Prevista inicialmente para março de 2019, a construção das casas do novo Bento Rodrigues, em Mariana, região Central de Minas, ainda não tem metade das obras concluídas. São 162 casas contratadas, 71 prontas, 83 em construção e oito a iniciar obras da edificação principal - 45% concluído. Os imóveis de alto padrão em estilo colonial pouco lembram o bucólico Bento Rodrigues destruído pela lama da Samarco há sete anos.
Detalhes da obra foram apresentados
É o caso de Alessandra Cristina, 44 anos, que morreu em 2021 após complicações renais. A irmã dela, Onilha Aparecida da Silva, 42 anos, já recebeu a nova casa e conversou com a imprensa na residência. “Ela já estava doente, mas ficou depressiva porque ela morava em Bento”, disse Onilha, que estava acompanhada do irmão Antônio Fernandes da Silva, 52 anos.
Estrutura do Novo Bento
Além das casas, o novo Bento Rodrigues terá uma estação de tratamento de esgoto, reservatório de água, escola, posto de saúde, três igrejas, associação comunitária e campo de futebol. Conforme a Renova, serão 99 hectares de área construída. Até agora, a Renova informa gastos de R$ 2,59 bilhões com reassentamentos, incluindo outros municípios afetados. As obras de pavimentação, esgoto, energia e água estão 100% finalizadas.
“Sabemos que o tempo transcorrido desde o rompimento é longo, mas o trabalho de construção do novo distrito de Bento Rodrigues respeitou a necessidade de amplo diálogo com os moradores, autoridades públicas, Ministério Público, Poder Judiciário, comissões e assessorias técnicas”, afirma o diretor-presidente da Fundação Renova, André de Freitas.
Atingidos reclamam
Mauro e outros atingidos acompanharam a apresentação do andamento das obras feita pela Fundação Renova à imprensa - a fundação foi criada pelas mineradoras para conduzir o processo de reparação.
Mauro vê com estranheza o fato de a Renova não convidar os atingidos para a apresentação. “Hoje nós vivemos às escuras. Não se sabe ao certo nem quantas casas serão ao todo no reassentamento”, disse Mauro, que aponta falta de diálogo, de transparência da fundação e questiona o anúncio de ‘casas prontas’. "É estranho também vê que a Fundação Renova vem fazendo um marketing muito grande ao falar que vai levar famílias para morar em canteiro de obras que no ano que vem terá 2.800 homens (trabalhando), com movimentação de máquinas e equipamentos”, diz o morador.
Atraso
O prazo inicial dado pela Fundação Renova para entrega do novo Bento Rodrigues era março de 2019. Posteriormente, a Justiça autorizou duas prorrogações: 27 de agosto de 2020 e, por fim, 27 de fevereiro de 2021. O prazo foi descumprido e a Justiça estipulou multa de R$ 1 milhão por dia de atraso. A fundação recorreu, mas o valor está sendo contabilizado e, atualmente, passa dos R$ 600 milhões. Para Mauro, a Fundação Renova quer entregar o novo Bento Rodrigues mesmo sem a conclusão total em razão da multa.
“A gente vê que o foco da Fundação Renova hoje é fugir da multa diária por atraso da entrega do reassentamento estipulada em 27 de fevereiro de 2021. Essa multa, embora a Fundação Renova tenha recorrido junto ao Tribunal de Justiça, continua sendo contabilizada. A gente vê que os principais pontos, além do marketing, é se eximir da responsabilidade de pagar, uma vez que com alguns bens públicos como escola, posto de saúde, estação de tratamento de esgoto e umas casas sendo entregues a Fundação Renova, certamente, irá considerar como reassentamento entregue. Vão colocar o ônus do atraso do restante nos atingidos, dizendo que estão querendo algo além do direito deles”.
Carlos Tannus, diretor de infraestrutura da obra, explicou que cada morador teve liberdade para desenhar a casa junto com um arquiteto. Assim, nenhuma imóvel é igual. Há residências com dois andares e até 400 metros quadrados de área construída. Ele ressaltou que essa personalização atrasa a obra e citou a pandemia como problema para o andamento da execução do projeto.
Sobre o problema de as famílias mudarem mesmo sem a finalização de 100% das obras, Tannus explicou que tudo será isolado por tapumes, terá limpeza diária e outras ações para evitar o impacto.
Rompimento da barragem
A barragem de Fundão rompeu em 5 de novembro de 2015, em Mariana, na região Central de Minas. Até hoje, nenhum responsável foi punido criminalmente pelas 19 mortes registradas no rompimento, pela devastação dos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo e pela contaminação provocada pela lama da Samarco na bacia do Rio Doce - que atingiu dezenas de municípios mineiros e capixabas.
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