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Estudante da UFMG cria food truck do agro e vence prêmio nacional; entenda

Jovem criou veículo de linhas retas, preparado para enfrentar trechos acidentados, carregar e vender alimentos

Furgão futurista com os alimentos na gôndola, tal como numa feira livre

Por ser pouco comum, o nome e sobrenome dele remetem ao de um estrangeiro russo ou, quem sabe, um sisudo cidadão britânico… Que nada… Voronoff Starling, de 28 anos, é daqui de Minas mesmo. Mais precisamente de Sabinópolis, no Vale do Rio Doce, a 270 km da capital.

Recém-formado em Design pela Escola de Arquitetura da UFMG, o jovem acaba de vencer o Desafio Automotive Business Diversidade, concurso inédito de inovação que engaja jovens de perfis e escolas diferentes na busca por soluções para os setores automotivos e de mobilidade. A iniciativa é apoiada pela Mercedes-Benz.

O estudante durante a explanação de seu projeto na UFMG

Food Truck para venda de legumes, verduras, ovos, doces, geleias, biscoitos…

Voronoff criou algo inédito: uma espécie de food truck do agro, um veículo funcional capaz de transportar alimentos para as grandes cidades com agilidade. Trata-se de uma espécie de furgão futurista de linhas bem retas, com 5 metros de comprimento e 2,15 de largura e capacidade para armazenar em sua carroceria climatizada até 72 caixas de alimentos.

Além disso, conhecendo bem a situação de algumas das nossas estradas (especialmente, as vicinais), o então estudante equipou o veículo com tração 4x4 e pneus adequados para andar na lama, na terra ou em trechos íngremes.

Mas o melhor não é isso. O carro - que ainda não tem nome - vira um ponto de venda com direito a gôndolas, wifi e máquinas para pagamentos com cartão. “Todo seu interior é modular e é possivel deixar apenas o lugar do motorista ou abrir espaço para um passageiro”, explica o projetista.

No entanto, a proposta dele - apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em dezembro do ano passado - vai além das linhas do design, incluindo um uso social para o veículo. “Para os pequenos produtores, às vezes, pode ser complicado ter que se ausentar da propriedade para comercializar os produtos em feiras livres e outros pontos de venda. Então, pensei que alguém poderia ficar responsável por recolher os produtos e transportá-los até à cidade, numa espécie de consórcio ou mini-cooperativa”.

Mas, de onde veio a inspiração?

Voronoff conta que, desde que entrou no curso de Desing ele sabia que queria desenhar esse carro. A inspiração veio da dona Iara, sua mãe, que é produtora rural na cidade de Rio Casca e mantém uma pequena agroindústria de derivados do leite. “Ela não dirige e esse momento de levar as coisas para a feira na cidade é sempre tenso pra ela. Acaba dependendo da disponibilidade do meu pai para levá-la ou de conseguir uma outra carona com vizinhos. Com minha proposta, ele teria apenas que abastecer o carro com seus produtos, sem se preocupar com mais nada”, contou.

Veículo tem tração 4x4 e pneus largos, adequados a qualquer estrada

Como a renda média mensal dos agricultores familiares é relativamente baixa (R$ 1.415 por domicílio rural, segundo dados do IBGE de 2017), o estudante defende que a mobilidade deve ser financiada parcialmente pelo governo, com uma pequena fração cabendo ao agricultor em modelo de rentabilidade.

O vencedor da competição foi selecionado por uma banca avaliadora composta por especialistas de universidades apoiadoras da iniciativa e profissionais da Automotive Business. Com o prêmio, o jovem terá sessões de mentoria com profissionais renomados do setor automotivo e da mobilidade.

Professores da UFMG ouvem atentamente o projeto de Voronoff: nota máxima!

Outra vantagem do food truck do agro é que ele evitaria o desperdício que, inevitavelmente, acontece quando frutas, verduras e ovos precisam percorrer longas distâncias e serem manipulados de um lugar para outro.

Contratado pela Stellantis, grupo automotivo franco-ítalo-americano, ligado à Fiat, como designer criativo do exterior dos veículos, Voronoff disse à Itatiaia que sente-se gratificado e feliz com a repercussão de seu invento. “Minha principal motivação era aprender a desenvolver um projeto e lidar com todos os percalços do processo, mas consegui ir além disso, evoluindo como ser humano, refletindo sobre as condições de trabalho dos pequenos produtores rurais, as desigualdades sociais e o olhar do mercado para quem tem menos recursos”.

O TCC dele? Claro, ganhou nota máxima da banca examinadora. Voronoff, agora, segue sonhando com o dia em que seu furgão sairá do papel para ganhar as estradas facilitando a vida e motivando quem tira seu sustento do cultivo da terra.

Parte da frente e a parte de trás do veículo são bem parecidas

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Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.