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Até os animais se enganam em Yellowstone: bisão morre derretido ao cair em lago fervendo

Morte do animal serve como alerta para os perigos naturais do parque

Áreas termais no Parque Nacional de Yellowstone representa perigo para os animais

A recente morte de um bisão na Grand Prismatic Spring, uma das áreas mais visitadas do Parque Nacional de Yellowstone, chamou atenção para os perigos das zonas termais da região. Embora muitas pessoas saibam que essas fontes são quentes e perigosas, ainda existem muitos equívocos sobre o que realmente representa risco nessas áreas.

O caso aconteceu na manhã de sábado, 21 de junho. Visitantes da Grand Prismatic Spring observaram quando um bisão escorregou e caiu em uma parte rasa da fonte termal. A água ali estava a cerca de 89 °C, uma temperatura próxima da ebulição considerando a altitude do local. O animal, claramente em pânico com o calor, tentou sair, mas acabou tropeçando e pisando em uma parte mais profunda da nascente, e morreu rapidamente.

As autoridades do parque decidiram não remover a carcaça do animal. Além do risco envolvido, esse trabalho poderia danificar os delicados tapetes bacterianos coloridos que revestem a fonte e dão nome à Grand Prismatic Spring. Qualquer dano nesse ecossistema pode levar mais de um ano para se recuperar naturalmente. Como a água da fonte é quase fervente, o corpo do bisão começou a se decompor rapidamente. Em pouco tempo, devem restar apenas os ossos.

Embora não seja comum presenciar esses episódios, a morte de animais selvagens em fontes termais não é inédita em Yellowstone. Em anos anteriores, por exemplo, um filhote de alce morreu após ficar preso em poças de lama na Bacia do Gêiser West Thumb. Há também registros visíveis de ossadas em outras fontes do parque, como Gentian Pool, Ojo Caliente e a Skeleton Pool — esta última, inclusive, recebeu esse nome por causa dessas ocorrências.

Em 2022, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley instalaram uma câmera subaquática na Doublet Pool, localizada na Geyser Hill, próxima ao famoso gêiser Old Faithful. Durante o estudo, acabaram encontrando o esqueleto de um alce no fundo da fonte. É possível que outros casos semelhantes passem despercebidos, especialmente durante o inverno ou à noite. Ainda que os animais consigam perceber o calor sob seus cascos, nem sempre isso é suficiente para evitar acidentes, principalmente quando pisam em crostas finas e frágeis nas bordas das fontes.

As fontes termais de Yellowstone

O caso do bisão oferece uma oportunidade para desfazer um dos principais mitos sobre as fontes termais de Yellowstone: a ideia de que todas são altamente ácidas e dissolvem qualquer ser vivo que caia nelas. Na verdade, a maioria das fontes termais e gêiseres do parque possui pH neutro ou alcalino, ou seja, não são tão ácidas quanto se imagina. Isso inclui quase todas as fontes das bacias termais ao longo do Rio Firehole.

As fontes mais ácidas costumam ser as fumarolas (de onde saem gases), os potes de lama e algumas áreas específicas, como o Caldeirão de Enxofre (Sulfur Caldron), localizado na região do Vulcão de Lama. Lá, os fluidos têm pH abaixo de 2 — acidez comparável à do suco de limão ou do ácido do estômago humano. Ainda assim, a concentração de ácido é relativamente baixa, o que significa que, apesar de poder causar irritação, a lama e a água dessas áreas não costumam provocar queimaduras imediatas ao toque.

O que realmente torna as fontes termais de Yellowstone tão perigosas é a temperatura. Muitas delas estão em ponto de ebulição ou bem próximas disso. Isso significa que, tanto para animais quanto para pessoas, a exposição mesmo por poucos segundos à água pode ser fatal.

Por isso, as autoridades reforçam a importância de permanecer sempre nas passarelas e trilhas sinalizadas nas áreas termais do parque. As crostas que se formam sobre a superfície podem parecer firmes, mas frequentemente escondem água fervente ou vapor ainda mais quente. Muitos acidentes graves e até mortes já ocorreram quando visitantes saíram das trilhas, pisaram em bordas instáveis ou escorregaram em áreas aparentemente seguras.

Izabella Gomes é estagiária na Itatiaia, atuando no setor de Jornalismo Digital, com foco na editoria de Cidades. Atualmente, é graduanda em Jornalismo pela PUC Minas