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“Pessoas passam, em média, 90% do tempo em ambientes fechados, como casas, locais de trabalho, lojas, transportes... estão constantemente expostas à contaminação por microplásticos através da inalação, sem sequer perceber”, alertaram os autores da pesquisa, Jeroen Sonke e Nadiia Yakovenko, do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França e da Universidade de Toulouse.
A concentração de microplásticos foi significativamente maior em veículos do que em residências: até 2.238 partículas por metro cúbico em carros, contra 528 em casas. Calor, atrito, luz solar e uso frequente aceleram a liberação dessas partículas de painéis, estofados, maçanetas e revestimentos. A ventilação limitada dos automóveis contribui para o acúmulo.
Essas partículas atravessam barreiras biológicas e já foram encontradas em diversos órgãos humanos, como sangue, pulmões, fígado, placenta, leite materno, urina e até no cérebro, segundo pesquisas citadas pela CNN. Em 2024, outro estudo associou a presença de microplásticos nas artérias carótidas a um risco duas vezes maior de infarto, AVC ou morte nos três anos seguintes.
“Os microplásticos no ar, especialmente em ambientes fechados, podem ser uma ameaça invisível que estamos apenas começando a compreender”, destacaram os pesquisadores.
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) estima que mais de seis trilhões de toneladas de plásticos contaminam o planeta e que apenas 10% são reciclados. Para o órgão, a exposição contínua a micro e nanoplásticos exige medidas urgentes de controle, pesquisa e vigilância.
Especialistas chamam atenção para os riscos dos aditivos presentes nos plásticos, como bisfenóis, ftalatos, PFAS e metais pesados, que podem desencadear problemas respiratórios, distúrbios hormonais, infertilidade, doenças cardiovasculares e câncer.
“A preocupação aumenta à medida que as partículas ficam menores. Quanto menor o microplástico, maior o impacto sobre a saúde humana”, explicou a pesquisadora Sherri Mason, da Universidade Gannon.
Apesar da robustez do estudo, representantes da indústria química, como Kimberly Wise White, do American Chemistry Council, pedem mais pesquisas com amostras maiores e métodos padronizados antes de conclusões definitivas.
Ainda não há tecnologia suficiente para detectar nanoplásticos - partículas ainda menores que os microplásticos - no ar ou no corpo humano, mas cientistas defendem avanços urgentes nesse campo. “Precisamos desenvolver ferramentas que quantifiquem essas partículas minúsculas tanto no ambiente quanto no organismo”, reforçou o toxicologista Matthew Campen.
Diante desse cenário, especialistas recomendam reduzir o uso de plásticos descartáveis e rever hábitos cotidianos: evitar sacolas plásticas, optar por recipientes de vidro, não aquecer alimentos em embalagens plásticas e substituir copos plásticos por versões de vidro ou metal.
Segundo Philip Landrigan, da Comissão Minderoo–Monaco sobre Plásticos e Saúde Humana, “é impossível evitar totalmente os plásticos, mas é possível limitar seu uso aos produtos realmente necessários”.
Em janeiro de 2024, outra pesquisa revelou que um litro de água engarrafada contém em média 240 mil partículas plásticas, sendo 90% delas nanoplásticos.
Minimizar o consumo de plásticos e adotar políticas públicas para controlar sua presença no ambiente tornou-se, segundo os cientistas, uma necessidade urgente para conter os impactos desse inimigo invisível que respiramos diariamente.