No dia 21/03, celebra-se o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, uma data proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), porque combater o racismo é imprescindível para uma sociedade que valorize e promova os direitos humanos. Para pensarmos sobre o tamanho desse desafio, compreender melhor a palavra discriminar é um começo necessário.
Buscando significados, encontramos: “perceber diferenças, distinguir, colocar à parte por algum critério, tratar de forma injusta”. E aqui temos uma convocação no dia de hoje: vencer as injustiças do racismo em todas as suas formas de discriminação, de desrespeito e injustiças.
O Instituto Alana e o Geledés Instituto da Mulher Negra realizaram uma
Na Educação, é fundamental que tiremos aprendizados de pesquisas importantes e gostaria de convidar para que façamos isso juntos. Para início de conversa, vale contar que, em nenhum dos municípios pesquisados, a educação antirracista é uma realidade plenamente estabelecida e a discriminação racial deixou de acontecer.
Porém, levantar o que se conseguiu e o que ainda falta sempre é uma boa forma de avançar. Para fazermos isso - aprender com as experiências dessas escolas - vamos considerar quatro perguntas:
- O que é preciso para começar?
- Que atividades culturais promover?
- Como planejar as ações?
- Como dar conta de uma tarefa tão importante?
Experiências em cidades
A cidade de Belém, capital do estado do Pará, realizou um censo da negritude* e isto é indispensável para começar. Imagine um professor tentando apoiar seus estudantes, sem saber quem eles são, ou o que sabem e o que não sabem?
O mesmo se aplica para qualquer mudança na Educação: é fundamental conhecer profundamente o público da ação. O mesmo caminho foi adotado pela Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul, que produziu uma série de dados para entender como está a aprendizagem e as condições de permanência dos estudantes na escola e traçar suas ações com mais precisão, informações que serão a base de uma política pública estadual de Educação Antirracista.
Em relação às práticas culturais afro-brasileiras, gostaria de destacar o projeto Cine Afro, da cidade de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, no qual são exibidos filmes que abordam questões étnico-raciais, com debate entre estudantes e professores no final.
Jovens adoram cinema e o aprendizado que podemos tirar desta experiência é: o simples pode funcionar muito bem, mas sem dúvida é fundamental que os professores ajudem os estudantes a escolherem bons títulos e planejem boas perguntas para o debate, assim como combinem regras de respeito, escuta e participação de todos.
Outra boa prática cultural, possível a todos os municípios, é levar estudantes para visitas a museus; esta foi uma das escolhas da cidade de Criciúma, no estado de Santa Catarina.
Esse mesmo município, nos leva ao terceiro ponto que gostaria de destacar, pois a esta altura, já está claro também que todas essas ações requerem planejamento e um bom exemplo pode ser encontrado na experiência desta cidade, com a construção de um plano de ação com metas e cronograma de realização de cada uma delas.
E quem poderá nos ajudar? - perguntaria um personagem de série televisiva que muitos de nós assistimos na infância e de quem lembramos quando a missão é complexa e com muitas etapas. Nenhuma escola, ou município, dará conta de implementar um projeto de educação antirracista que supere as discriminações e promova a construção de uma cultura de respeito às diversidades e à herança da população negra, sozinho.
Todas as cidades pesquisadas formaram parcerias com universidades, movimento negro, institutos e fundações culturais e de pesquisa. Há uma estrada longa e desafiadora a ser desenhada do racismo do passado e do presente até uma sociedade antirracista que começa a nascer e que queremos como fato no futuro.
E claro, há outros aspectos além do cultural que precisam ser ativados. Como eu disse em um
Preto ou negro?
O Estatuto de Igualdade Racial define a população negra como “o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga”. O IBGE pesquisa a cor ou raça da população brasileira com base na autodeclaração como brancas, pretas, pardas, indígenas ou amarelas.
Alcielle é diretora de educação do Instituto iungo, organização sem fins lucrativos que tem o propósito de transformar, com os professores, a educação no Brasil. É doutora em Psicologia da Educação e mestre em Educação: Formação de Formadores.