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Capim-meloso ameaça ecossistemas e produtividade na Serra do Cipó

Documento alerta para impactos da gramínea invasora e cobra políticas públicas e monitoramento contínuo na região

Planta africana tem favorecido a propagação de incêndios florestais

A rápida disseminação do capim-meloso (Melinis minutiflora) na Serra do Cipó acendeu um alerta sobre os riscos ecológicos e socioeconômicos provocados pela espécie exótica invasora. O documento Invasão biológica na Serra do Cipó: capim-meloso, publicado pelo Centro de Conhecimento em Biodiversidade (Biodiv), aponta que a planta africana tem favorecido a propagação de incêndios florestais, reduzido a biodiversidade local e ameaçado ecossistemas sensíveis como o campo rupestre.

Além disso, o documento produzido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) sediado na UFMG, sustenta que a falta de monitoramento sistemático e a ausência de políticas públicas específicas dificultam ações efetivas de controle, agravando o cenário.

A espécie, introduzida no Brasil no século 19 para uso em pastagens e revegetação de áreas degradadas, tornou-se uma das principais invasoras do Cerrado. Sua presença na Serra do Cipó e em regiões adjacentes tem provocado alterações drásticas nos ciclos do solo, dominado áreas naturais com densa biomassa seca e intensificado o chamado ciclo fogo-capim, em que o fogo estimula seu crescimento e dificulta a regeneração de plantas nativas.

Queda de produtividade

Produzido com participação de pesquisadores da UFMG, o documento também descreve impactos indiretos como a queda da produtividade agrícola, o comprometimento da recarga hídrica e prejuízos econômicos para comunidades locais. Desde 2015, não há levantamentos sistemáticos sobre a invasão da espécie no Parque Nacional da Serra do Cipó, o que impede a elaboração de estratégias públicas eficazes de contenção.

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Entre as recomendações propostas estão o mapeamento detalhado das áreas afetadas, o uso de tecnologias de sensoriamento remoto, a articulação com comunidades locais e a aplicação de métodos integrados para o controle da espécie. Os autores defendem que a resposta ao problema deve combinar ciência, ação pública e engajamento social. “É urgente implementar políticas públicas baseadas em evidências científicas que garantam a conservação da biodiversidade e a integridade dos ecossistemas da Serra do Cipó”, diz o texto.

*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.