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Ouvidor das Polícias vai a velório de criança morta durante tiroteio em Santos (SP)

Além de Ryan da Silva Andrade, de 4 anos, um adolescente, de 17 anos, morreu no tiroteio com agentes de segurança; entidades criticam ação da polícia na Baixada Santista

O ouvidor das polícias de São Paulo, Cláudio Silva, vai ao velório de Ryan da Silva Andrade, de 4 anos, atingido durante um confronto entre suspeitos e policiais no Morro São Bento, em Santos, litoral sul paulista, na última terça-feira (5). A cerimônia começa às 8h, no Cemitério Água Branca. Gregory Ribeiro Vasconcelos, de 17 anos, que segundo a PM, era um suspeito de tráfico de drogas, também morreu no tiroteio. Outro adolescente, de 15 anos, foi baleado e encaminhado a um hospital sob escolta.

A versão da PM, apresentada em coletiva na quarta-feira (6), afirma que os policiais estavam em patrulhamento quando foram atacados por um grupo de aproximadamente dez pessoas. O coronel Emerson Massera, porta-voz da PM, admitiu que o tiro que atingiu Ryan provavelmente partiu de um dos policiais.

O coronel também mencionou que cerca de oito suspeitos conseguiram fugir após o confronto. “Os policiais precisaram se defender, por isso efetuaram disparos contra esses criminosos”, afirmou Massera.

Para a PM, os agentes não são considerados culpados. Nenhum usava câmera corporal, pois a ocorrência se deu em uma área sem esse equipamento. A Secretaria de Segurança Pública reiterou a versão da PM e informou que os agentes envolvidos estão afastados da atividade operacional.

Segundo a Ouvidoria das Polícias de São Paulo, “é inadmissível que a gestão da Secretaria da Segurança Pública do Estado, assim como o comando da Polícia Militar, considere a morte, sobretudo de crianças, como um resultado aceitável da atuação das forças policiais. Este tem sido o resultado cada vez mais comum da atuação violenta e desmedida da PM-SP em bairros pobres e nas periferias do estado”.

Nessa quarta (6), a mãe de Ryan da Silva Andrade Santos, Beatriz da Silva Rosa, detalhou que sua família acabou em 9 meses. Isso porque, em fevereiro deste ano, Leonel Andrade Santos, de 36 anos, também morreu atingido por um tiro da polícia durante uma ação. Na época, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que o homem foi baleado por apontar a arma para os PMs em uma ocorrência de tráfico de drogas. Já familiares e vizinhos que testemunharam o ocorrido informaram que os agentes chegaram atirando.

“Meu sentimento é de revolta. Eu perdi meu marido tem nove meses, a polícia matou. Agora eu perdi o meu filho assim”, lamentou a mulher. O marido foi morto em 9 de fevereiro deste ano, enquanto o filho na noite de terça-feira (5), disse Beatriz.

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Nota completa da ouvidoria e entidades contra as ações policiais da polícia na Baixada Santista

“As organizações que assinam esta nota vêm manifestar seu repúdio e indignação com a morte de Gregory Ribeiro Vasconcelos, de 17 anos, e de Ryan da Silva Andrade Santos, de apenas 4 anos de idade, durante uma operação da Polícia Militar do Estado de São Paulo na noite de ontem (05) no Morro São Bento, em Santos. Ryan estava brincando com outras crianças na calçada em frente à casa de uma prima, quando foi atingido por um disparo, que segundo o próprio porta-voz da PM “provavelmente partiu da arma de um policial”.

É inadmissível que a gestão da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo, assim como o comando da PMESP, considere a morte, sobretudo de crianças, como um resultado aceitável da atuação das forças policiais. Este tem sido o resultado cada vez mais comum da atuação violenta e desmedida da PMESP em bairros pobres e nas periferias do estado. Em abril deste ano, em Paraisópolis, uma criança de 7 anos de idade foi ferida no olho e perdeu a visão após ser atingida por um disparo durante uma operação da PMESP enquanto ia para escola. Um mês antes, em março, Edneia Fernandes Silva, mãe de seis crianças, foi morta por um tiro na cabeça em uma praça de Santos, durante uma intervenção da PMESP na chamada Operação Verão. Fica evidente que a trágica morte de Ryan não é um incidente isolado, mas sim consequência de um modo de atuação pautado pelo conflito e uso da força desmedida, que promove mortes e a violação de direitos fundamentais, sobretudo nas periferias do estado.

Durante a segunda fase da Operação Escudo/Verão, entre janeiro e abril deste ano, o pai do pequeno Ryan, Leonel Andrade dos Santos, foi morto pela PMESP, além de outras 56 pessoas assassinadas pela polícia, sob o argumento que ele era acusado de outros crimes e que havia sacado uma arma de fogo. Familiares e vizinhos, escutados por integrantes das organizações que assinam esta nota, afirmam que não houve sequer uma abordagem e que Leonel era deficiente físico. Ele e um vizinho foram executados pelos policiais. A morte de pessoas em operações policiais, além de gerar impactos incomensuráveis para as famílias, mina a confiança das comunidades afetadas na polícia, fortalecendo, inclusive, o próprio crime organizado. O que o Estado de São Paulo precisa é de uma polícia profissional que seja capaz de investigar os crimes mais graves, agir dentro da lei e de romper com o ciclo criminal atacando o alto escalão do crime organizado. Não de uma força policial que gere mais violência e mortes.

Mas o que temos visto na atual gestão é o oposto, com a realização de ações indicativas de execuções sumárias por agentes policiais, sem freios ou controles efetivos para os repetidos abusos aos direitos fundamentais. Aparentemente a gestão e os agentes policiais que atuam em locais empobrecidos abandonaram o uso dos protocolos, a construção de uma relação de confiança com a comunidade e até mesmo a sua própria segurança, em nome de resultados operacionais que não desestruturam o crime organizado. Vemos uma polícia militar que se sente legitimada para agir com truculência e verbalizando vingança, negligenciando o profissionalismo.

As organizações que assinam esta nota reiteram sua indignação com a morte de Ryan da Silva Andrade Santos, e, em solidariedade aos seus familiares, estarão presentes no enterro, marcado para o dia 07/11 às 8 da manhã no Cemitério da Areia Branca, em Santos.

Nos solidarizamos ainda com as famílias de Gregory Ribeiro Vasconcelos, de 17 anos, morto pela PMESP na operação policial, e do adolescente de 15 anos hospitalizado, também atingido por tiros de policiais militares.

Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo

Associação AMPARAR

Bancada Feminista - Deputada Estadual

Centro de Direitos Humanos e Educação Popular

Comissão Arns

Conectas Direitos Humanos

Ediane Maria - Deputada Estadual

Eduardo Suplicy - Deputado Estadual

Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Instituto Sou da Paz

Instituto Vladimir Herzog

Movimento Independente Mães de Maio

Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio”


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Yuri Cavalieri é jornalista e tem mais de 11 anos de experiência em rádio e televisão. Formado pela Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo, onde nasceu, começou a carreira na Rádio Bandeirantes, empresa na qual ficou por mais de 8 anos como editor, repórter e apresentador. Ainda no rádio, trabalhou durante 2 anos na CBN, como apurador e repórter. Na TV, passou pela Band duas vezes. Primeiro, como coordenador de Rede para os principais telejornais da emissora, como Jornal da Band, Brasil Urgente e Bora Brasil, e repórter para o Primeiro Jornal. Em sua segunda passagem trabalhou como produtor de séries e reportagens especiais do Jornal da Band. Atualmente, é correspondente da Itatiaia em São Paulo.
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