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‘Arrume-se comigo': entenda como forma de fazer uma ‘trend’ no TikTok viola o Código de Trânsito

Garotas fazem desafio de maquiagem em cima de motos em movimento; além disso, não usam capacete, que é equipamento obrigatório

A tendência “Get Ready With Me”, ou “Arrume-se Comigo”, em português, é um verdadeiro fenômeno nas redes sociais. No TikTok, por exemplo, a hashtag GRWM (nome da sigla em inglês) tem mais de 16,6 milhões de publicações — e contando.

Nos vídeos, influenciadores e entusiastas se arrumam em frente à câmera do celular para diversas situações que vão de ir em festa de formatura até ao bar. O intuito é trocar dicas de estilo e maquiagem.

Na “trend”, cada vez mais os criadores tentam inovar o conteúdo. O que começou com um vídeo feito em casa, durante a arrumação, passou a ser feito no banheiro do trabalho, no ônibus, no avião e, agora, na garupa de motocicletas.

Nesses vídeos, os usuários associam normalmente o processo de arrumação à falta de tempo e a gravação é feita na parte traseira das motos, geralmente, com o celular nas costas do piloto.

Em alguns posts, os usuários aparecem até sem o uso de capacete, que é de uso obrigatório pelo Código Nacional de Trânsito (CTB).

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Segundo o assessor de educação no trânsito da Coordenadoria Estadual de Gestão de Trânsito (CET-MG), Fernando Sette Júnior, para além de estar cometendo uma infração, os condutores e garupas estão sujeitos a sofrer acidentes. “Quem está na garupa da moto deve estar, de alguma forma, preso. Colocando as mãos ou em quem está pilotando, ou segurando a alça traseira. Isso para garantir não somente o equilíbrio do veículo, mas também a segurança, pois se tiver qualquer deslize por parte do condutor, você consegue se segurar”, explicou.

Na maioria dos vídeos, os usuários estão com as mãos ocupadas segurando o telefone e os produtos de beleza.

Supondo que o condutor da moto esteja pilotando de forma tranquila e serena, a gente pode ter outros eventos externos que também podem ser um problema, às vezes o ‘encostão’ de algum carro, né, algum veículo, ou até mesmo alguma ação inesperada. Se a garupa não estiver segurando adequadamente, ele vai se desequilibrar e corre o risco de cair”.
Fernando Sette Júnior.

Nas publicações que a Itatiaia conferiu, algumas motos estão circulando em vias públicas, mas, em alguns vídeos, os criadores alegam que a gravação ocorreu em área privada, como um condomínio fechado, por exemplo. Porém, de acordo com o assessor de educação no trânsito, a justificativa de “baixo fluxo” de automóveis não funciona, já que as medidas de segurança também valem para esses espaços. “Essa questão vale tanto para ambientes públicos quanto privados”.

Ao gravar os vídeos, qual infração de trânsito está sendo cometida?

O CTB não tem uma legislação específica que proíba a gravação dos vídeos nas motos, porém, a situação pode ser enquadrada no Artigo 169, que diz que o condutor não pode dirigir — ou pilotar — “sem atenção ou sem os cuidados indispensáveis à segurança”, o que incluir comer, beber, fumar, assistindo vídeos, olhar para o lado ou conversar.

Qualquer tipo de distração é passível de penalidade, leve, mas ainda assim, penalidade. É preciso estar concentrado na via, então se o condutor, que está pilotando a mota, está mexendo no celular ou distraído, de qualquer forma, é passível sim de autuação e, mais do que isso, se você está distraído, não está prestando atenção na direção da via, o que consequentemente pode levar a um sinistro mais grave”.
— detalhou.

A violação ao artigo 169 caracteriza uma multa no valor de R$ 88,38 e a aplicação de três pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

No caso da ausência do capacete, seja pelo garupa ou pelo condutor, é considerada uma infração gravíssima, podendo levar até à suspensão da CNH. A multa é de R$ 293,47 e a aplicação de sete pontos na carteira.

Jornalista pela UFMG com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia desde 2022, atuou na produção de programas, na reportagem na Central de Trânsito e, atualmente, faz parte da editoria de Política.
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