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Grãos recuam em julho com câmbio e colheita recorde, aponta Cepea

Boletim mensal destaca recuos nos preços de trigo, milho, frango e boi, além de mudanças no etanol, açúcar e algodão

Destaques estão nos mercados de grãos, pecuária e etanol

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) divulgou os agromensais de julho de 2025. O documento analisa o desempenho mensal de diversas cadeias produtivas brasileiras. Em julho, os destaques estão nos mercados de grãos, pecuária e etanol.

Os preços do trigo recuaram em julho pelo terceiro mês consecutivo, influenciados sobretudo pelas desvalorizações externa e do dólar, contexto que favoreceu a importação do cereal. A liquidez no mercado interno de trigo esteve enfraquecida durante o mês, especialmente nas últimas semanas. Agentes de moinhos consultados pelo Cepea deram preferência ao produto importado, enquanto vendedores estavam focados na finalização do cultivo da nova temporada e no desenvolvimento das lavouras.

Já as cotações domésticas do milho chegaram a apresentar reações pontuais em julho, mas acumularam quedas no balanço do mês. A pressão veio sobretudo da retração de consumidores. Estes agentes estavam à espera de novas desvalorizações do cereal, fundamentados no avanço da colheita da segunda safra, em estimativas indicando colheita recorde no Brasil e nas exportações enfraquecidas. Assim, consumidores priorizaram a utilização dos lotes negociados antecipadamente. Vendedores, por sua vez, também estiveram mais flexíveis nos valores de negociação.

A comercialização de arroz em casca esteve em ritmo lento no Rio Grande do Sul em julho, refletindo a postura cautelosa dos vendedores, que aguardam condições melhores para negociar. Apesar de um pontual interesse do comprador para reposição de estoques, o volume comercializado seguiu baixo no mês, com transações restritas a pequenos lotes e produtores vendendo apenas o necessário para cumprir compromissos financeiros.

Em julho, a oferta de feijão aumentou de forma expressiva no mercado brasileiro, resultado da finalização da segunda temporada em importantes estados produtores e do avanço da terceira safra, especialmente em Goiás e em Minas Gerais. Apesar do volume elevado, a qualidade do grão foi o principal fator de diferenciação nas negociações, acentuando a segmentação do mercado.

Pecuária

O preço médio da carne de frango registrou queda pelo terceiro mês consecutivo. Em julho, a baixa foi a menos intensa desde as restrições impostas por parceiros comerciais, em decorrência da detecção de Influenza Aviária em uma granja comercial no município de Montenegro (RS), em maio deste ano. Apesar do recuo, a cotação da carne ficou acima da registrada em julho de 2024, em termos reais.

Já no mercado bovino, grande parte do mês de julho foi caracterizada pela baixa liquidez nas negociações de balcão e por preços em queda. A notícia da tarifa de 50% dos Estados Unidos no dia 9 de julho aumentou a pressão, mesmo com esse país tendo participado com apenas 6,8% das exportações (volume) em junho. Já próximo ao encerramento do mês, no entanto, as escalas de abate começaram a diminuir, as quedas deram espaço à estabilidade e, na virada do mês, eram vistos alguns aumentos de preços dos animais para abate e da carne no atacado.

Em julho, as cotações do cordeiro vivo tiveram retração ou estabilidade, exceto na Bahia. Segundo colaboradores consultados pelo Cepea, apesar de a oferta ainda estar baixa, a demanda da indústria diminuiu ainda mais no último mês.

Outros produtos

O preço futuro do óleo de soja alcançou em julho o maior patamar mensal desde setembro de 2023, em termos nominais. Esse cenário se deve ao aumento da demanda externa e ao aquecimento no consumo interno nos Estados Unidos, especialmente pelos setores alimentício e de biodiesel.

O preço do etanol hidratado caiu na primeira quinzena de julho, mas se recuperou nas últimas duas semanas. Cálculos do Cepea mostram que o Indicador CEPEA/ESALQ teve média de R$ 2,5684/litro em julho, pequena alta de 0,12% em relação ao mês anterior. No caso do etanol anidro (modalidade spot e contratos), a média foi de R$ 2,8825/litro, leve baixa de 0,35% em igual comparação.

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Já a safra brasileira 2024/25 de algodão atingiu recorde de exportações. De acordo com dados da Secex, de agosto/24 até julho/25, o Brasil embarcou 2,835 milhões de toneladas, volume 6% maior que o escoado em toda a temporada anterior (2,68 milhões de toneladas, até então o recorde da série da Secex).

*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.