Após os ataques do grupo islâmico Hamas contra Israel no último final de semana, o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, afirmou que o seu país “apoia a legítima defesa da nação palestina”, de acordo com a agência de notícias iraniana Mehr.
“O regime sionista e os seus apoiadores são responsáveis por colocar em perigo a segurança das nações da região”, declarou Raisi. A guerra deixou centenas de israelenses e palestinos mortos até o momento, além de milhares de feridos.
Ainda que o mandatário iraniano tenha sinalizado apoio aos ataques que surpreenderam Israel nas primeiras horas de sábado (7), a missão iraniana nas Nações Unidas negou nesta segunda-feira (9) envolvimento de Teerã nas ações do Hamas.
“Apoiamos enfaticamente a Palestina; no entanto, não estamos envolvidos na resposta Palestina, uma vez que ela é tomada exclusivamente pela própria Palestina”, disse o país em nota.
O Irã tem sido repetidamente acusado de tentar armar o Hamas e outros grupos no seu esforço para atacar por procuração.
A CNN ouviu especialistas para compreender quais são os laços entre as autoridades em Teerã e o grupo palestino considerado terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE).
Posição do Irã não surpreende, avalia especialista
Na percepção de Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, o posicionamento do presidente iraniano não surpreende. “Pelo jogo da articulação do Oriente Médio, o Irã sempre apoiou [o Hamas]”, diz ele.
Para o professor, o que de fato chama a atenção é a postura da Arábia Saudita, que destacou em
Arábia Saudita e Israel vinham negociando nos últimos meses um acordo histórico de normalização das relações entre os países, intermediado pelos Estados Unidos. A ofensiva do Hamas, no entanto, pode colocar tudo a perder.
“Até uma semana atrás, [os países] estavam em entendimento para um grande acordo. Agora, a princípio, ele está suspenso”, comenta o especialista.
Questionado, o professor ponderou que, apesar da gravidade dos combates, “não há a mínima possibilidade” de outros países árabes se envolverem no conflito.
A questão palestina ficou isolada dentro do Oriente Médio
Reginaldo Nasser, professor livre docente de Relações Internacionais da PUC-SP
Ligação entre Irã e Hamas é histórica, segundo pesquisador
Para Felipe Neaape, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ, existem ligações históricas entre Irã e Hamas, que está ligada à narrativa antissionista (oposição à existência do Estado de Israel) compartilhada por ambos.
“Existe uma ligação comprovadamente histórica de apoio, não só narrativamente, mas do ponto de vista prático entre as Forças Armadas iranianas e o Hamas”, aponta o especialista.
Na avaliação do pesquisador, há indícios de que o grupo islâmico recebe armamentos vindos de Teerã. Com relação à postura do Irã, Neaape destaca que “fica uma posição um tanto quanto dúbia no sentido de que o país alega não ter participado, mas diz apoiar [os ataques]”.
O pesquisador cita também manifestações pró-Hamas que ocorreram nas ruas do Irã após os dos últimos dias como uma prova da aliança entre o país e o grupo islâmico.
Assim como Reginaldo Nasser, o pesquisador não acredita que outros Estados venham ao socorro do Hamas.
O conflito pode escalar, mas não são tantos os países que estão dispostos a financiar o Hamas contra Israel
Felipe Neaape, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ
Novo ciclo de violência pode interessar ao Irã, destaca professor
Conforme explica Sandro Teixeira Mota, professor de Pós-Graduação em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), o apoio do Irã ao Hamas é cada vez maior e mais forte.
“O Irã assumiu o vácuo de outros financiadores desse movimento e hoje ele é o principal sustentáculo externo do grupo em relação as suas atividades. O Irã vai negar [a relação], mas os sinais estão muito claros e ele seria o principal beneficiado de uma ação desse tipo”, afirma o professor.
Para ele, as tensões entre Israel e Irã devem se manter no campo dos serviços de inteligência, no que classifica como “guerra nas sombras”.
Segundo o especialista, um dos objetivos dos ataques do Hamas pode ser recuperar a centralidade da questão palestina no mundo árabe.
Um novo ciclo de violência entre israelenses e palestinos é interessante para o Irã, inclusive ajuda a erodir parte da credibilidade do processo de normalização de Israel com os países da região
Sandro Teixeira Mota, professor de Pós-Graduação em Ciências Militares da ECEME