Um estudo publicado na revista Frontiers in Public Health encontrou metais no leite materno que não são vitais para o corpo humano. Os pesquisadores encontraram substâncias como arsênio, mercúrio e chumbo. O último pode afetar o desenvolvimento da linguagem nos bebês.
Foram observadas 185 lactantes em São Paulo. Um terço dessas mulheres apresentaram o leite contaminado. As mães podem ser expostas a metais pesados pelo ar, pela água e pelo solo. No ar, o material particulado pode vir, por exemplo, da fumaça dos carros.
Nathalia Naspolini, pós-doutoranda associada ao Laboratório de Microbioma Humano (ICB-II/USP) e uma das responsáveis pelo estudo, explica que “além disso, o chumbo e muitos outros metais são emitidos por indústrias, principalmente siderúrgicas. O descarte inadequado ou o lançamento dos restos industriais no meio ambiente pode contaminar os alimentos e a água. Poderiam ser várias formas de exposição da mãe”.
Segundo o estudo, a maior taxa de detecção no leite humano foi de arsênio (38,6%), mercúrio (23,9%) e chumbo (22,8%). A concentração média (DP) foi de 2,76 (4,09) μg/L; 1,96 (6,68); 2,09 (5,36); respectivamente.
Foi utilizada a escala Bayley III, que mede o desenvolvimento infantil, para avaliar crianças de três meses, entre cinco e nove meses e entre 10 e 16 meses. A pesquisa mostrou que os bebês expostos ao chumbo têm um declínio do desenvolvimento da linguagem comparado aos que não tiveram contato com o metal.
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A pesquisadora lembra que o Bayley III não é um teste de diagnóstico, e que o bebê, mesmo que não tenha atingido a marca de desenvolvimento esperada para sua idade, pode alcançá-la posteriormente e não apresentar nenhum problema de crescimento. “Mas pode ser que não, pode ser que na vida adulta ele fique com algum comprometimento. Aí você precisaria de estudos mais longos para saber”, argumenta.
Importância da amamentação
Apesar da presença do chumbo no leite e da relação dele com o desenvolvimento infantil, a amamentação segue sendo a melhor opção para nutrir os bebês. A OMS classifica a amamentação como uma das formas mais eficazes de garantir saúde ao longo de toda a infância.
O leite materno é seguro, limpo e contém anticorpos que ajudam a proteger contra diversas doenças infantis comuns. Ele fornece toda a energia e os nutrientes que o bebê precisa durante os primeiros meses de vida, fornece pelo menos a metade das necessidades nutricionais de uma criança durante a segunda metade do primeiro ano de vida e até um terço das necessidades nutricionais durante o segundo ano de vida.
Além disso, a OMS destaca que crianças que se alimentaram do leite materno têm melhor desempenho em testes de inteligência, menos probabilidade de apresentar excesso de peso ou obesidade e são menos propensas a diabetes na vida adulta.