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Incêndios destruíram cana que estava prestes a ser colhida em Minas e SP

Especialistas confirmam que perdas vão aumentar os custos do produtor impactar nos preços do açúcar e do etanol para o consumidor

Indústria não está preparada para receber cana queimada, com tantas impurezas

A situação das lavouras de cana-de-açúcar no interior de São Paulo, que já não era boa registrando perdas desde abril por causa da seca, tornou-se crítica em função da terrível onda de incêndios que assolou o estado e boa parte do país. O fogo queimou a cana que seria colhida e destruiu rebrotas que dariam origem à próxima colheita.

O CEO da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), José Guilherme Nogueira, confirmou que as perdas vão aumentar o custo do produtor para renovar as plantações, reduzir a produtividade (menos quantidade colhida por área) e podem impactar os preços do açúcar e do etanol.

O presidente do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado de Minas Gerais ( Siamig), Mário Campos, disse à Itatiaia que, em Minas, o quadro também preocupa, principalmente na região Triângulo Mineiro, que é a maior região produtora do Estado.

“Estamos sofrendo um impacto. Os últimos quatro dias foram realmente muito complicados. Além do clima que estava muito seco, estamos falando de regiões com 120, 150 dias sem chuva, com baixíssima umidade, ventos fortes e muito calor. Tudo isso acabou favorecendo as queimadas”, comentou.

Campos disse que ainda é cedo para saber o tamanho do prejuízo. Mas, com certeza haverá consequências importantes para a produção anual. Segundo ele, no momento desses grandes incêndios, ainda havia 35% de cana a ser colhida no campo. Diante disso, é inevitável algum tipo de impacto na produtividade e qualidade do açúcar. “As empresas simplesmente não estão preparadas para receber essa cana queimada, com tantas impurezas. Então, deve haver uma queda principalmente na produção do açúcar branco”, analisou.

Mário Campos, presidente da Siamig

Em São Paulo, seca segue até o próximo mês

Como a seca deve se prolongar até setembro, a previsão é de que haja mais queda de produção em SP, principal estado produtor de cana no país.

“Queimar cana é queimar dinheiro”, diz o presidente-executivo da Orplana. Quarenta e oito municípios da região estão em estado de alerta máximo para queimadas. Duas pessoas morreram e mais de 800 tiveram que deixar suas casas. Seis suspeitos de atear fogo propositalmente nas lavouras foram presos.

A estimativa é que 3.837 propriedades rurais foram atingidas em 144 municípios paulista, causando perdas de R$ 1 bilhão para a agricultura e pecuária.

Cana-de-açúcar já sofria com a seca

No início da safra, a estimativa era que o estado de SP colheria 420 milhões de toneladas. Hoje, a Orplana estima uma colheita de 370 milhões de toneladas, queda de 12% (de 50 milhões de toneladas) em relação à previsão inicial.

Nogueira, da Orplana, explica que a seca deixa a planta de cana mais fina, rachada e a “isoporiza”, reduzindo a quantidade de açúcar. “A cana acaba não ficando boa para a extração e, portanto, para a produção de açúcar e etanol”, explicou.

A Comissão Técnica de Cana-de-Açúcar do Sistema Faemg, presidida pelo presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Campo Florido, Marcio Guapo, publicou uma nota em que manifesta preocupação com os diversos focos de incêndio no Estado e reitera que os produtores de cana também são vítimas dos episódios. Leia a nota na íntegra:

Nota da Comissão de Cana da Faemg

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Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.



Fabiano Frade é jornalista na Itatiaia. Cobre as pautas de cidades e geral, com dedicação especial à Central de Trânsito. Antes da rádio de Minas, passou pela Rádio Band News FM e também pela BTN, onde cobriu o trânsito para várias rádios de BH e Brasília.