Testosterona: quando o tratamento ajuda e quando o uso vira risco

O que explica a endocrinologista Dra. Camila Aramuni

Testosterona quando o tratamento ajuda e quando o uso vira risco

Cansaço que não passa, perda de força, queda de disposição, dificuldade de concentração. Para muita gente, esses sinais aparecem de forma silenciosa e acabam sendo atribuídos apenas à rotina pesada ou ao avanço da idade. Nos últimos anos, porém, a testosterona entrou no centro desse debate e passou a ser tratada quase como solução universal. O problema é que, entre informação rasa e promessas rápidas, muita coisa importante se perde no caminho. A testosterona é essencial para homens e mulheres, mas seu uso sem critério pode transformar cuidado em risco.

A testosterona vai muito além do universo masculino

Testosterona quando o tratamento ajuda e quando o uso vira risco

Apesar de ser frequentemente associada apenas aos homens, a testosterona exerce funções fundamentais também no organismo feminino, especialmente a partir dos 40 anos. “A testosterona não é um hormônio exclusivo dos homens, ela participa de processos metabólicos, musculares, ósseos e cognitivos importantes nas mulheres”, explica Camila Aramuni. O hormônio está ligado à geração de energia celular, à manutenção da massa muscular e óssea, ao equilíbrio do humor e à sensação de bem-estar. Também influencia diretamente a libido e a disposição física e mental. Com o passar do tempo, sua produção diminui, e essa queda pode se manifestar em sintomas que impactam a qualidade de vida.

Quando a queda hormonal começa a dar sinais

A redução progressiva da testosterona pode contribuir para cansaço persistente, perda de força, diminuição da massa magra e alterações emocionais. Em mulheres, esse processo tende a se intensificar durante a perimenopausa e a menopausa. Em homens, a queda ocorre de forma mais gradual, mas pode ser acelerada por fatores como sedentarismo, estresse crônico, sono ruim e alimentação desequilibrada. Em ambos os casos, o impacto vai além da estética e alcança a saúde global.

Um hormônio-chave na preservação da massa muscular

A testosterona tem papel central na prevenção da sarcopenia, condição caracterizada pela perda de massa e força muscular ao longo do envelhecimento. A preservação dos músculos não é apenas uma questão visual. Ela está diretamente ligada ao controle da glicemia, à proteção das articulações, à autonomia funcional e à redução do risco de quedas e fraturas. Quando esse equilíbrio se perde, aumentam também as chances de doenças metabólicas e limitações físicas no dia a dia.

O corpo como capital e a banalização hormonal

Vivemos um momento em que o corpo passou a ser tratado como capital social. Barriga negativa, músculos definidos, aparência jovem e desempenho elevado são frequentemente associados a sucesso e disciplina. Esse cenário cria terreno fértil para soluções rápidas e atalhos perigosos. A testosterona, nesse contexto, passou a ser vista como promessa de performance, ganho muscular e rejuvenescimento. O problema é que essa lógica ignora critérios médicos básicos e transforma uma ferramenta terapêutica em fonte de risco quando usada sem indicação adequada.

Reposição hormonal não é estratégia estética

É fundamental deixar claro que a reposição de testosterona não deve ser encarada como recurso estético. Ela é terapêutica apenas quando existem sintomas clínicos compatíveis, exames laboratoriais que confirmem níveis reduzidos e uma avaliação médica individualizada. O uso indiscriminado pode gerar efeitos colaterais relevantes, como alterações no colesterol, sobrecarga hepática, acne, queda de cabelo, oscilações de humor e, no caso das mulheres, sinais de virilização. Doses inadequadas também podem desorganizar o equilíbrio de outros hormônios, trazendo prejuízos a médio e longo prazo.

Homens e mulheres sentem os impactos da deficiência

Nas mulheres, a testosterona contribui para a densidade óssea, a força muscular e a cognição. Sua redução pode se manifestar como perda de vitalidade, dificuldade de concentração e diminuição da resistência física. Nos homens, além da queda natural com o envelhecimento, hábitos de vida pouco saudáveis potencializam essa redução e afetam diretamente a disposição, a massa muscular e o bem-estar geral. Em ambos os casos, tratar apenas o número do exame sem olhar o contexto é um erro comum.

Avaliação clínica vem antes de qualquer decisão

Antes de considerar qualquer tipo de reposição hormonal, é essencial investigar a origem dos sintomas. Fadiga, ganho de peso, queda de desempenho físico e alterações de humor não são exclusividade da deficiência de testosterona. Muitas vezes, estão relacionados a questões nutricionais, metabólicas, distúrbios do sono ou outros desequilíbrios hormonais. “Reposição hormonal só faz sentido quando há diagnóstico, sintomas e acompanhamento adequado, fora disso os riscos superam os benefícios”, reforça a Dra. Camila Aramuni.

Estilo de vida influencia diretamente os níveis hormonais

Alimentação equilibrada, sono de qualidade, controle do estresse e prática regular de atividade física têm impacto direto na produção e na ação da testosterona. Exercícios de força estimulam naturalmente a síntese hormonal e ajudam a preservar a massa muscular. A ingestão adequada de proteínas, vitaminas e minerais também desempenha papel importante. Em muitos casos, mudanças consistentes no estilo de vida já promovem melhora significativa dos sintomas, sem necessidade de intervenção medicamentosa.

Quando a reposição é bem indicada

Quando existe indicação clínica real, a reposição de testosterona pode trazer benefícios importantes, como melhora da disposição, aumento da força muscular, preservação da massa óssea e impacto positivo no humor. Ainda assim, não existe protocolo único. A escolha da forma de reposição, da dose e do tempo de uso deve ser personalizada. O acompanhamento médico contínuo é indispensável para ajustes e para o monitoramento de possíveis efeitos adversos.

Informação responsável protege a saúde

A discussão sobre testosterona precisa sair do campo da promessa fácil e entrar no território da informação responsável. Hormônios não são suplementos comuns nem soluções universais. Eles fazem parte de um sistema complexo que exige critério, acompanhamento e respeito aos limites do corpo. Quando bem indicados, podem ser aliados da saúde. Quando banalizados, se transformam em risco. Entender essa diferença é o passo mais importante para decisões conscientes e seguras.

📎 LinkedIn: por Lucas Machado
📎 Instagram: por Lucas Machado

Leia também

Profissional de Comunicação. Head de Marketing da Metalvest. Líder da Agência de Notícias da Abrasel. Ex-atleta profissional de skate. Escreve sobre estilo de vida todos os dias na Itatiaia e na CNN Brasil.

Ouvindo...