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Da discriminação racial à educação antirracista

Do racismo que envergonha nosso cotidiano até chegarmos a uma sociedade antirracista, há um processo educativo a ser construído e que certamente pode ser inspirado por boas práticas de quem já está nesse caminho

Educação antirracista é importante para superação do problema

No dia 21/03, celebra-se o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, uma data proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), porque combater o racismo é imprescindível para uma sociedade que valorize e promova os direitos humanos. Para pensarmos sobre o tamanho desse desafio, compreender melhor a palavra discriminar é um começo necessário.

Buscando significados, encontramos: “perceber diferenças, distinguir, colocar à parte por algum critério, tratar de forma injusta”. E aqui temos uma convocação no dia de hoje: vencer as injustiças do racismo em todas as suas formas de discriminação, de desrespeito e injustiças.

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O Instituto Alana e o Geledés Instituto da Mulher Negra realizaram uma pesquisa com municípios brasileiros que têm resultados importantes com a lei federal 10.639/2003, que obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira. O cumprimento desta lei, que completou 20 anos em 2023, se dá a partir de experiências muito significativas de seis municípios, descritas em detalhes no estudo.

Na Educação, é fundamental que tiremos aprendizados de pesquisas importantes e gostaria de convidar para que façamos isso juntos. Para início de conversa, vale contar que, em nenhum dos municípios pesquisados, a educação antirracista é uma realidade plenamente estabelecida e a discriminação racial deixou de acontecer.

Porém, levantar o que se conseguiu e o que ainda falta sempre é uma boa forma de avançar. Para fazermos isso - aprender com as experiências dessas escolas - vamos considerar quatro perguntas:

  • O que é preciso para começar?
  • Que atividades culturais promover?
  • Como planejar as ações?
  • Como dar conta de uma tarefa tão importante?

Experiências em cidades

A cidade de Belém, capital do estado do Pará, realizou um censo da negritude* e isto é indispensável para começar. Imagine um professor tentando apoiar seus estudantes, sem saber quem eles são, ou o que sabem e o que não sabem?

O mesmo se aplica para qualquer mudança na Educação: é fundamental conhecer profundamente o público da ação. O mesmo caminho foi adotado pela Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul, que produziu uma série de dados para entender como está a aprendizagem e as condições de permanência dos estudantes na escola e traçar suas ações com mais precisão, informações que serão a base de uma política pública estadual de Educação Antirracista.

Em relação às práticas culturais afro-brasileiras, gostaria de destacar o projeto Cine Afro, da cidade de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, no qual são exibidos filmes que abordam questões étnico-raciais, com debate entre estudantes e professores no final.

Jovens adoram cinema e o aprendizado que podemos tirar desta experiência é: o simples pode funcionar muito bem, mas sem dúvida é fundamental que os professores ajudem os estudantes a escolherem bons títulos e planejem boas perguntas para o debate, assim como combinem regras de respeito, escuta e participação de todos.

Outra boa prática cultural, possível a todos os municípios, é levar estudantes para visitas a museus; esta foi uma das escolhas da cidade de Criciúma, no estado de Santa Catarina.

Esse mesmo município, nos leva ao terceiro ponto que gostaria de destacar, pois a esta altura, já está claro também que todas essas ações requerem planejamento e um bom exemplo pode ser encontrado na experiência desta cidade, com a construção de um plano de ação com metas e cronograma de realização de cada uma delas.

E quem poderá nos ajudar? - perguntaria um personagem de série televisiva que muitos de nós assistimos na infância e de quem lembramos quando a missão é complexa e com muitas etapas. Nenhuma escola, ou município, dará conta de implementar um projeto de educação antirracista que supere as discriminações e promova a construção de uma cultura de respeito às diversidades e à herança da população negra, sozinho.

Todas as cidades pesquisadas formaram parcerias com universidades, movimento negro, institutos e fundações culturais e de pesquisa. Há uma estrada longa e desafiadora a ser desenhada do racismo do passado e do presente até uma sociedade antirracista que começa a nascer e que queremos como fato no futuro.

E claro, há outros aspectos além do cultural que precisam ser ativados. Como eu disse em um texto anterior sobre o mesmo tema nesta coluna, a Educação Antirracista precisa ser construída por todos nós, em todos os espaços.

Preto ou negro?

O Estatuto de Igualdade Racial define a população negra como “o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga”. O IBGE pesquisa a cor ou raça da população brasileira com base na autodeclaração como brancas, pretas, pardas, indígenas ou amarelas.

Alcielle é diretora de educação do Instituto iungo, organização sem fins lucrativos que tem o propósito de transformar, com os professores, a educação no Brasil. É doutora em Psicologia da Educação e mestre em Educação: Formação de Formadores.

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Alcielle é diretora de educação do Instituto iungo, organização sem fins lucrativos que tem o propósito de transformar, com os professores, a educação no Brasil. É doutora em Psicologia da Educação e mestre em Educação: Formação de Formadores