O estudo avaliou a ação de óleos essenciais extraídos de três espécies do gênero Piper: P. callosum, P. hispidum e P. marginatum. As duas primeiras mostraram resultados significativos na redução da infestação por vermes monogenéticos nas brânquias dos peixes, enquanto a terceira espécie não apresentou a mesma eficácia terapêutica.
As três espécies de plantas estudadas foram cultivadas na Embrapa Amazônia Ocidental em Manaus (AM). No local, é feito o estudo agronômico com essas espécies para sistemas de cultivo. Na fase reprodutiva, as plantas são cortadas e levadas à secagem para que os materiais vegetais sejam preparados para destilação e purificação dos óleos essenciais. Os óleos foram enviados para Embrapa Agroindústria de Alimentos, no Rio de Janeiro, para análises da composição química dos componentes majoritários de cada óleo.
Segundo o pesquisador da Embrapa Humberto Bizzo, a família Piperaceae está presente na flora do bioma Amazônia e apresenta uma diversidade de moléculas químicas de comprovada atividade biológica. “A partir dessas análises da composição, a gente conhece que substâncias químicas majoritárias que compõem esses óleos essenciais, que passam a ser testados na piscicultura para o controle de doenças parasitárias, ou também são testados no uso em controle de pragas e doenças em vegetais e outros animais”.
Alternativa aos produtos químicos
Os parasitas do tambaqui costumam fixar-se nas brânquias dos peixes, comprometendo a respiração e prejudicando a produção. O controle tradicional envolve produtos químicos que, apesar de eficazes, apresentam riscos à saúde dos trabalhadores que os manipulam, além de impactos ambientais e possibilidade de seleção de parasitas resistentes.
“Os óleos essenciais vêm ganhando espaço mundialmente como alternativa mais segura e sustentável”, relata o pesquisador. “O uso contínuo de quimioterápicos pode favorecer a resistência dos parasitas. Já os óleos, além de eficazes, não apresentaram toxicidade para os peixes nas doses testadas e não oferecem riscos à saúde dos trabalhadores”.
Banhos terapêuticos
Nos testes laboratoriais, os peixes foram submetidos a banhos terapêuticos com diferentes concentrações dos óleos. O óleo de P. callosum foi aplicado em banhos de 20 minutos cada, com 24 horas de intervalo entre eles . Já o óleo de P. hispidum foi utilizado em três banhos de uma hora cada, com 48 horas de intervalo entre banhos. Em ambos os casos, houve significativa redução na infestação parasitária nas brânquias dos tambaquis.
As análises, realizadas com microscopia eletrônica de varredura, mostraram que os componentes químicos dos óleos alteram a estrutura da membrana dos parasitas, comprometendo sua fixação nas brânquias e facilitando sua eliminação. A segurança dos tratamentos foi confirmada pela ausência de mortalidade nos peixes durante os experimentos.
A expectativa dos cientistas é que os resultados sirvam de base para orientar técnicos e piscicultores no uso desses óleos como alternativa aos tratamentos quimioterápicos. A proposta está alinhada aos princípios de uma piscicultura mais sustentável, em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente o ODS 8, que promove o crescimento econômico sustentável e trabalho decente.