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Casal gay faz sucesso na internet e quebra imagem padrão do homem do campo

Thiago e Diogo moram e trabalham numa fazenda na Zona da Mata e viralizaram mostrando rotina da fazenda

Quem disse que peão tem que ser bruto, rústico e sistemático? O casal Diogo Henrique Galizan, 29, e Thiago de Abreu, 25, tem feito sucesso na internet, exatamente, pelo contrário: são trabalhadores rurais comprometidos com a lida na roça que esbanjam leveza, ternura, bom humor e cuidado com a natureza. Sem perder nenhuma dessas qualidades, eles carregam sacas de café e pegam na enxada na propriedade em que residem e trabalham, em Santana do Manhuaçu, na Zona da Mata mineira.

Os dois se conheceram há sete anos no Facebook. Trocaram mensagem durante um bom tempo até que combinaram de se encontrar num show da cantora Nayara Azevedo, de quem são fãs. De lá pra cá já se passaram sete anos e o amor e o compromisso entre eles só se fortalece. Os dois moram e trabalham há três anos nessa fazenda e têm muita gratidão pela forma como foram acolhidos pelos patrões.

“Como somos muito bem tratados e aceitos, acho que relaxamos e pudemos ser nós mesmos”, analisa Thiago, referindo-se ao hábito de gravar vídeos para postar nas redes sociais. Eles contam que tudo começou de brincadeira, sem nenhuma pretensão.

Um dia, fizeram um vídeo mostrando a colheita do café, o detalhe dos frutos e, depois, carregando as sacas nas costas… Os internautas gostaram tanto que, no dia seguinte, fizeram outro, mostrando os cuidados com a horta, as criações e até o serviço doméstico da casa onde moram.

“Né amor?” virou bordão indefensável

Deu muito certo. Hoje, “os meninos”, como são conhecidos, têm cerca de 350 mil seguidores no Tik Tok, 135 mil no Instagram e 315 mil no Kwai. Thiago é o mais falante e sempre termina todas as frases com “Né, amor?”. Virou um bordão. Agora, além da lida na roça, eles gravam e postam vídeos todos os dias.

Um dos que mais faz sucesso é o “Vídeo da Jantinha” onde eles mostram o cardápio do dia, feito no fogão à lenha e onde não faltam pratos tipicamente mineiros como angu com quiabo e ensopado de frango; almeirão, couve picadinha, abóbora e feijão novinho. Tudo cultivado por eles.

Fazenda tem apenas três empregados

No cafezal, ganham cerca de R$ 80 por dia, a depender da função, além de moradia, água e luz. A fazenda é de porte médio e tem apenas três empregados: o casal e um irmão de Thiago, que foi quem os indicou para o serviço.

A alcunha de ‘os meninos’, veio do patrão. “Ele fala que nós é os menino dele. Nosso patrão é maravilhoso, ele nos aceita e nos apoia muito”, conta Thiago, que não esconde a emoção, ao falar dos empregadores.

Antes de conseguir emprego e moradia nessa propriedade, os dois passaram maus bocados e chegaram a dormir na rua depois de seren expulsos e agredidos pelos antigos patrões, que se revoltaram ao tomarem conhecimento de que os dois eram namorados. Passaram por outros fazendas e ninguém os aceitava, juntos. Até que, há três anos, o irmão de Thiago os indicou para esse emprego e deu muito certo.

Comentário maldoso e homófico gerou solidariedade e engajamento

O ‘boom’ nas redes sociais começou mesmo há pouco mais de um ano, quando um hater fez um comentário maldoso e homofóbico. “No dia seguinte, ganhamos milhares de seguidores”, contou Diogo. “Aí a gente pensou: a gente não pode parar. Vamos continuar lutando pela nossa bandeira, porque do mesmo jeito que respeitamos os outros, queremos respeito. A gente só quer amar e ser feliz”, disse.

Simples assim. Tamanha autenticidade, não passa despercebida pelos internautas. São frequentes os comentários sobre o alto astral e as ‘fofurices’ dos Meninos, seja comendo marmita à sombra do cafezal, pegando pesado na enxada ou colhendo as couves da horta. Difícil é não se enternecer vendo os vídeos deles no Tik Tok. “A gente se sente muito bem cuidando da natureza, das flores e dos animais”, disse Thiago.

‘Sorte é acordar cedo e pegar na enxada’

Viralizar na internet, claro, ajuda: além de serem monetizados no Kwai e no Tiktok, eles ganham mimos de seguidores. A maioria dos presentes são itens de cozinha e alimentos. “Coisas que a gente estava precisando, e assim vamos montando nossa casinha”, comemora Thiago.

O dia da dupla começa às 5h40. Eles alimentam os porcos, cuidam da horta e depois vão para o cafezal, onde trabalham até às 17h. Nos finais de semana, fazem churrasco com amigos e parentes ou frequentam as festas das cidades próximas.

Thiago conta que estudou até o nono ano, mas sempre gostou de trabalhar na roça. “Tive uma família muito boa. Essa rotina aqui é a mesma que meus pais viveram e me criaram. É o legado que nós temos”, diz ele, que atribui o sucesso à espontaneidade dele e do marido. “A gente mostra uma coisa que as pessoas têm vergonha de mostrar: a simplicidade”, diz.

Já Diogo se formou no EJA (Educação de Jovens e Adultos) e chegou a começar uma faculdade de geografia, que precisou abandonar devido aos altos preços do aluguel na cidade. O sonho do casal é ter seu próprio pedaço de terra. “Poder ter nossos pezinhos de café pra gente trabalhar, ter nossa horta e outros animais”, disse. Simples, assim.

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Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.



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