Mais peixe na Amazônia: ‘parceria’ entre tambaqui e curimba eleva rentabilidade

Integração de espécies também se mostrou superior na mitigação das mudanças climáticas

Curimba e tambaqui

Uma pesquisa da Embrapa Pesca e Aquicultura revela que o segredo para uma produção de alimentos mais sustentável na Amazônia pode estar no fundo dos viveiros. O estudo, publicado na prestigiada revista Aquaculture, comprova que a criação conjunta de tambaqui com curimba supera o monocultivo tradicional em eficiência, lucratividade e preservação ambiental.

Denominado Aquicultura Multitrófica Integrada (AMTI), o modelo imita ecossistemas naturais. Enquanto o tambaqui ocupa a coluna d'água, a curimba atua no fundo, consumindo sobras de ração e sedimentos que, de outra forma, virariam resíduos poluentes.

Mais proteína, menos espaço

Ao introduzir a curimba no sistema, os produtores conseguem entregar 25% a mais de proteína por hectare sem gastar um grama a mais de ração.

Além disso, o estudo comparou a ocupação de solo da piscicultura com outras cadeias de proteína animal. Para produzir 1 kg de proteína, a pecuária bovina exige 434% mais terra do que o cultivo de tambaqui. A avicultura e a suinocultura também demandam mais espaço — 48% e 72% a mais, respectivamente.

“A aquicultura é uma alternativa real para diminuir a pressão por desmatamento e abertura de novos espaços no bioma amazônico”, afirmou a pesquisadora Adriana Ferreira Lima.

Por que a curimba?

A escolha da curimba não foi por acaso. O peixe, que já é a segunda espécie mais exportada pelo Brasil, funciona como uma “recicladora” do sistema. Como possui hábitos alimentares complementares aos do tambaqui, ela não compete por alimento e não atrapalha o crescimento do peixe principal.

No experimento, os tambaquis atingiram o peso comercial de 1,8 kg, enquanto as curimbas chegaram a 200g consumindo apenas o que seria desperdiçado no monocultivo. Para o produtor, isso significa um segundo produto para venda com custo de alimentação zero.

Redução da pegada de carbono

A integração de espécies também se mostrou superior na mitigação das mudanças climáticas. O estudo de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) apontou reduções significativas no impacto ambiental:

Indicador ambientalRedução com a integração
Emissão de CO2De 4,27kg para 3,9kg por kg de peixe
Uso de Água- 38,57%
Uso de Terra- 17%
Demanda de Energia- 13,30%

Economia circular na água

Diferente dos países asiáticos, onde a integração é comum, o Brasil ainda engatinha nesse modelo por falta de dados técnicos. A pesquisa da Embrapa supre essa lacuna, provando que é possível transformar “lixo” (sobras de nitrogênio e fósforo) em biomassa de alto valor nutricional.

O próximo passo da ciência é testar sistemas ainda mais complexos, incluindo camarões e o reaproveitamento da água rica em nutrientes para a irrigação de lavouras, fechando o ciclo da sustentabilidade no campo.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde

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