Spider Man, Homem de Ferro, Dartagnan, Lanterna Verde, Mulher Maravilha e a Sra. Incrível convivem harmoniosamente na fazenda Galo Gigante, em Baldim, região metropolitana de BH. Ao contrário dos super heróis homônimos, eles não precisam se defender de malfeitores e dispõem de comida farta, abrigo com sombra e telinha protetora. Trinta e seis câmeras monitoram a criação, 24 horas por dia, para afastar qualquer risco de predador. A ração é balanceada, a água, filtrada e os galões são tratados como pets: comem milho na mão e adoram cafuné.
São as “galinhas dos ovos de ouro” do produtor rural Geraldo Gonçalves. Ou melhor: os galos e galinhas da raça Índio Gigante que chegam a medir 1,23 cm e pesar até 8 kg na idade adulta, conhecidos como os “nelores” da avicultura. Geraldo se orgulha de sua criação, mas diz que todo esse peso nem é desejável porque o galo pode machucar a fêmea na hora da monta. “O ideal é que meçam 1,14 e pesem entre 5 e 6 quilos”, pondera.
Ao todo, a fazenda Galo Gigante tem hoje 200 galinhas e apenas 10 galos. Com o sémen de um galo, consegue-se inseminar 50 fêmeas. E as inseminações artificiais acontecem sempre à noite, quando o sol já se pôs e as aves estão mais tranquilas.
Criatório registrado e fiscalizado pelo IMA
Todos os exemplares da propriedade de Geraldo têm registro de seus progenitores, data de nascimento e outras informações relevantes para o melhoramento genético. É o chamado Rastreamento que agrega valor à criação. Os nomes de super-heróis (dados a todos os reprodutores) não são mera brincadeira. “São uma forma de carinho”, diz Geraldo. Ele herdou o gosto pela criação de aves domésticas de sua mãe, dona Djanira, que ainda hoje na casa dos 70 anos, não larga o hábito.
Ainda menino, na fazenda da família em Felixlândia – no Alto São Francisco – Geraldo batizava as aves e separava os casais mais bonitos e fortes para que dessem crias melhores. “Eu já fazia um melhoramento genético sem saber”, diz ele, achando graça.
Mais tarde, quando se mudou para Belo Horizonte, o criador descobriu que havia uma raça considerada superior, a Índio Gigante. Mas não tinha dinheiro para iniciar um investimento. Só depois de formado em Direito e atuando como advogado, ele pôde se dedicar ao negócio.
Inicialmente, comprou um macho e duas fêmeas – o chamado terno – por R$ 500. Era o ano de 2004. Ao final de 365 dias, tinha 200 aves a um custo de produção baixo que se mantém ainda hoje. De acordo com o administrador da fazenda e sócio de Geraldo, Carlos Lúcio de Souza, cada animal consome apenas R$ 7,20 de ração por mês.
E os preços de revenda são altos: um pintinho de 7 a 15 dias custa R$100; um galo ou uma galinha não saem por menos de R$1000 e podem chegar a valores bem mais altos. Apollo, por exemplo, um galo de porte exemplar, foi vendido no ano passado por 10 mil.
As características que mais valorizam são:
ter acima de 1,17 metros
barbela de boi e crista em formato de bola
boa conformação física geral
Uma dúzia de ovos oscila entre R$ 800 (fruto de inseminação artificial) e R$ 450 (se proveniente de monta natural). Só lembrando que esses ovos não são de comer… Dentro deles, tem um pintinho que, em breve, será um galo ou galinha gigante.
Outra vantagem é que os galos comuns não adquirem peso suficiente para o abate, antes dos 10 meses, enquanto o Índio Gigante está pronto em 120 dias, podendo ser abatido com 90 dias, caso o pobre já tenha ganhado uns 2 quilinhos…
Sua carne é mais firme, com mais fibras, baixo teor de gordura e sabor semelhante ao das aves de caça.
Aves ficam soltas durante o dia
O manejo é o mesmo do sistema de criação do modelo extensivo: aves soltas em piquetes forrados com grama estrela, que é rica em nutrientes. Comem também milho, soja, frutas e uma mistura fortificada, que melhora a postura dos ovos.
Rastreamento agrega valor
Geraldo evita falar em cifras e diz que sua produção não aumentou de cinco anos pra cá. A lucratividade sim, porque ele agregou valor à criação com o rastreamento e o controle da árvore genealógica das aves. “Se uma galinha botou um ovo na baia 30, por exemplo, nós sabemos que ela nasceu no dia 7 de julho e usa a anilha 5. Sabemos também quem é o pai e a mãe dela. O mercado gosta disso, da garantia de qualidade e procedência.”
Como surgiu a raça?
Simultaneamente em Minas Gerais e Goiás, depois de um longo período de cruzamentos de raças como o shamo e o malaio, com galinhas caipiras. O Índio Gigante pode alcançar o comprimento (medida entre a ponta do bico até a extremidade do pé) de mais de um metro e as fêmeas chegam a 95 centímetros.
Geraldo disse ser verdade que as aves têm em seu DNA, traços de aves combatentes, mas que estes não predominam no seu temperamento pacífico. Ele conta que há pessoas que o procuram interessadas nas aves para rinhas mas, geralmente, são estrangeiros do Oriente Médio, onde alguns países admitem a prática.
No Brasil, ela é considerada crime, previsto na lei 9605/1988. O contraventor pode responder por crime ambiental e maus tratos. Nas rinhas, o animal é submetido a situações de estresse e desgaste físico até à morte.