Facções criminosas no Brasil, como o Comando Vermelho (CV), não sobrevivem mais exclusivamente da venda de maconha e cocaína, mas sim da exploração de territórios e de um sistema generalizado de extorsão que atinge serviços essenciais e pequenos comerciantes. O alerta é de Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope. Em entrevista à CNN, Pimentel comentou a megaoperação contra o CV que matou mais de 120 pessoas.
Para o ex-capitão do Bope, a nova dinâmica do crime organizado visa à ocupação territorial, tirando o poder do Estado e colocando a opressão criminosa.
“Existe também uma verdade que ninguém comenta: essas facções não sobrevivem mais de maconha e cocaína; elas sobrevivem da exploração do território. Isso inclui o cigarro paraguaio, o sinal de TV e internet do Comando Vermelho, que é o CVNET, o botijão de gás superfaturado, a extorsão à padaria, a extorsão ao açougue e a extorsão ao vendedor de churrasco. Há duas semanas, um jovem que vendia churrasco em Fortaleza foi assassinado porque não pagou R$ 1 mil da caixinha do Comando Vermelho no bairro”, disse Pimentel, que criticou o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, o qual argumentou que a segurança é dever dos estados.
Barricadas
Pimentel explicou que, no Rio de Janeiro, o controle territorial é explicitado pelas barricadas instaladas em várias comunidades. “A Universidade Federal Fluminense (UFF) aponta que 4 milhões de cariocas e fluminenses vivem atrás de barricadas. Só o Batalhão de Operações Especiais (Bope) retira, por semana, 90 toneladas de barricadas no Rio de Janeiro. São 5 mil barricadas, e cada uma delas estabelece o território, o feudo do Comando Vermelho. A partir dali, o morador não tem mais direito ao Samu, não tem mais direito à limpeza urbana, não tem direito a chamar o Uber. A barricada não é para evitar a entrada do caveirão; a barricada serve para estabelecer onde eu começo a cobrar o dinheiro das pessoas que eu oprimo”, disse.
A dinâmica de ocupação e exploração gera uma crise humanitária em cidades como Fortaleza, capital do Ceará — situação classificada pelo ex-capitão do Bope como caracterizada pelo “êxodo urbano de guerra”. Milhares de famílias estão sendo expulsas de suas casas pelo Comando Vermelho, que simplesmente informa: “Você não mora mais aqui; eu vou alugar sua casa para alguém.”