Uma nova variedade de
Causada pelo fungo Fusarium guttiforme, a fusariose é responsável por prejuízos expressivos à produção nacional, chegando a inviabilizar lavouras inteiras. A doença compromete o desenvolvimento da planta, impede o uso de mudas das plantas doentes em novos plantios e impossibilita o consumo de frutos afetados.
A resistência genética dos novos materiais representa uma vantagem ao produtor, reduzindo custos com controle químico e ampliando a sustentabilidade da cultura. O agricultor ganha ao economizar com fungicidas e, principalmente, ao evitar perdas provocadas pela fusariose que atinge, em média, 20% das plantas, mas pode chegar até a perda total da área de produção.
Além da resistência a essa doença, as novas variedades são adaptadas às principais regiões produtoras de abacaxi do país. As cultivares produzem frutos com elevado teor de açúcares e média acidez e apresentam poucos espinhos nas folhas, facilitando os tratos culturais. Seus frutos mostraram maior firmeza e resistência durante o transporte e maior vida de prateleira.
Segundo o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) Davi Junghans, líder do programa de melhoramento genético do abacaxi, as novas cultivares possuem resistência total à fusariose, o que difere de tolerância, que é parcial. O cientista ainda explica que, no caso de uma doença foliar, como a Sigatoka da bananeira, a produção é reduzida, mas o produtor ainda pode colher alguma coisa. Já no caso da fusariose do abacaxi, o fruto perde totalmente o valor de mercado. “A fusariose tem a capacidade de eliminar uma plantação inteira”, contou.
Junghans destaca também a maior produtividade dos materiais, que gira em torno de 56 toneladas por hectare, número acima da produtividade média do abacaxi no Brasil, de aproximadamente 26 toneladas por hectare (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2024).
Experimentos em campo
Os experimentos começaram em 2018, com o plantio de cinco genótipos diferentes, três da Embrapa e as cultivares Pérola e Smooth Cayenne como testemunhas. O terceiro plantio, colhido em 2023, envolveu 900 plantas e foi um sucesso, em contraponto à produção comercial do Pérola: 95% das 300 mil plantas da lavoura convencional foram atacadas pela fusariose na época.
“Foi um desastre nas plantações de abacaxi, enquanto nenhuma das plantas do experimento da Embrapa teve problema com a doença”, lembrou o vice-presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais de Aparecida de Minas (Coopercisco), Júlio Cesar Leonel.
Características físico-químicas dos materiais
As duas cultivares apresentam frutos de tamanho similar aos do Pérola, sendo a média do BRS Sol Bahia de 1,37 kg, e do BRS Diamante, 1,67 kg, polpa creme, elevado teor de açúcares e média acidez, além de poucos espinhos.
De acordo com o pesquisador da Epamig Daniel Angelucci, que atuou na avaliação das variedades, ao lado do pesquisador da Embrapa Tullio Pádua, os frutos de ambos os materiais devem ser colhidos com a casca colorida. “O abacaxi é um fruto não climatérico, o que significa que não amadurece significativamente após colhido. São quatro pontos de colheita: verdoso, pintado, colorido e amarelo. O Pérola tem de ser colhido no estado verdoso, casca verde. Se o produtor colher o Pérola amarelo, já vai estar passado e tem menor tempo de prateleira. Já as novas cultivares da Embrapa não podem ser colhidas verdosas. O ideal é que os frutos sejam colhidos no estágio colorido, com a casca de 50% a 75% amarela”, explicou.
No caso do BRS Sol Bahia, a maturação do fruto é cerca de duas semanas mais tardia em relação ao Pérola, e do BRS Diamante, aproximadamente 30 dias, característica interessante para ampliar a janela de comercialização.
Análises sensoriais foram realizadas no Laboratório de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Embrapa Mandioca e Fruticultura. Os resultados indicaram que os frutos do BRS Sol Bahia e do BRS Diamante tiveram elevada aceitação.