A morte de uma menina de 6 anos e de sua mãe, de 32, após a
Dados da Secretaria Municipal de Saúde mostram que os atendimentos relacionados ao transtorno passaram de 35.962, entre janeiro e novembro de 2024, para 51.191 no mesmo período de 2025. A média é de 153 atendimentos por dia em toda a rede de assistência do município.
“As pessoas vivem sob pressão constante. É preocupação com dinheiro, cobrança, sono ruim, relações superficiais. Esse estresse prolongado muda o funcionamento do cérebro e afeta nossas emoções”, analisa a neuropsicóloga Gisele Dornelas, que também aponta uma maior consciência da população em relação à saúde mental, o que ajuda a explicar o aumento.
O crescimento nos atendimentos por depressão em 2025 interrompe uma sequência de quatro anos de queda em Belo Horizonte, conforme o mesmo levantamento. Em 2021, segundo ano da pandemia de Covid-19, foram registrados 58.153 atendimentos, número que caiu para 38.786 em 2024, uma redução de 33%.
“A pandemia foi um trauma coletivo, e um trauma não termina quando o evento se encerra. Desde aquele período, muitas pessoas passaram a viver em estado de alerta constante. Isso gera ansiedade e esgotamento emocional, aumentando o risco de depressão”, acrescenta a neuropsicóloga.
Os anos de crise sanitária, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, foram os que registraram o maior número de atendimentos a pacientes com depressão na rede da capital. Além dos mais de 58 mil atendimentos em 2021, foram registrados 57.317 em 2020, ano do primeiro caso de Covid-19. Já em 2022, quando as medidas de isolamento social foram flexibilizadas devido à diminuição no número de pessoas infectadas, foram 55.139.
“Muitos que desenvolveram depressão durante a crise sanitária permaneceram com sintomas persistentes, um fenômeno já documentado em diversos estudos. Para alguns grupos, especialmente aqueles com predisposição biológica ou histórico familiar, a pandemia atuou como um gatilho relevante”, indica a psiquiatra Cintia Braga.
Atendimentos por depressão na rede pública de saúde de BH
- 2020 - 57.317
- 2021 - 58.153
- 2022 - 55.139
- 2023 - 51.946
- 2024 - 38.786
- 2025 - 51.191*
*Entre janeiro e novembro
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte
A depressão
De acordo com o Ministério da Saúde, a depressão é uma doença mental grave, que atinge 15,5% da população brasileira. Esse transtorno, conforme a pasta, é ocasionado por questões genéticas, deficiência de substâncias cerebrais, chamadas neurotransmissores, além de eventos estressantes. “Ela afeta o modo como a pessoa pensa, age e sente. A pessoa vai perdendo o prazer nas atividades simples do dia a dia. Não é uma fraqueza, falta de fé ou preguiça”, destaca a neuropsicóloga Gisele Dornelas.
Os sintomas mais comuns da depressão, segundo o Ministério da Saúde, incluem sensação persistente de tristeza, autodesvalorização e sentimento de culpa. Também podem ocorrer retardo motor, insônia ou sonolência, aumento do apetite por carboidratos e doces, além de redução do interesse sexual. A condição pode ainda provocar mal-estar, cansaço, queixas digestivas, dor no peito e taquicardia.
"É importante lembrar que a manifestação é muito heterogênea. Algumas pessoas apresentam sintomas mais evidentes, clássicos, enquanto outras mantêm a rotina, mas com grande esforço interno, o que pode dificultar o reconhecimento do problema”, reforça a psiquiatra Cintia Braga.
Doença silenciosa
Em entrevista à Itatiaia, uma amiga da
Para a psiquiatra Cintia Braga, quadros silenciosos, como o da vítima, são comuns e fogem aos estereótipos da doença. “Há casos em que o indivíduo mantém trabalho, estudos e responsabilidades, mas vive um grande sofrimento interno, com sintomas como vazio emocional, perda de prazer, pensamentos negativos persistentes ou mesmo pensamentos de morte que não são comunicados”, aponta.
A neuropsicóloga Gisele Dornelas destaca que, em casos silenciosos, a assistência da família se torna primordial na recuperação do paciente. “Apoiar sem pressionar, estimulando o tratamento e o ritmo de cada pessoa. É um dia de cada vez. Para a pessoa diagnosticada, é importante considerar pedir ajuda. Isso é um sinal de coragem, e não de fraqueza. Quanto mais cedo, mais importante”, conclui.
Estrutura para a população
De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, a rede municipal de saúde conta com Centros de Referência em Saúde Mental (CERSAMs). Esses serviços são destinados ao acolhimento de situações de crise e urgência, além do acompanhamento de pessoas com sofrimento psíquico em quadros graves e persistentes. “O acolhimento nos CERSAMs ocorre por demanda espontânea ou por encaminhamento de outros dispositivos da rede SUS-BH. Trata-se de um serviço aberto para atendimentos em saúde mental em momentos de crise e urgência”, orienta.
Atualmente, a cidade possui oito Centros de Referência em Saúde Mental (CERSAMs), cinco Centros de Referência em Saúde Mental – Álcool e Outras Drogas (CERSAMs-AD) e três unidades especializadas em saúde mental de crianças e adolescentes (CERSAMis).
“Em situações de surto, a família ou o próprio usuário podem procurar a unidade básica de saúde de referência. O caso será avaliado por um profissional, que identificará se se trata de um transtorno mental comum ou grave, se há riscos ou necessidade de acompanhamento mais contínuo. Se necessário, o centro de saúde encaminhará o paciente para um CERSAM”, orienta a prefeitura.
A rede também é composta por 34 residências terapêuticas, oito Consultórios na Rua, duas Unidades de Acolhimento Transitório (adulto e infantojuvenil), nove Centros de Convivência, nove equipes complementares da infância e adolescência e o complexo de atendimento da atenção primária, formado por nove UPAs e 153 centros de saúde.
Busque ajuda
Pessoas que enfrentam questões relacionadas à saúde mental e precisam de apoio emocional também podem procurar acolhimento inicial através do número 188, do Centro de Valorização da Vida (CVV). O atendimento é realizado 24 horas, sem custo de ligação, e garante sigilo.