O assunto por si só é chocante, mas é preciso entender a dimensão do drama que atinge meninas e mulheres de todas as idades e classes sociais. E a dimensão está nos números, que precisam ser conhecidos. Atualmente, cerca de 50% das mulheres estupradas atendidas pelo serviço especializado do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estão grávidas. A unidade de saúde recebe, em média, seis novos casos de violência sexual por mês e, ao menos três vítimas estão grávidas.
Um estudo feito pelo Serviço de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual do Hospital das Clínicas mostra que a média de idade das vítimas, em 2020, foi de 25 anos.
A professora da Faculdade de Medicina da UFMG e chefe do Serviço, Sara de Pinho Cunha Paiva, explica que essas mulheres chegam à unidade, geralmente, por conta própria e, a maioria, não faz boletim de ocorrência, o que indica que os dados oficiais são bastante subnotificados.
“As meninas e mulheres que buscam o atendimento no Hospital das Clínicas da UFMG, geralmente, vêm por conta própria. Algumas poucas pacientes fazem boletim de ocorrência e são encaminhadas pela polícia”, disse.
A médica ressalta que cerca de 50% das meninas e mulheres estupradas que procuram o atendimento estão grávidas.
“Cerca de 50% das meninas e mulheres que buscam atendimento no Hospital das Clínicas da UFMG engravidaram em decorrência de um estupro. Para solicitar a interrupção legal da gestação é importante que todos saibam que não é necessário a realização do boletim de ocorrência. O que vale é a palavra da paciente”, explicou.
A especialista disse que, nos casos de gestação em decorrência de violência sexual, a unidade de saúde oferece duas formas de acompanhamento: “A paciente pode levar a gestação adiante, fazer o acompanhamento pré-natal e o parto no nosso hospital”, disse. Caso a paciente não queira ficar com o bebê, a criança é, imediatamente, levada para unidade neonatal e, posteriormente, entregue ao Conselho Tutelar.
“A outra forma de acompanhamento ocorre caso a paciente que não queira levar a gestação adiante. A paciente pode solicitar a interrupção legal da gestação. Este procedimento pode ser autorizado após a manifestação da paciente e se for constatado que a idade gestacional é realmente compatível com a data da violência sexual”, completou.
Assistência
Todas as vítimas de violência sexual são acompanhadas por meses para minimizar riscos para saúde. “Todas essas pacientes atendidas são aconselhadas a fazer o acompanhamento por, no mínimo, seis meses. Durante esse período, a paciente vai fazer exames de sangue com a intenção de avaliar o risco dela ter adquirido alguma infecção sexualmente transmissível”, explicou.
Além disso, segundo a especialista, a paciente vai receber um acompanhamento ginecológico, planejamento familiar, instruções e orientações sobre métodos contraceptivos. “Ela podem ainda, inserir, gratuitamente, um DIU de cobre”, acrescentou.
Além do acompanhamento clínico e ginecológico, essas meninas e mulheres recebem acompanhamento emocional com consultas regulares.
“Caso as pacientes não busquem ajuda, elas podem sofrer com o aumento do risco de desenvolver transtornos depressivos, transtornos de ansiedade e transtornos alimentares - aumentando assim o risco dessas pacientes para desenvolver hábitos como alcoolismo e uso de drogas. Com o aumento da vulnerabilidade, podem ocorrer tentativas de autoextermínio e até a morte”, completou.