Ouvindo...

Produtora de grãos diz que sempre estudou muito porque queria ‘ser ouvida’

Helga França Paiva administra uma grande fazenda produtora de grãos e diz que não toma decisões sem embasamento científico

Helga: se você traz uma informação relevante, a pessoa escuta e considera o que temos a dizer

A produtora de grãos Helga França Paiva foi da primeira turma de Engenharia Agronômica da Universidade Federal de Lavras (UFLA), junto com o irmão Décio França Paiva, em 1995, tempo em que eram poucas as mulheres a escolher o curso. Ela emendou o mestrado em Fitopatologia, já mirando a produção de grãos, uma vez que a pecuária de leite, atividade desenvolvida por sua família, numa fazenda em Ibiá, no Triângulo Mineiro, andava rendendo pouco.

“Meu pai faleceu quando eu ainda estava concluindo o ensino médio, mas eu já sabia que faria Agronomia. Percebi que eu e meu irmão Décio seguiríamos o sonho dele de trabalhar com a terra. Ele tinha muitas ideias e projetos relacionados à agricultura e não teve tempo de realizar. Então ficamos felizes quando entendemos que poderíamos fazer isso por ele”.

Depois de formados, os irmãos ainda tentaram, por um ano, trabalhar com a pecuária de leite iniciada pelo pai deles, mas desistiram. Arrendaram terras e investiram nas lavouras de grãos, numa região de predominância da atividade leiteira. “Nosso trabalho era abrir as áreas de pastagem e transformar em plantio de soja e milho”, conta Helga. Como diferencial, apostaram no manejo totalmente baseado em informações científicas e aplicação de modernas tecnologias. “Não usamos ou aplicamos nada que não tenha comprovação científica, não gostamos de testar algo pela primeira vez. Mas temos muita confiança na pesquisa agrícola e muita necessidade desse tipo de informação”, explicou Helga.

Os maiores volumes produzidos por eles são de soja e milho. Na safra 21/22, eles produziram 17.600 t de soja e 11.500 t de milho. “Repassamos para grandes empresas como Cargill, ADM, Bunge, que exportam, mas a maior parte do que produzimos abastece as fábricas de insumos de Uberlândia”, explicou.

Responsável pela administração da propriedade que, hoje, também conta com a participação de seu irmão mais novo, Vítor França Paiva, Helga diz que sua trajetória profissional não teve nenhuma dificuldade `gritante´ por ser uma mulher. “Sempre fui tratada com muito respeito no meio agro. Mas coloquei na minha cabeça que, exatamente por ser mulher, eu teria que estudar mais, teria que saber mais, teria que correr mais atrás do que os homens porque “em geral, temos mais dificuldade de ser ouvidas, mas se a gente traz uma informação relevante, a pessoa escuta e considera o que temos a dizer”.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.