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Inalamos até 70 mil microplásticos por dia em ambientes fechados, aponta estudo

Pesquisa alerta para riscos à saúde decorrentes da exposição diária a essas partículas, como problemas respiratórios, hormonais e até câncer

Um estudo publicado na revista científica PLOS One revelou que uma pessoa adulta pode inalar até 68 mil partículas de microplásticos por dia apenas em ambientes fechados, como casas e automóveis. As partículas, com tamanho entre 1 e 10 micrômetros, comparáveis aos glóbulos vermelhos , são liberadas por objetos do cotidiano, como cortinas, móveis, carpetes e peças plásticas internas dos veículos.

“Pessoas passam, em média, 90% do tempo em ambientes fechados, como casas, locais de trabalho, lojas, transportes... estão constantemente expostas à contaminação por microplásticos através da inalação, sem sequer perceber”, alertaram os autores da pesquisa, Jeroen Sonke e Nadiia Yakovenko, do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França e da Universidade de Toulouse.

A concentração de microplásticos foi significativamente maior em veículos do que em residências: até 2.238 partículas por metro cúbico em carros, contra 528 em casas. Calor, atrito, luz solar e uso frequente aceleram a liberação dessas partículas de painéis, estofados, maçanetas e revestimentos. A ventilação limitada dos automóveis contribui para o acúmulo.

Essas partículas atravessam barreiras biológicas e já foram encontradas em diversos órgãos humanos, como sangue, pulmões, fígado, placenta, leite materno, urina e até no cérebro, segundo pesquisas citadas pela CNN. Em 2024, outro estudo associou a presença de microplásticos nas artérias carótidas a um risco duas vezes maior de infarto, AVC ou morte nos três anos seguintes.

“Os microplásticos no ar, especialmente em ambientes fechados, podem ser uma ameaça invisível que estamos apenas começando a compreender”, destacaram os pesquisadores.

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A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) estima que mais de seis trilhões de toneladas de plásticos contaminam o planeta e que apenas 10% são reciclados. Para o órgão, a exposição contínua a micro e nanoplásticos exige medidas urgentes de controle, pesquisa e vigilância.

Especialistas chamam atenção para os riscos dos aditivos presentes nos plásticos, como bisfenóis, ftalatos, PFAS e metais pesados, que podem desencadear problemas respiratórios, distúrbios hormonais, infertilidade, doenças cardiovasculares e câncer.

“A preocupação aumenta à medida que as partículas ficam menores. Quanto menor o microplástico, maior o impacto sobre a saúde humana”, explicou a pesquisadora Sherri Mason, da Universidade Gannon.

Apesar da robustez do estudo, representantes da indústria química, como Kimberly Wise White, do American Chemistry Council, pedem mais pesquisas com amostras maiores e métodos padronizados antes de conclusões definitivas.

Ainda não há tecnologia suficiente para detectar nanoplásticos - partículas ainda menores que os microplásticos - no ar ou no corpo humano, mas cientistas defendem avanços urgentes nesse campo. “Precisamos desenvolver ferramentas que quantifiquem essas partículas minúsculas tanto no ambiente quanto no organismo”, reforçou o toxicologista Matthew Campen.

Diante desse cenário, especialistas recomendam reduzir o uso de plásticos descartáveis e rever hábitos cotidianos: evitar sacolas plásticas, optar por recipientes de vidro, não aquecer alimentos em embalagens plásticas e substituir copos plásticos por versões de vidro ou metal.

Segundo Philip Landrigan, da Comissão Minderoo–Monaco sobre Plásticos e Saúde Humana, “é impossível evitar totalmente os plásticos, mas é possível limitar seu uso aos produtos realmente necessários”.

Em janeiro de 2024, outra pesquisa revelou que um litro de água engarrafada contém em média 240 mil partículas plásticas, sendo 90% delas nanoplásticos.

Minimizar o consumo de plásticos e adotar políticas públicas para controlar sua presença no ambiente tornou-se, segundo os cientistas, uma necessidade urgente para conter os impactos desse inimigo invisível que respiramos diariamente.

Jornalista graduado com ênfase em multimídia pelo Centro Universitário Una. Com mais de 10 anos de experiência em jornalismo digital, é repórter do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Antes, foi responsável pelo site da Revista Encontro, e redator nas agências de comunicação FBK e Viver.