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Dia Mundial de Luta contra a Aids: por que a doença ainda mata milhares de brasileiros por ano?

Data é comemorada nesta sexta-feira (1°); infectologista explica a importância da testagem para evitar a evolução da doença

Quase 11 mil brasileiros morreram de Aids em 2022

O Dia Mundial de Luta contra a Aids é comemorado nesta sexta-feira (1°). Criada em 1988, a data tem o objetivo conscientizar a população sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, doença mais conhecida pela sigla Aids.

De acordo com o Ministério da Saúde, a síndrome é causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). O patógeno ataca o sistema imunológico do infectado, derrubando as defesas do organismo. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+.

Aids matou quase 11 mil brasileiros em 2022

Um levantamento da pasta, divulgado nesta quinta-feira (30), revelou que quase 11 mil brasileiros morreram de Aids em 2022, o equivalente a 30 pessoas por dia. Apesar do número alarmante, ele caiu 8,5% nos últimos 10 anos.

Segundo João Paulo Campos, médico infectologista e professor de Medicina na Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh), o número de brasileiros mortos por Aids ainda é alto devido à falta de testagem.

“Os testes estão disponíveis, mas muita gente deixa de fazer. É preciso aumentar a conscientização em relação a importância de testar. O ideal é quem tem uma vida sexual ativa, e usa preservativo em todas as relações, teste uma vez ao ano. Já quem tem relações desprotegidas precisa testar com mais frequência”, explica.

Para Campos, o aumento da testagem tem relação direta com a diminuição de casos.

Quanto mais as pessoas testam, mais elas são diagnosticadas e podem ser tratadas. O medicamento faz com que a carga viral do paciente abaixe, dificultando a transmissão

O médico afirma que a maior parte dos pacientes que morrem de Aids descobrem a doença tardiamente. “A Aids demora muitos anos para evoluir. Os pacientes com HIV chegam a ficar de seis e oito anos sem sintomas. Muitos deles descobrem a Aids quando já estão em estado grave. Por isso é importante testar”, afirma.

O especialista ainda ressalta que o teste deve ser feito duas semanas após uma relação sexual desprotegida. “O período de incubação do HIV é de 7 a 10 dias. O recomendado é esperar cerca de duas semanas para fazer o teste. Ele é muito sensível e vai conseguir identificar o vírus. Depois de diagnosticado, o paciente será encaminhado para o tratamento”, esclarece.

Quais os sintomas da Aids?

João Paulo Campos cita os principais sintomas da Aids. “Aids na verdade abaixa a defesa do organismo, tornando ele mais suscetível às doenças oportunistas. No início, quando a queda da imunidade ainda está começando, o paciente pode ter queda de cabelo, pneumonia e sinusite de repetição. Esses são alguns sinais”, diz.

O médico ainda esclarece que quando o quadro está grave - ou seja, quando os níveis de defesa estão muito baixos -, os pacientes costumam ter emagrecimento importante, perdendo até 20 kg. Além disso, doenças oportunistas como a toxoplasmose, meningite ou pneumocistose (uma infecção causada por fungos no pulmão) podem aparecer.

Como evitar?

Para evitar a infecção por HIV, o indicado é usar preservativo em todas as relações sexuais. O Sistema Único de Saúde (SUS) ainda oferece tratamentos de profilaxia Pré-Exposição (Prep) e Pós-Exposição (Pep).

“A Prep é indicada para alguns grupos de risco, como profissionais do sexo ou pessoas que tiveram alguma IST (infecção sexualmente transmissível) no último ano. Elas devem tomar um comprimido por dia. Os estudos revelam que o tratamento é extremamente eficaz para proteger o paciente de contrair HIV. Já o tratamento pós-exposição é indicado para quem teve alguma relação sexual desprotegida. O tratamento deve ser feito até 24 horas depois do risco”, explica.

Tratamento

No caso de pacientes com Aids, o infectologista explica que primeiramente a infecção oportunista será tratada. “A gente trata primeiro a infecção para depois oferecer o tratamento com antirretrovirais para o paciente. A partir daí, ele vai começar a tomar dois medicamentos que abaixam o nível do vírus no sangue. Assim, o risco de transmissão diminui”, ressalta.

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.