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Animal híbrido meio cachorro, meio graxaim, é encontrado no Brasil

O cruzamento inédito ocorreu no Rio Grande do Sul e resultou em uma fêmea híbrida

Animal é fruto do cruzamento entre um cachorro doméstico e um graxaim-do-campo

Médicos veterinários do Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) se surpreenderam ao se depararem com um filhote híbrido de cachorro e graxaim-do-campo fêmea. Esta foi a primeira vez que este animal híbrido foi registrado na América do Sul.

O “cão” foi resgatado após ser atropelado no município de Vacaria, no Rio Grande do Sul, e foi levado ao Hospital das Clínicas. Inicialmente, o animal foi tratado como cachorro doméstico, mas começou a apresentar comportamentos estranhos para a espécie.

Com “olhos semelhantes aos de um cachorro e corpo similar ao graxaim-do-campo”, a fêmea apresentava comportamento selvagem e não era nem tão agressiva quanto um graxaim, nem tão dócil quanto um cachorro, segundo os médicos veterinários. O graxaim-do-campo é um mamífero canídeo selvagem típico do bioma Pampa, que come pequenos roedores e aves.

Ao perceberem que o “cão” não queria comer ração ou outros alimentos comuns da espécie, os veterinários decidiram dar ratos ao bicho, que comeu tudo na mesma hora. Por isso, a fêmea foi transferida ao setor que atende animais silvestres.

Cruzamento raro

Após estudarem o animal, os pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) chegaram a conclusão que o animal era fruto de um cruzamento raro entre duas espécies de gêneros diferentes, sendo um cachorro doméstico macho e uma fêmea graxaim-do-campo.

Este foi o primeiro caso de cruzamento que resultou em um filhote híbrido entre cão doméstico (Canis lupus familiaris) e um canídeo silvestre (Lycalopex gymnocercus) registrado na América do Sul. Entretanto, casos semelhantes já foram documentados na América do Norte e na Europa.

A relação entre o animal doméstico e silvestre, contudo, gerou preocupação entre os especialistas, já que essa aproximação pode causar efeitos na natureza, como transmissão de doenças de uma espécie para outra.

Outro problema é ocorrer a “introgressão”, que é quando acontece a transferência de genes de uma espécie para outra. Isso poderia interromper a adaptação dos animais ao ambiente onde vivem, mudando seus hábitos e colocando a espécie em risco.

O caso ocorreu em 2021, mas as descobertas só foram publicadas em agosto deste ano, na revista Animals. A fêmea foi transferido para o Mantenedouro São Braz, em Santa Maria (RS), por determinação da Secretaria do Meio Ambiente do e Infraestrutura (Sema). Ela morreu este ano, mas a causa da morte não foi divulgada.