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Benefícios e desafios da tecnologia na educação

Acertar o equilíbrio entre a tecnologia e a educação de qualidade tem sido um desafio para as instituições educacionais do Brasil e do Mundo

“No meu tempo, eu tinha que ir na biblioteca fazer pesquisa em enciclopédia, agora vocês têm tudo na palma da mão”. Essa é uma afirmação comum quando pessoas nascidas entre os anos 1960 e 1990 comentam sobre o período em que estudavam. Décadas depois, em 2024, é inegável que a entrada da tecnologia na vida dos estudantes é uma das grandes facilitadoras do acesso ao ensino e a conteúdos educacionais. Contudo, com a evolução constante desses mecanismos, além dos benefícios, escolas atualmente enfrentam grandes desafios para que eles sejam, de fato, benéficos para os estudantes.

Conforme o Relatório de Monitoramento Global da Educação de 2023, promovido pela Unesco, apesar do grande acesso às tecnologias de informação e comunicação (TIC) - no Brasil, 84% da população e 94% das escolas têm acesso à internet segundo pesquisa TIC domicílios 2023 - poucos alunos as utilizam para estudar. O estudo exemplifica, que mesmo em países ricos, apenas 10% dos estudantes de 15 anos usavam aparelhos digitais por mais de uma hora por semana para estudar matemática e ciência.

Simultaneamente, o relatório da Unesco mostra que rádios, televisões e celulares substituíram os métodos de educação tradicionais em populações de difícil acesso. Por exemplo, no México, aulas transmitidas pela televisão, em conjunto com o apoio nas salas de aula, aumentou 21% o número de matrículas escolares.

Esses cenários representam a complexidade e a dualidade da tecnologia e o aprendizado, no Brasil e no mundo.

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Equilíbrio entre tecnologia e educação

À Itatiaia, Lizandra Fazito, coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental do colégio Bernoulli, explicou, que na atualidade o equilíbrio entre a tecnologia e a educação são essenciais para o aprendizado. “Os estudantes dessa geração são nativos digitais, a tecnologia e as telas já fazem parte da vida deles. Então, não tem como removê-la do aprendizado, mas há a necessidade de que haja uma intencionalidade pedagógica ao incorporar as tecnologias nas salas de aula”, pontua.

Muito mais que a facilidade ao acesso a conteúdos educacionais, a tecnologia nos últimos 20 anos mudou a forma em que a sociedade vê o mundo e, principalmente, a forma que crianças e adolescentes interagem com as estruturas sociais, como escola e família."Nós não podemos pensar em dar aula para essa geração pensando nos recursos que a gente tinha há 10 anos. Porque é uma geração do super estímulo visual. Eles têm tudo muito rápido e podem escolher o que querem consumir. Temos que nos adaptar a forma de aprendizado deles. Mas é preciso estabelecer limites porque tem hora que não tem como escolher na educação”, esclarece.

É importante considerar, que os impactos das tecnologias digitais nos ambientes escolares variam conforme o nível socioeconômico das comunidades, com a aceitação e o preparo de cada professor, com o nível de educação e renda do país. Ou seja, se um município é mais desenvolvido e possuí professores mais qualificados e comprometidos com os alunos e, além disso, possuí uma comunidade de pais e responsáveis engajados na educação dos filhos, a tecnologia tende a ser melhor utilizada na aprendizagem dos estudantes.

Educação e tecnologia durante a pandemia da Covid-19

Durante a pandemia do Covid-19, entre 2020 e 2021, cerca de 79% das escolas brasileiras utilizaram o recurso de aulas em vídeo gravadas para disponibilizarem conteúdos aos alunos, de acordo com levantamento Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) - o que diminuiu parte do colapso da educação do Brasil.

No entanto, a tecnologia atuou apenas como uma medida paliativa para o déficit educacional brasileiro. “Com a pandemia, a discrepância educacional entre alunos de escola pública e particulares, que já era expressiva, aumentou ainda mais. Isso, porque a grande maioria das escolas públicas não conseguiram se adaptar ao ensino remoto, o que gerou uma grande lacuna no aprendizado desses alunos”, aponta Lizandra.

No mundo, durante a pandemia, o ensino à distância teve um alcance potencial de mais de 1 bilhão de estudantes, mas quase meio bilhão não tiveram acesso às tecnologias para estudarem remotamente - representando 31% dos estudantes de todo mundo.

Conectividade

Mesmo com as elevadas taxas de acesso, muitas instituições educacionais brasileiras relataram dificuldades, em de fato, manter a conectividade. Por exemplo, 55% das escolas públicas estaduais relataram situações como o sinal da internet não chegar em salas localizadas longe dos roteadores, 50% das escolas afirmaram que o sinal da internet não suporta muitos acessos simultâneos.

Em escolas particulares, apesar de possuírem maiores e melhores recursos, os mesmos problemas foram relatados, ainda que em taxas menores. Nesse cenário, 21% das instituições privadas sofrem com a baixa conectividade em salas de aulas distantes dos roteadores e 15% sofrem com o sinal que não suporta vários aparelhos conectados ao mesmo tempo.


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Ana Luisa Sales é jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia desde 2022, já passou por empresas como ArcelorMittal e Record TV Minas. Atualmente, escreve para as editorias de cidades, saúde e entretenimento