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Estudo ensina técnicas que ajudam lavouras orgânicas a conviver com plantas espontâneas

Técnicas simples como rotação de culturas, cobertura do solo e semeadura direta auxiliam no controle das plantas indesejadas

Experimento funcionou com o plantio de milho e do feijão no início do período chuvoso

Um estudo da Embrapa mostra que é possível reduzir o uso de capina e eliminar a necessidade de herbicidas no controle de plantas espontâneas em lavouras de grãos. A solução é usar técnicas simples como rotação de culturas, cobertura do solo e semeadura direta. A pesquisa realizada no Cerrado goiano durante quatro anos beneficia especialmente lavouras orgânicas e agroecológicas que não usam produtos químicos.

O experimento foi conduzido na Fazendinha Agroecológica da Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio de Goiás (GO), em uma área de transição de sistema convencional para sistema orgânico e agroecológico. A proposta era testar como o cultivo de diferentes plantas de cobertura e o preparo do solo (convencional ou direto) influenciam a presença de plantas espontâneas, popularmente chamadas de “mato”, mas são encaradas agroecologicamente como “espontâneas”.

Durante a pesquisa, foram implantados e repetidos experimentos combinando plantas de cobertura do solo em semeadura direta e em preparo convencional utilizando grades aradora e niveladora. Houve ainda uma parcela em pousio (apenas vegetação espontânea presente na área) para comparação. Em cada sistema de manejo do solo, foram estabelecidas as culturas anuais de grãos.

O experimento funcionou com o plantio de milho e do feijão no início do período chuvoso, na época “das águas”. Após a colheita de grãos, as plantas de cobertura crotalária, guandu, mucuna-preta e sorgo vassoura foram semeadas na “safrinha”, permanecendo durante a entressafra, a não ser na área de pousio.

Posteriormente, com a chegada de cada novo período chuvoso, as plantas de cobertura de solo e a vegetação espontânea eram manejadas e deixadas sobre o solo para semeadura direta ou incorporadas para semeadura convencional do milho e do feijão “das águas”.

Sucesso no controle da tiririca

Neste trabalho, foram encontradas 25 espécies de plantas espontâneas. A tiririca, a trapoeraba, a corda de viola, o picão-preto e o leiteiro foram as utilizadas para o estudo, devido à importância no cultivo de feijão e de milho.

Um dos principais problemas em agroecossistemas tropicais é a tiririca. No experimento, ficou evidente que as plantas de cobertura exerceram efeito supressor em comparação à área de pousio (apenas plantas espontâneas na entressafra). O sorgo vassoura, milheto e crotalária, utilizados como cobertura de solo e depois manejados para semeadura de grãos em plantio direto, apresentaram a menor incidência de tiririca durante o experimento, o que pode ser atribuído à maior capacidade de cobertura do solo e produção de biomassa.

Uso de diferentes plantas de cobertura

Para a trapoeraba, o efeito de diferentes plantas de coberturas também foi um diferencial. O preparo do solo, seja convencional ou em plantio direto, não afetou significativamente o efeito supressor das plantas de cobertura.

Segundo os pesquisadores, os experimentos mostraram, de forma geral, que plantas de cobertura manejadas em sistema de semeadura direta reduziram a competitividade de espécies de plantas espontâneas diante de lavouras orgânicas de grãos de milho e de feijão. Isso pode ser explicado pela presença das plantas de cobertura ao longo da entressafra e de resíduos vegetais na superfície do solo.

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A rotação de culturas na safra “das águas”, o cultivo de diferentes plantas de cobertura do solo na entressafra, a semeadura direta e a diversidade de plantas espontâneas presentes no pousio, permitiram alcançar certo equilíbrio sem predomínio de nenhuma delas. Isso facilitou o controle e a convivência com plantas espontâneas seguindo princípios agroecológicos na produção de grãos.

*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.