Caso gari: colega de trabalho diz em audiência que Laudemir foi morto por ser pobre em BH

Audiência ocorre no 1º Tribunal do Júri Sumariante, no Barro Preto; a etapa do julgamento, que tem o objetivo de reunir provas diretas, conta com a previsão dos depoimentos de oito testemunhas de acusação

Renê Júnior confessou ter matado Laudemir Fernandes, porém alega que tiro foi acidental

“Ele deixou a gente com aquela sensação de que fomos vítimas por estar ali trabalhando e por não ter a mesma oportunidade financeira que ele.” Essa foi a declaração de Eledias Aparecida Rodrigues, 44 anos, motorista do caminhão de lixo e uma das principais testemunhas do caso envolvendo o gari Laudemir Fernandes, 44, morto no dia 11 de agosto, no bairro Vista Alegre, na Região Oeste de Belo Horizonte.

Ela compareceu, nesta terça-feira (25), à audiência do empresário Renê da Silva Nogueira, 47, autor confesso, que acontece no 1º Tribunal do Júri Sumariante, no Barro Preto, Região Centro-Sul da capital mineira. Ela contou que o crime abalou profundamente toda a equipe, que ficou “muito triste e chocada” e, desde então, só consegue dormir com medicação.

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Eledias afirmou sentir que foi vítima do poder econômico do réu, Renê, que, segundo ela, usou dessa posição para constrangê-la e aos colegas. Sobre a carta de desculpas enviada por ele à defesa, em que pedia perdão e alegava que tudo foi um acidente, ela negou: “Não, não foi um acidente”.

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Segundo a testemunha, o agressor teve tempo para agir conscientemente: “Ele freou o carro, desceu, deixou o carregador cair, teve tempo para pensar e mirou em direção a mim e ao Thiago. Ele teve todo o tempo para pensar. Ele mirou, ele tinha um alvo, ele queria fazer aquilo”.

A audiência teve início às 9h e também contou com a presença de Thiago Rodrigues, outro colega de Laudemir e testemunha, que afirmou que sua rotina de trabalho foi alterada. Ele e seus companheiros optaram por mudar a rota anterior devido ao impacto de terem segurado o colega morrendo nos braços.

Além do trauma, Thiago lamentou o desrespeito contínuo de algumas pessoas na rua, que fazem brincadeiras e xingamentos. Ele relatou ter ouvido motoristas fazerem piadas com a tragédia: “Cuidado, hein? Cuidado com o tal do Renê aí, hein”.

“Eu espero que a Justiça não seja falha, né? Que não passe a mão na cabeça de gente desse nível. Porque, se ele sair daí como se nada tivesse acontecido — como eu acabei de falar, como se tudo fosse uma brincadeira — quem garante que, na próxima esquina, não vai fazer de novo? Vai matar de novo e depois dizer que não foi ele.”

O caminho para o Júri Popular

O advogado da família de Laudemir, Tiago Lenoir explicou que a audiência de instrução e julgamento serve para o juiz formar sua decisão com base nas provas apresentadas em audiência, diferentemente do que ocorre no inquérito policial. O resultado esperado é a sentença de pronúncia, que encaminha o réu para o Tribunal do Júri.

“Então, nós temos aqui autoria e materialidade muito bem definidas e esperamos que, ao final, a juíza entregue o caso aos juízes de fato, que são os jurados do Tribunal do Júri. Hoje e amanhã ouviremos primeiro as testemunhas de acusação, depois as testemunhas de defesa e, por último, o réu será interrogado. Depois, abre-se um prazo para que o Ministério Público e a assistência de acusação apresentem seus memoriais; a defesa também apresenta os dela e, ao final, esperamos a sentença de pronúncia, levando ele a júri popular para que seja devidamente julgado e condenado pela sociedade de Belo Horizonte”, disse.

As duas audiências não têm previsão de término.

Renê responde por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, porte ilegal de arma de fogo e fraude processual. Ele está preso desde o dia do crime, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A Justiça não informou se ele irá participar da audiência de forma presencial ou virtual.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Jornalista formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Na Itatiaia desde 2008, é “cria” da rádio, onde começou como estagiário. É especialista na cobertura de jornalismo policial e também assuntos factuais. Também participou de coberturas especiais em BH, Minas Gerais e outros estados. Além de repórter, é também apresentador do programa Itatiaia Patrulha na ausência do titular e amigo, Renato Rios Neto.

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