Em Minas, de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), os produtores registrados de cachaça, são cerca de 397. Mas o IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária) calcula que somados aos da informalidade, esse número chegue perto de 7 mil.
Então, esse é o principal desafio: tirá-los da informalidade para que o governo possa, de fato, apoiá-los, fomentar políticas públicas, incentivar a exportação e disseminar boas práticas de fabricação.
O que os desanima?
De acordo com o presidente da Comissão Técnica de Cachaça de Alambique da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) , Roger Sejas Guzman Júnior, a alta tributação. “Hoje temos trabalhado para tentar resolver a substituição tributária do ICMS, o que seria um grande alívio. A cachaça de alambique tem que ter um tratamento diferenciado, é preciso olhar a importância da produção para a agricultura familiar. O tributo elevado impacta na regularização, muitos querem se capacitar e regularizar, mas enfrentam dificuldades”, explica.
Esforço do governo
Por outro lado, ele diz que é preciso reconhecer o esforço do Governo do Estado em promover a cachaça de alambique por meio de programas das Secretarias de Cultura (SECULT), de Desenvolvimento Econômico (SEDE) e Agricultura (SEAPA). “Além disso, a regularização dos alambiques informais tem sido incentivada como forma de agregar valor aos produtos e facilitar o comércio em mais estabelecimentos e estabelecimentos maiores, facilitando o acesso do público a bebidas de qualidade. Outra medida, segundo ele, tem sido a inclusão da cachaça em encontros de negócios com países vizinhos e até outros com estreita relação comercial com o estado.
“O setor está cada vez mais organizado e tem investido na melhoria dos processos de produção resultando em bebidas com cada vez mais qualidade”, diz Roger.
Cachaça de alambique ou industrial? Entenda a diferença
Aroma e sabor: a cachaça de alambique tem aroma e sabor equilibrados. São mais perceptíveis ao paladar, estimulando novas sensações. Em contrapartida, a cachaça industrial destaca o alcoólico, não preza por novos sabores e experiências.
– Destilação: a produção da cachaça de alambique ocorre por meio de destiladores de alambique de cobre. Isso resulta em uma bebida mais fina, pura e rica em aromas e sabores.
– Valor agregado: por ser produzida geralmente por famílias e em pequena escala, a cachaça de alambique mantém um processo detalhista, resultando em uma bebida de excelência e com valor agregado.
Independentemente do tipo de cachaça, artesanal ou industrial, é fundamental escolher bebidas com registro e selos, tanto da ANVISA quanto do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Isso garante que você consumirá uma bebida de acordo com as boas práticas de fabricação.
“A principal conquista da cachaça de alambique foi o reconhecimento por meio da Portaria 539/22. O MAPA reconheceu que ela é uma aguardente com características de cachaça, mas também com outras que a distinguem das cachaças industriais. A de alambique é destilada no Alambique de Cobre, fermento sem adição de químicos, sem queima de cana (única categoria que por lei proíbe a prática nociva ao meio ambiente) e, portanto, é aquela que todas as pessoas remetem à sua ancestralidade, que desperta o interesse de conhecer, viver experiências que conversam com memórias afetivas”, disse Roger.
Preconceito ainda persiste?
“Sim, o preconceito ainda muito grande, por ser um produto de identidade brasileira. Quebrá-lo requer um trabalho longo. A sociedade precisa entender que a cachaça é agroindústria, emprega e proporciona a produção de algo que o mundo reconhece como tendo DNA brasileiro. O potencial é grande quando se tem 200 milhões de embaixadores que podem levar as belas garrafas de cachaças de alambiques para fora do país fazendo com que o mundo se encante por esse produto. Queremos tornar a cachaça um produto de exportação e referência, como é o nosso café e o queijo”, destaca.
Trata-se de um negócio lucrativo?
De acordo com o presidente da Comissão Técnica, o mercado ainda comporta bons empreendimentos. “Empreendedores que coloquem os seus negócios na ponta do lápis; não dá para ser mais no amadorismo como antes, um simples hobby. Deve haver consciência de que o negócio precisa ter sustentabilidade em termos de meio ambiente e negócio, propriamente dito. Além do mais, a cachaça de alambique exige responsabilidade de qualidade técnica, porque é um produto que o consumidor ingere, sendo, portanto, uma questão de saúde pública”.
“Beba gelada ou faça drinks com frutas”
Formado em Turismo e Marketing, o empresário, organizador e presidente da Expocachaça, José Lúcio Mendes, trabalha pelo desenvolvimento do setor e a quebra de preconceito da bebida desde os anos 90, quando era vice-presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
Apaixonado pela bebida, ele dá dicas de como tornar a “marvada” ainda mais saborosa: “Gosto com bastante gelo, por ser uma bebida destilada como o whisky. Outra boa opção é deixá-la no congelador por algumas horas. Ela não congela, mas fica licorosa, ótima para tomar na beira da piscina. Pode-se também misturá-la com água com gás e acrescentar frutas, compondo deliciosos drinks”.
Assim como Roger, José Lúcio também critica a alta tributação da cachaça como o chamado “Imposto do Pecado”. que tramita na Câmera Federal. A ideia é que ele incida sobre a produção, comercialização ou importação de produtos danosos à saúde, ou ao meio ambiente, desestimulando o consumo”.
“Durante séculos, a cachaça vem sofrendo com uma elevadíssima carga de impostos, desde 1755 quando tornou-se subsídio voluntário para obtenção de recursos para reconstrução de Lisboa atingida por um terremoto. Uma cobrança que era para ter vigorado por dez anos e que perdurou por sessenta anos. Agora, vem aí o chamado “imposto do pecado”, inspirado no Sintax dos Estados Unidos, onde fast food, combustíveis, tabaco e álcool são os itens mais taxados pela modalidade”.
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