46,2% dos adultos e 17,9% dos adolescentes no mundo participaram de algum tipo de jogo de aposta no ano anterior. Desses, 10,3% dos adolescentes jogaram online. Esses são dados alarmantes divulgados em um artigo publicado pela comissão de saúde pública do Lancet Public Health para chamar atenção
O alto risco do vício preocupa especialistas, principalmente, agora, que os jogos on-line são cada vez mais acessíveis por meio de aplicativos de celulares, sem a necessidade de sair de casa.
É importante lembrar que plataformas de apostas são vetadas para menores de 18 anos.
O psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein, explicou, por meio de um artigo publicado na Agência Einstein, que os jogos são projetados para serem rápidos e intensos, provocando uma experiência de satisfação passageira. Eles ativam o sistema de recompensa do cérebro, que está ligado à liberação de dopamina, um neurotransmissor que gera sensações de prazer.
“Quando uma pessoa aposta e ganha, essa liberação de dopamina gera uma sensação de prazer e recompensa que incentiva a repetir o comportamento”, explica Kanomata. “Mas mesmo em situações de perda, o cérebro mantém a expectativa de que pode ganhar no próximo jogo. A mecânica por trás acaba por incentivar o engajamento repetido e contínuo.”
Segundo o psiquiatra, as situações em que a pessoa “quase ganha” geram a expectativa de que uma vitória está próxima, incentivando-a a continuar. Contudo, as recompensas que ocorrem em intervalos aleatórios e imprevisíveis. “Esse tipo de reforço é mais eficaz em promover o comportamento repetitivo, pois o jogador nunca sabe quando vai ganhar e, assim, é impulsionado a continuar tentando para buscar essa recompensa incerta”, diz.
Por fim, o jogo também pode ser uma válvula de escape para outros problemas. Por isso, o vício pode estar associado a depressão, ansiedade, ideação suicida e transtornos relacionados ao uso de álcool, tabaco e outras drogas.
Como detectar quando a pessoa tem um transtorno? É preciso observar sinais comportamentais, emocionais e financeiros que indicam se a pessoa perdeu o controle. Veja alguns deles abaixo
- Pode ocorrer um padrão de “recuperar as perdas”, acompanhado da necessidade urgente de continuar jogando (até tomando maiores riscos) a fim de compensar o que perdeu;
- Mentir para familiares, amigos ou outras pessoas para esconder a extensão de seu envolvimento e comportamentos ilícitos, como falsificação, fraude, roubo ou estelionato para a obtenção de dinheiro;
- Também vale ficar atento quando há negação, superstições, sentimentos de controle sobre os resultados e excesso de confiança;
- Mesmo que o indivíduo reconheça o problema, o estigma social, a vergonha e a falta de acesso a serviços de saúde podem dificultar o início e a continuidade do tratamento.
Como jogar sem risco?
O especialista esclarece que é importante estabelecer limites com relação ao tempo e o dinheiro a ser gasto nessa atividade. Também vale estipular períodos sem apostas para evitar que vire um hábito.
“É importante ter consciência do risco de perdas, principalmente porque muitos jogos são desenhados para obter e maximizar lucros. Assim, devem ser encarados como uma forma de entretenimento, e não como uma maneira de ganhar dinheiro e muito menos tentar recuperar o dinheiro com apostas adicionais”, finalizou.