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Commodities agrícolas: você conhece o mercado futuro?

Engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa fala sobre as vantagens do segmento e as modalidades existentes

Mercado futuro é opção de redução de riscos para o produtor de commodities como os produtores de soja

Operar no mercado futuro pode ser uma boa alternativa para os produtores que se dedicam à produção de commodities, como o milho, a soja e as carnes, principalmente em tempos de muitas oscilações de preços, de safra e do mercado externo.

Trata-se de um ambiente da Bolsa de Valores que impacta diretamente o futuro de empresas e produtores rurais que dependem da cotação de moedas estrangeiras ou do preço das commodities.

Na prática, ele oferece possibilidades do agricultor lucrar, minimizando os riscos na produção e obtendo retornos expressivos. Em entrevista à Itatiaia, o engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa e membro da Academia Brasileira de Ciência Agronômica (CCAS), Décio Luiz Gazzoni, disse que qualquer período do ano é bom para trabalhar com mercado futuro porque as operações ocorrem ao longo de todo o ano sem interrupções e, a cada momento, pode haver uma motivação diferente para investir no segmento.

Engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa e membro do CCAS

Como funciona na prática?

O contrato futuro nada mais é do que um contrato de compra e venda entre dois investidores. A parte comprada se compromete a comprar o ativo objeto do contrato na data de vencimento a um preço pré-definido. E a parte vendida se compromete a vender e entregar o ativo em questão. Isso acontece no chamado mercado futuro.

Qual é o objetivo?

Não é, necessariamente, receber ou vender os produtos que os contratos negociados representam – milho, por exemplo – mas lucrar com a variação de preços desses produtos. Um produtor de milho, por meio dos contratos futuros, pode garantir que conseguirá vender seu produto por um preço justo em determinada data independentemente do preço de mercado ter caído vertiginosamente na ocasião.

Decisões devem ser embasadas

Quanto mais informações o agricultor tiver, melhor. E, hoje em dia, o clima é determinante na produção agrícola, na produtividade, nos custos e levantamento de safra porque essas oscilações mexem com os preços. Por isso é fundamental que quem vai operar no mercado futuro esteja muito bem informado. É importante tomar decisões embasadas.

Conheça os três tipos de operações

O pesquisador explica que existem três tipos de operação no mercado que, genericamente, podem ser chamadas de “mercado futuro”. A primeira é o “Mercado a Termo”, que é contrato de promessa de compra e venda propriamente dito. O comprador/vendedor registra um objeto, a quantidade, o preço, a data de entrega, de pagamento e o comprador adquire o direito de receber um produto agrícola numa data futura, obrigando-se a pagar o preço que foi estipulado. O vendedor, por sua vez, tem a obrigação de entregar um produto nas especificações contratadas, recebendo o preço fixado na data futura

Já no Mercado de Opções, assim como no Mercado a Termo, negocia-se o direito de compra e venda de um determinado produto. De maneira que a quantidade e o preço são previamente ajustados. A diferença para o mercado a termo, é que o produtor tem o direito de vender no preço e prazo estabelecidos. Não existe a obrigação de levar a relação contratual até à liquidação, como é o caso do Mercado a Termo. Ou então antecipar só por vontade do comprador.

Já no Mercado Futuro Estrito Senso, qualquer um pode operar. Não precisa nem ser produtor rural. Qualquer cidadão que nunca pisou numa propriedade rural pode. É um investimento como outro qualquer. “A pessoa aposta que, numa data x, o preço de uma determinada commodity vai estar em y. E aí é necessário fazer os ajustes diariamente. Se, no final do dia, o preço for maior do que o que você acordou, você tem que pagar a diferença. Se for menor, você recebe a diferença”.

“Essas são as formas de gerenciamento de risco que o produtor tem. Ele faz um hedge para garantir que não será surpreendido por uma queda brusca de preços.

Hedge é um termo em inglês (sem tradução para o português) que significa proteção contra oscilações de preços.

“Se há muita oscilação ou previsão de oscilações, melhor fazer um hedge. O produtor busca um preço alvo, dizendo que fica contente com aquele preço e vai operar no Mercado Futuro com esse preço. Essa é uma condição. Outra é se o preço já estiver bom, mas houver um risco dele abaixar no futuro. Então, ele já coloca pra venda futura no preço atual”.

Como surgiu a modalidade?

Há relatos de negociações de contratos futuros desde o século XII. Na época, a preocupação com o preço dos ativos agrícolas já era bastante grande, e nas feiras espalhadas por toda a Europa medieval já havia pessoas interessadas em arbitrar negociações para uma data futura. No Brasil, a Bolsa de Mercadorias e Futuros – atualmente B3 – começou a operar em 1986.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.