O litoral do Rio Grande do Sul enfrenta uma infestação de águas-vivas, que tem provocado queimaduras em milhares de banhistas desde o final de dezembro. Foram registrados mais de 18 mil casos de queimaduras por águas-vidas, em duas semanas, nas praias do Rio Grande do Sul, segundo o Corpo de Bombeiros. O número é 256% maior do que as ocorrências do mesmo período na temporada de 2024.
De acordo com o MetSul, desde o início do verão, 14 mil banhistas já foram queimados por águas-vivas no litoral do Rio Grande do Sul. Em média, são mil pessoas por dia. No ano passado, a média diária foi de 750 casos.
De acordo com o Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da UFRGS, no momento são observadas três espécies de águas-vivas nas praias do Rio Grande do Sul, sendo duas que causam queimaduras nos banhistas. A primeira se caracteriza pelo aspecto gelatinoso e de pequeno tamanho com aspecto transparente com tentáculos rosa e laranja que provoca as queimaduras frequentes em todas as temporadas conhecidas como “reloginho”.
Outra espécie que vem causando queimaduras no litoral gaúcho é a chamada caravela portuguesa, que flutua e tem os tentáculos mais compridos, de coloração azul e roxa. De acordo com a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul, em caso de queimaduras por águas-vivas (ou mães-d’água), o melhor remédio é o vinagre.
As águas-vivas e o efeito do vinagre
As águas-vivas são animais marinhos, chamados de cnidários. Possuem pequenos tentáculos que contêm células urticantes (nematocistos), que queimam em contato com a pele. “A água doce agrava a queimadura, pois dispara as toxinas de nematocistos que eventualmente estavam intactos”, informa a bióloga.
Já o vinagre possui a capacidade de neutralizar a sensação de desconforto no local. Kátia esclarece ainda que, se algum tentáculo ficar grudado na pele, não se deve puxar quando estiver fora da água.
Também podem ser feitas compressas com o líquido. Não devem ser aplicadas substâncias sem indicação médica, nem pisar ou manipular animais mortos na beira da praia, pois eles ainda podem causar acidentes.
Especialistas fazem uma relação direta entre o aumento da temperatura superficial do mar e a proliferação de águas-vivas na costa brasileira.
Ainda de acordo com a MetSul, à medida que o clima global muda, o aquecimento dos oceanos acelera em um ritmo sem precedentes, os níveis do mar sobem e muitas espécies marinhas enfrentam extinção. Contudo, as águas aquecidas favorecem uma espécie em particular: as águas-vivas, que prosperam em um ambiente modificado pela crise climática.
Apesar das dificuldades em quantificar suas populações, estudos indicam que as águas-vivas têm aumentado em pelo menos 68 ecossistemas desde 1950, adaptando-se aos impactos ambientais causados pelo homem. Esses aumentos são impulsionados por fatores como o aquecimento das águas, que desloca recifes de corais tropicais para regiões mais temperadas, criando espaço para novas espécies, incluindo as águas-vivas.
Especialistas fazem uma relação direta entre o aumento da temperatura superficial do mar e a proliferação de águas-vivas na costa brasileira. A oceanógrafa Regina Rodrigues começou uma pesquisa sobre o fenômeno e, a partir de um levantamento de casos desde 2019 no litoral catarinense, afirma que as aparições sempre ocorrem em períodos de onda de calor.
“É possível ver a correlação”, destacou a professora de Oceanografia Física e Clima da Universidade Federal de Santa Catarina, Regina Rodrigues, em uma entrevista ao jornal O Globo durante outro surto de infestação de águas-vivas que afetou as praias do Sul do Brasil.
“Quanto mais quente é a temperatura da água dos oceanos, maior a chance de águas-vivas. Isso aumenta a população da espécie e, como coincide com a chegada dos banhistas, principalmente, a gente tem esse boom reprodutivo”, explicou a professora de biologia marinha Carla Menegola.