A Itatiaia acompanhou a rotina de voluntários que arriscam a própria vida para levar mantimentos de Porto Alegre até a cidade de Guaíba, do outro lado do rio de mesmo nome. Para isso, é preciso enfrentar a correnteza e desviar dos obstáculos para atravessar o rio Guaíba.
Entre as pessoas que se dedicam a missão de ajudar o próximo está João Mateus. O voluntário conta que mora na capital gaúcha, mas que a mãe vive em Guaíba. Desde o início das inundações, ele não consegue contato com ela.
“Não é fácil. Desde que aconteceu isso, é a primeira vez que eu estou conseguindo atravessar para Guaíba. Mesmo assim, eu não tive contato com ela. Quando puder eu vou lá ver ela. Vou ajudar não só ela, mas ajudar o pessoal todo”, disse o voluntário, que foi aplaudido pelos colegas após o discurso.
Questionado sobre o motivo pelo qual decidiu arriscar a própria vida para ajudar outras pessoas, ele diz que é movido por se colocar no lugar do próximo. "[Faço isso] pensando que poderia estar acontecendo com a gente, como está acontecendo com nossos familiares. A gente está sempre disposto a ajudar porque poderia ser a gente nessa situação”, comentou.
O voluntário Mateus Yuri saiu de Florianópolis, em Santa Catarina, para ajudar o povo gaúcho e também faz a travessia para Guaíba. “O que mais motiva a gente é trazer dignidade pro povo, é ajudar a reconstruir, de coração. É pensar no próximo. Se fosse a gente, a gente ia querer esse tipo de ajuda, esse tipo de apoio. (O combustível para continuar é) a fé de que tudo vai dar certo. Trazer esperança para esse povo todo”, conta.
Mateus diz que já não sabe quantas vezes atravessou o rio para ajudar a população. “Não tenho nem ideia. Foi bastante. Mas se precisar, a gente vai mais o dobro”, garante.
Já do outro lado da margem do Guaíba está Anderson, que pega os mantimentos para levar para quem precisa.
“Isso que vocês estão fazendo pela gente não tem como agradecer. Muito obrigado, de coração, por tudo o que vocês estão fazendo pelo povo gaúcho. A gente pede solidariedade porque a coisa está feia aqui. O pessoal de Santa Catarina que deixou suas famílias, seus filhos em casa, largou tudo, pegou seu equipamento pessoal e veio trabalhar com a gente, esses caras são f*. Eles são uns anjos. Esses aí que merecem os nossos aplausos. Obrigado por tudo”, agradeceu.
Pedro também veio de Florianópolis e comanda a lancha que leva mantimentos para a população do outro lado do rio. O voluntário explica como é difícil fazer a travessia entre Porto Alegre e Guaíba.
“A travessia aqui é bastante complicada, ela tem correnteza, vento contra, chuva, o que dificulta muito a visibilidade, mas vale muito a pena fazer esse tipo de trabalho. O rio tem muito objeto flutuante. Nós nos deparamos com freezer, galhos, madeira. Se o comandante e a tripulação não ficam atentos, acabam passando por cima, danificando a embarcação. Então, além dos desafios tradicionais da navegação, tem esses desafios extras por conta das fortes chuvas e das inundações. A gente também observa muito lixo flutuando e isso é muito ruim para quem trafega de jet ski, porque ele acaba sugando esses lixos e danificando a embarcação. É muito importante olhar para quem está trafegando, ver se os equipamentos estão todos funcionando e sempre ofertar uma ajuda caso necessário”, esclarece.
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Como ajudar?
Segundo as autoridades, desabrigados e desalojados que foram acolhidos pela Defesa Civil precisam não só de alimentos, como também de colchões, roupas de cama e banho e também cobertores. Quem mora na região de Porto Alegre pode contribuir presencialmente no Centro Logístico da Defesa Civil Estadual (avenida Joaquim Porto Villanova, 101, bairro Jardim Carvalho, Porto Alegre).
Além de receber doações de vários itens, as autoridades permitem a doação de qualquer tipo de valor em dinheiro. Para permitir a colaboração de pessoas de outras cidades e estados, o Governo do Estado criou uma chave Pix para receber doações. Quem quiser contribuir, pode fazer um Pix para o CNPJ 92958800000138.