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Quase 60% das famílias brasileiras vive com algum grau de insegurança alimentar, revela pesquis

Dados são da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan)

Quase 60% dos brasileiros vive em situação de insegurança alimentar

A insegurança alimentar é uma realidade vivida em 60% dos lares brasileiros. São 125,2 milhões de pessoas não tem acesso garantido e irrestrito à comida de qualidade no país. Entre os afetados, 33 milhões, ou 15,5%, passa fome. O número é referente às pessoas que vivem com insegurança alimentar grave.

Os dados alarmantes foram divulgados nesta segunda-feira (21), pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). O levantamento é um desdobramento do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (Vigisan), realizado em 2020, com execução do Vox Populi.

A pesquisa também revelou um aumento da fome no país entre o final de 2020 e o início de 2022. Antes, a fome era presente em 22,8% das casas brasileiras com renda de até 1/4 do salário mínimo per capita. Nessa mesma faixa de renda, um a cada quatro domicílios não tinha alimentos suficientes para atender todos os membros da família - o que caracteriza a insegurança moderada.

Em pouco mais de um ano, a fome dobrou nos lares em extrema pobreza. No início de 2022, o número de famílias atingidas pela fome, com renda menor que 1/4 do salário mínimo per capita, chegou a 43%.

No mesmo período, o percentual da população em situação de insegurança alimentar grave passou de 9%, no final de 2020, para 15,5%, no início de 2022. Ou seja, cerca de 14 milhões de pessoas começaram a passar fome no país.

Insegurança alimentar é maior em famílias negras

Segundo o relatório, a insegurança alimentar é predominante nas famílias chefiadas por pessoas autodeclaradas pardas ou pretas. O que revela uma relação direta entre o racismo e a falta da garantia ao direito humano à alimentação suficiente e de qualidade.

No início de 2022, seis a cada dez domicílios brasileiros em que uma pessoa negra era a responsável viviam algum grau de insegurança alimentar. Enquanto isso, mais de 50% das casas comandadas por pessoas autodeclaradas brancas tinham alimentos garantidos.

Lares chefiados por mulheres sofrem mais

O levantamento também indica que as desigualdades de gênero também interferem na segurança alimentar de uma família. Seis a cada dez, ou 63% dos lares chefiados por mulheres sofrem algum grau de insegurança alimentar. Destes, 18,8% estão em situação de fome.

Entre os domicílios que vivem em segurança alimentar, ou seja, têm disponíveis alimentos na quantidade e qualidade necessárias, apenas 37% são comandados por pessoas do sexo feminino. Entre as casas onde o homem é a referência, 48% vivem em situação de segurança.

Vergonha de não ter o que comer

As famílias que vivem em algum grau de insegurança alimentar muitas vezes precisam recorrer a situações degradantes e vexatórias para conseguir comer. Entre os domicílios avaliados pela pesquisa, 8,2% dos moradores relataram sensação de vergonha, tristeza ou constrangimento para conseguirem alimentos para a família.

Quase 16 milhões de pessoas, ou 24% dos domicílios, em situação de insegurança alimentar moderada ou grave também disseram enfrentar situações como essas. De acordo com o relatório, quem precisa se submeter a estratégias social e humanamente inaceitáveis para a obtenção de alimentos, tem sua dignidade e direitos humanos violados.

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.