou de uma cirurgia complexa proveniente de uma patologia grave, sendo que em sua recuperação ofereceu suporte de uma equipe multidisciplinar especializada, que está acompanhando a recuperação do tratamento no seu domicílio.

A administração do hospital ressalta que está em contato constante com a paciente para apoiá-la nesse momento”.

O hospital foi perguntado sobre o o do coxim e a possível complicação pelo uso da ferramenta que que causou a necrose no tecido vaginal e por qual razão o coxim foi usado, mas não se manifestou.

A reportagem da Itatiaia também buscou sociedades médicas e especialistas que pudessem explicar os procedimentos adotados, mas por se tratar de um caso específico com detalhes ainda desconhecidos dos especialistas, ninguém quis comentar.

A rifa

Afastada da profissão e aguardando a liberação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Ana Carolina conta com a ajuda de uma rifa, que paga para transporte para tratamentos ambulatoriais, remédios, drenagens, entre outros. Quem quiser ajudar, pode procurar pelo perfil dela no instagram.

Atualização - às 16h00

Em atualização da nota antes enviada, o hospital esclareceu que “vai realizar o procedimento assim que a paciente estiver em condições clínicas e que todo o acompanhamento está sendo custeado pelo hospital”.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Formado em Jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Marcello atuou na assessoria de imprensa do Conselho Regional de Psicologia. Atualmente, é editor da equipe de redes sociais da Itatiaia. Atento às novidades, Marcello é um entusiasta das tecnologias e apaixonado por redes sociais.