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Preguiça gigante: pesquisa da PUC resgata fóssil que quebra paradigma em Minas

A descoberta desafia a crença de que a região de Pains (MG) só era habitada pelo mastodonte - uma espécie semelhante ao mamute

Pesquisadores da PUC Minas descobrem o fóssil de preguiça-gigante, com aproximadamente 2,5 metros de comprimento, na Gruta João Lemos, em Pains (MG)

Pesquisadores da PUC Minas resgataram o fóssil de uma preguiça-gigante, com aproximadamente 2,5 metros de comprimento, na Gruta João Lemos, localizada em Pains, região Centro-Oeste de MG. A descoberta foi feita pela Espelogeupo Pains (EPA) em uma atividade da Escola Brasileira de Espeleologia (eBRe).

A equipe liderada por Bruno Kraemer e Luiz Eduardo Panisset Travassos, do Dep. de Geografia do Instituto de Ciências Humanas, não apenas enriquece o acervo do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, em Belo Horizonte, como também quebra o paradigma de que a região de Minas só abrigava o mastodonte - uma espécie de mamífero semelhante aos mamutes - na Era do Gelo, que durou mais de 2 milhões de anos.

Pesquisas indicam que as preguiças-gigantes da família Scelidotheriinae habitavam o cerrado nesse período geológico, onde podiam encontrar recursos alimentares abundantes e nutritivos nas matas de galerias associadas a rios ou cursos d'água.

A descoberta aconteceu na bacia do rio São Miguel, localizada no Cráton do São Francisco, mais precisamente na região do Carste do Alto São Francisco - há cerca de de 100 km de Belo Horizonte.

Extensão

A preguiça-gigante extinta foi identificada pela primeira vez pelo paleontólogo dinamarques Peter Wilhelm Lund, na região de Lagoa Santa (MG), na primeira metade do século XIX.

De acordo com o Museu Peter Lund, foram descobertos 50 esqueletos completos e 800 ossos isolados da espécie durante os 44 anos que ele se dedicou à pesquisa paleontológica na região.

Preguiças-gigantes da família Scelidotheriinae habitavam o cerrado na Era do Gelo, em Minas

Pains está localizado há aproximadamente 250 km das escavações de Loud e abre novas possibilidades sobre a existência das preguiças gigantes, que viveram no período conhecido como a Era do Gelo, há aproximadamente 2,5 milhões de anos.

A nova revelação dos pesquisadores da PUC Minas pode contribuir para os estudos sobre o estilo de vida da espécie que foi extinta há cerca de 10 mil anos, como a capacidade de escavar o solo e construir tocas.

As preguiças gigantes descobertas em Minas Gerais também são semelhantes a outras espécies encontradas em outras partes do Brasil e da América do Sul.

A sua extinção está relacionada, entre outros fatores, com o aumento da temperatura ao fim da Era do Gelo.

Região favorável

A região possui um grande potencial para a preservação de fósseis

Os pesquisadores indicam que a região de Pains, conhecida principalmente pela presença de mastodonte no passado, possui um grande potencial para a preservação de fósseis quaternários - período que abrange aproximadamente os últimos 2,58 milhões de anos.

Durante as pesquisas, ficou evidente que o ph básico dos do calcário da caverna pode neutralizar a acidez do solo e favorecer a preservação dos fósseis, que oferecem uma viagem ao passado por meio das pistas deixadas por essa preguiça-gigante na Gruta João Lemos, seguindo o legado de Peter Lund.

Os primeiros registros de fósseis nas cavernas de Pains aconteceram em 1816, quando o naturalista alemão Wilhelm Ludwig von Eschwege identificou ossadas de mastodontes na Gruta da Cazanga.

Ele notou a presença de numerosos ossos conservados, possivelmente pertencentes a animais que buscavam refúgio ou predavam em cavernas. É o caso das preguiças-gigantes.

A região abrigava uma dezena de fósseis que fazem, hoje, parte da Coleção Paleontológica do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas.

Alerta

Apesar do entusiasmo, os pesquisadores expressam preocupação com a fragilidade da região de Pains (MG) para a preservação do patrimônio arqueológico e paleontológico da região

Em comunicado à imprensa, eles alertam para a urgência de uma gestão ambiental eficaz para evitar a degradação irreparável do distrito espeleológico.

Segundo eles, a região abriga não apenas fósseis, mas também uma diversidade única na fauna cavernícola - animais que habitam ambientes subterrâneos, como cavernas e grutas.

Os trabalhos de escavação, identificação de fósseis e remoção do material para o laboratório do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas estão em andamento.

Formado em Jornalismo pela UFMG, com passagens pelo jornal Estado de Minas/Portal Uai. Hoje, é repórter multimídia da Itatiaia.