Entre montanhas e telhados, cem casas pintadas em cores vivas se unem para formar uma única tela gigante — o maior macro-mural do Brasil e um dos maiores da América Latina — que transforma a Vila São Luiz, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Depois de fazer do Centro da capital mineira um verdadeiro museu a céu aberto, com mais de 30 prédios pintados, as idealizadoras do Circuito Urbano de Arte (CURA) decidiram levar cor e arte para além de Belo Horizonte, começando pela cidade vizinha.
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“A Vila São Luiz e adjacências foram escolhidas por serem um território visível a partir do Espaço Cultural Piero Garzón, novo centro cultural da cidade. Isso reforça nosso conceito de ‘mirante’, onde a arte tem um ponto de vista de onde pode ser apreciada”, explicou uma das idealizadoras do projeto, Priscila Amoni, diretora do projeto.
Grupo de artistas desembarcam em Minas
O mural foi criado pelo coletivo MAHKU, grupo de artistas do povo Huni Kuin, do Acre, conhecido por levar para as pinturas temas como cura, floresta e conexão entre todos os seres.
“Essa escolha simboliza o encontro entre o urbano e o ancestral, entre a montanha mineira e a floresta amazônica — uma aliança poética e política que sintetiza a visão do Instituto CURA sobre regeneração urbana, luta pela floresta em pé e valorização das tradições milenares dos povos originários”, destacou a curadoria.
A iniciativa envolveu o Mahku (Movimento dos Artistas Huni Kuin) — grupo de artistas indígenas da Terra Indígena do Rio Jordão (AC)
Impacto na comunidade
Desde a fase inicial, o projeto foi construído junto à comunidade, em parceria com o grupo Parangolé, responsável pelas ações de mobilização social. Grande parte da equipe de pintura é composta por artistas locais, e até a alimentação fornecida durante a execução foi adquirida de produtores da região.
“Para além do envolvimento da comunidade na realização, existe um impacto que reverbera com o legado — uma economia que se movimenta após o projeto, um potencial turístico e cultural que se desenvolve ali”, acredita a equipe do CURA.
Os desafios
O projeto teve início em janeiro e durou cerca de nove meses. Do ponto de vista logístico, Priscila conta que o maior desafio foi montar uma operação que respeitasse o ritmo da comunidade e garantisse segurança e qualidade artística em larga escala.
“Do ponto de vista simbólico, o desafio foi traduzir o canto visual do MAHKU — que nasce de cantos e rezas indígenas — para um território urbano, sem perder sua força espiritual. É uma obra viva, feita de muitas mãos e muitas histórias”, completou Priscila.
Além do CURA, outras iniciativas também já levaram cor e arte a comunidades de Belo Horizonte. A produtora cultural Juliana Flores, que fundou o CURA e depois seguiu em outros projetos, criou o Morro Arte Mural (MAMU), responsável por colorir casas no Aglomerado da Serra (Região Centro-Sul) e no Morro do Papagaio (Região Centro-Sul), na Vila Cachoeirinha (Região Nordeste) e no Alto Vera Cruz (Região Leste).